terça-feira, 27 de novembro de 2007

Renascido, 2 anos atrás

Hoje é o segundo aniversário de um dos mais incríveis e fantásticos acontecimentos do futebol gremista de todos os tempos: a Batalha dos Aflitos. Afinal, onde já se viu um time vencer uma partida na casa do adversário com sete jogadores e um pênalti contra aos 35 do segundo tempo? Isso depois de já ter escapado de levar um gol de pênalti no primeiro tempo...

Ainda hoje me emociono quando lembro daquele fim de tarde. Se eu acreditasse em milagres, diria que aquilo foi um.

Abaixo, reprodução de um texto em homenagem à data publicado hoje no site do Imortal Tricolor:

Em sua história centenária, o Grêmio disputou e venceu jogos que valeram muito. Mas nunca, antes de 26 de novembro de 2005, havia disputado uma partida que valesse mais do que tudo. A vida do Imortal Tricolor seria decidida a quilômetros de distância de casa. Éramos poucos, e ainda fomos sendo diminuídos, até restarem apenas sete. Anos e anos de glórias na marca do pênalti. Mas quando se veste o manto azul, preto e branco, é possível fazer o impossível. É possível escrever o maior capítulo de superação da história do futebol. Hoje, o Grêmio retoma sua história e segue sua trajetória de conquistas. Mas não esquece do momento em que tudo começou. Ou melhor, recomeçou. A todos os corações tricolores, a nossa homenagem pelos dois anos da Batalha dos Aflitos.

domingo, 25 de novembro de 2007

Na Itália, a História vive

No início da semana, o governo confirmou uma importante descoberta arqueológica realizada em Janeiro deste ano. Sob o Colle Palatino, coração da Roma Imperial e hoje museu a céu aberto que hospeda as ruínas de dezenas de palácios dos Imperadores de outrora, foi descoberta da gruta da Lupercalia. Reza a lenda que este era o local onde os gêmeos Romulo e Remulo foram amamentados pela Loba e, mais tarde, achados pelo pastor Faustolo.

A mítica gruta foi achada embaixo do palácio de Augusto, primeiro imperador de Roma, durante trabalhos de restauração. Foram divulgadas fotografias da gruta, adornada com mosaicos coloridos de mármore e conchas marinhas e tendo ao centro o símbolo imperial de Augusto: uma águia branca. Procura-se, agora, a entrada da caverna, que acredita-se estar localizada na base da colina.

Para dar uma idéia do impacto da descoberta, o anúncio foi feito pelo próprio Francesco Rutelli, Ministro per i beni e le attività culturale. O assunto foi matéria de diversas reportagens televisivas. Coisa de um povo que realmente valoriza sua cultura e história.

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Gmail com 5 Gb

Havia uma época em que a capacidade de armazenamento do Gmail era notícia.

O serviço de email da gigante de buscas Google causou estardalhaço quando foi lançado, com 1 Gb de espaço, funções de busca inovadoras e, o melhor de tudo, gratuitamente, de acordo com uma estratégia de inserção de anúncios relevantes ao conteúdo das mensagens.

Desde então, Yahoo! e Microsoft correram atrás e lançaram novos serviços de email, sempre com capacidades de armazenamento crescentes. Em resposta, a Goolge dobrou o espaço para 2 Gb e prometeu incrementos pequenos, mas constantes. Alguns meses depois, lembro que dispunha de cerca de 2,4 Gb para meu correio eletrônico. Foi quando decidi abandonar os aplicativos de gerenciamento de emails offline e centralizar todas minhas contas no Gmail.

Finalmente, faz algumas semanas que notei que o meu espaço no Gmail aumentou para 5 Gb, mas não vi nada nos noticiários de TI. Pois é, em tempos de Google Mobile (Android) e Google Social (OpenSocial), talvez o espaço do Gmail realmente não seja mais importante.

sábado, 17 de novembro de 2007

O Português no Italiano

Em tempos recentes, duas palavras do português entraram no léxico italiano: favelas e veados.

Isso diz muito sobre a imagem que nosso país tem no exterior, não?

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Falando em saudade...

No último dia 09, foi o aniversário do Alessandro. No próximo dia 08, será o casamento da Giselle e do Filipe.

São datas como essas que me fazem perceber de verdade a distância que me separa dos amigos e da família.

sábado, 10 de novembro de 2007

A (má) educação

Acho que quando se olha de fora fica mais fácil entender a si mesmo. Parte-se de outros padrões de comparação e, talvez mais importante, não se está imerso nas inúmeras facetas prosaicas das problemáticas afrontadas, que por vezes escondem até mesmo a existência dessas problemáticas. Vendo a realidade brasileira a partir da realidade européia, pode-se constatar mais facilmente a falência da mais básica pilastra de qualquer sociedade: a educação. Da educação vem não apenas o arcabouço técnico necessário ao funcionamento cotidiano da sociedade, mas tambem o fundamento de valores éticos sobre o qual se baseia a cidadania e a civilidade. Tanto um quanto o outro, evidentemente, são deficitários em nosso país. Por isso, tomo a liberdade de sugerir a leitura do texto abaixo, publicado no site Veja.com e recentemente encaminhado a uma lista de discussão da qual participo. É apenas um ponto de reflexão, e apenas um dos possíveis pontos de reflexão sobre a questão. Mas, se nao começarmos a refletir, o problema nunca será nem menos abordado.

Preocupe-se. Seu filho é mal educado.

por Gustavo Ioschpe

O Pisa é atualmente o teste internacional de qualidade da educação mais reconhecido globalmente. Ele é aplicado a cada três anos pela OCDE e sua última edição, sobre a qual temos resultados disponíveis, pintou um quadro aterrador para o Brasil. Em primeiro lugar, porque nosso desempenho geral foi baixíssimo. Entre os quarenta países participantes (trinta desenvolvidos e dez em desenvolvimento), ficamos em último lugar em matemática, penúltimo em ciências e 37º na área de leitura. Esse resultado não é de todo surpreendente, já que há anos e em vários outros testes internacionais colhemos resultados parecidos. Há sempre uma tendência do setor mais ilustrado da nossa sociedade de dar de ombros a esses resultados, creditar o fracasso nacional às escolas públicas e imaginar que, colocando o filho em uma boa escola particular, o problema não o afeta. O Pisa demonstra que esse raciocínio não é apenas tacanho, mas também fundamentalmente equivocado – e aí, sim, há uma surpresa digna de nota. O problema não é apenas das escolas públicas, mas da educação como um todo. Não há ilhas de excelência no mar de lodo. Em matemática, por exemplo, apenas 1,2% dos alunos brasileiros chega aos dois níveis mais altos de desempenho, contra uma média de 15% dos estudantes dos países da OCDE, 19% dos de Macau (China) e 7% dos da Rússia. A situação fica ainda mais clara quando fazemos o recorte por nível socioeconômico: o desempenho dos 25% mais ricos do Brasil é menor do que a média dos 25% mais pobres dos países da OCDE. Deixe-me repetir: os alunos da nossa elite têm desempenho educacional pior do que os mais pobres dentre os países desenvolvidos.

A idéia de que a escola particular brasileira é boa e protege seus alunos das deficiências da escola pública é falsa. Nossas escolas particulares são apenas menos ruins do que as públicas – mas, se comparadas às escolas de outros países ou a um nível ideal de qualidade, certamente ficam muito distantes.

Os pais que colocam seus filhos em escolas particulares estão, na realidade, pagando por um diferencial que vem mais deles (pais) do que da escola em si. Estudos recentes do economista Naercio Menezes Filho indicam que 80% da diferença de desempenho entre as escolas públicas e as privadas é explicável pelo status socioeconômico da família do aluno. Outros 10% são explicáveis pelo status dos colegas de ensino. Apenas os 10% restantes são atribuíveis à qualidade da própria escola. Ou seja, de cada 10 pontos de performance superior de um aluno de escola particular, 8 são explicados pelo fato de ele já vir de casa com maior bagagem cultural, ter acesso a livros e viver em um ambiente sem carências materiais agudas; 1 ponto é explicado pelo fato de os colegas dele virem igualmente de ambientes privilegiados – e a literatura empírica é categórica ao apontar os efeitos que os colegas têm sobre o desempenho de um aluno (peer effects) –; e o outro ponto pode ser atribuído à qualidade da escola.

Não é muito difícil entender por que esse quadro é assim. O ator fundamental do processo de ensino é o professor. A boa administração escolar sempre é positiva e surte resultados, mas nem toda a eficiência gerencial do mundo fará com que um mau professor dê uma boa aula. Segundo o Perfil dos Professores Brasileiros, da Unesco, 81% dos atuais professores cursaram seu ensino fundamental em escolas públicas e quase 70% fizeram o curso secundário em escolas públicas. Se esse professor é formado em instituições de ensino claudicantes, ele tenderá a ser também um professor despreparado, por mais rica e organizada que seja a escola em que leciona. Não é possível para a nossa elite criar uma blindagem para se proteger das mazelas do setor público. Não apenas porque a escola pública formará a mão-de-obra dessa elite dirigente, mas também porque formará os professores dos seus filhos. Em todos os países do mundo, educação é um projeto público e nacional. Ou todos vão bem, ou o país vai mal.

Isso não significa dizer, obviamente, que a escola particular não tenha razão de existir ou, pior, que deva ser proibida. Em uma sociedade livre, cada família deve ter o direito de dar aos seus filhos a educação que merece – inclusive uma educação que, medida por testes padronizados, seja de qualidade igual ou inferior à da escola gratuita. No caso de um país com as carências educacionais que temos, mesmo que a diferença pró-particulares seja pequena, nenhum pingo de excelência pode ser sacrificado.

O que esses dados sugerem é que esse modelo de ensino chegou ao seu esgotamento. Seus problemas são em larga medida resultantes de uma mesma mentalidade que permeia nossa vida nacional e causa dificuldades por onde passa. Por muito tempo, os que tiveram a responsabilidade de pensar o país pensaram antes de tudo em si mesmos. Assim, criamos um sistema educacional em que a qualidade do ensino ministrado aos mais pobres não importa e o objetivo do ensino destinado aos ricos é ser tão-somente melhor do que o destinado aos pobres. Enquanto éramos uma sociedade autárquica e agroexportadora, essa miopia não tinha conseqüências maiores. Não é preciso Ph.D. para plantar café e não é preciso preocupar-se com a indústria chinesa em tempos de reserva de mercado. O problema é que nas últimas décadas o mundo mudou e o Brasil quer participar desse mundo novo – sem, porém, mudar a si mesmo. No momento em que o mercado passa a ser global e não nacional ou estadual e em que a competitividade das nações se dá pela produção de bens e serviços de alto valor agregado, o modelo educacional brasileiro já não dá mais conta do recado. Precisamos colocar mais gente nas escolas e especialmente em nossas universidades, e a saída para isso é apenas uma: a melhoria da qualidade do ensino que nossas crianças recebem. Mau ensino hoje é igual a evasão amanhã.

A conclusão é lógica: mesmo quem coloca os filhos em escolas particulares deve se preocupar com a qualidade da educação pública. E com urgência. Não apenas por espírito cívico, mas por amor-próprio também. Atualmente, 13% dos alunos do ensino básico estão em escolas privadas e os outros 87% estudam em instituições públicas. O único encontro entre esses dois grupos que gera alguma mobilização do setor mais avantajado é quando os ex-alunos da escola pública entram na escola do crime e cutucam as janelas dos carros dos ricos com os seus revólveres. Aí, já é tarde demais. No Brasil de 2007, voltar nossa atenção para o que acontece na 1ª série do ensino fundamental das escolas de periferia virou questão de sobrevivência – coletiva e individual, figurada e literal.

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Os stranieri na Itália: números e fatos

A imigração é uma das questões mais discutidas atualmente pela opinião pública italiana. Sempre que um straniero comete um crime, o assunto vem à baila. E, usualmente, as notícias vêm carregadas de tons políticos - quando não, dependendo do canal ou do jornal, transbordando preconceito xenófobo e racismo.

Por isso, foi com surpresa que li uma reportagem de página inteira no Il Messagero, tradicional jornal romano. A matéria tratava, muito objetivamente, dos números relativos aos stranieri divulgados em um relatório da Caritas no último dia 30. A seguir, reproduzo alguns dos dados mais relevantes, na esperança de contextualizar o universo dos imigrantes - legais e ilegais - na Itália.

O total de estrangeiros legalizados no início de 2007 foi estimado em 3,69 milhões (praticamente 7% da população de 59,2 milhões), um aumento de 21,6%, ou 700 mil pessoas, em relação ao ano anterior. O número de ilegais é desconhecido; a única referência do relatório é o número de irregulares interceptados: pouco menos de 125 mil.

E de onde eles vêm? Ao contrário das levas migratórias para a França e Alemanha, compostas principalmente por imigrantes do norte da África e da Turquia/Itália, respectivamente, a imigração italiana é uma imigração multinacional, que fala mais de 150 línguas. Dos 3,69 milhões de estrangeiros regulares, cerca da metade é oriunda de outros países europeus, 22% da África, 18% da Ásia e apenas 10% da América. De fato, os países que mais enviaram imigrantes para a Itália até hoje são a Romênia (15,1%), o Marrocos (10,9%) e a Albânia (10,9%). De toda forma, chineses, africanos, sul-americanos e zingari romenos são os que mais chamam a atenção nas ruas, pois são eles os vendedores de rua, os pedintes, os flanelinhas.

Tomados em conjuntos, estes números apontam para um fato notável: a imigração para a Itália é uma das mais intensas em toda a Europa. Apenas a Espanha concorre em número absoluto de entrantes; a título de comparação, a Alemanha absorve apenas 50 mil imigrantes legalizados ao ano. As causas e conseqüências dessa situação fornecem combustível suficiente para abastecer a fogueira sinistra versus destra por horas e horas de debate.

Isso porque, na concepção simplista de grande parte dos italianos, construída com bombardeamento intenso de notícias da MediaSet e afins, os stranieri estão ligados ao crime e à crescente sensação de insegurança. Felizmente, os números do relatório ajudam a entender a situação de modo objetivo. Por um lado, 25% de todas as denúncias criminais são contra estrangeiros, que representam cerca de 33% da população carcerária. Os estrangeiros, de fato, são protagonistas principais de determinados tipos de crime, como prostituição, exploração da prostituição, extorsão, contrabando e receptação. É a chamada micro-criminalità, um conjunto de pequenos crimes que, se não tão sérios do ponto de vista de violência como assassinatos, seqüestros ou assaltos à mão armada, são pervasivos e extremamente visíveis. Por outro lado, quando considerados apenas estrangeiros regulares, a taxa de denúncias criminais cai a 6%, perfeitamente adequada à participação dos regulares na população total. Mas isso não faz notícia, não encontra eco na insatisfação da população. Infelizmente, o preconceito se baseia em simplificações e generalizações.

Mas, se não para roubar ou matar, o que esses estrangeiros vêm fazer na Itália? Trabalhar, aparantemente. De fato, mais da metade declara o trabalho como motivo da estadia (56,6%), enquanto 35,6% vem por motivos de família e apenas 2,9% para estudar. Residem nas zonas mais desenvolvidas da Itália, onde é mais fácil encontrar emprego: 36% no Norte, 27,% no Nordeste e 25% no Centro; no Sul e nas Ilhas são apenas 13%. E contribuem com 6% do PIB, pagando €1,87 bilhão de impostos anualmente. Ou seja, trabalham mesmo: sua taxa de ocupação é de 74%, 12 pontos percentuais superior àquela dos italianos. Muitas vezes, trabalham em ocupações simples, que os italianos não querem mais, como badante, muratore, trabalhador rural e pequeno vendedor. São empregos que pagam pouco, mas pagam mais do que nos países de origem. Mas constituem, sobretudo, uma força motriz de suma importância para a Itália, que até pouco tempo avançava a passos largos para a decrepitude com seus baixos índices de natalidade e sua população envelhecida. E isso, quem diz, é o próprio Presidente da República, Giorgio Napolitano: "L'Italia senza immigrati si blocca".