sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Freedom is a blessing

O que é melhor: a última sexta-feira antes das férias ou a primeira segunda-feira das férias??

E que tal a primeira sexta-feira das férias, como hoje?

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Twitter, RSS... essas tecnologias de hoje em dia

Fiz uma conta no Twitter.

Na verdade, ainda não sei bem porquê. Curiosidade, certamente. Já li tanto sobre ele, sobre a tal suposta nova forma de comunicar e interagir "one-to-many", que precisava ver a coisa funcionando, sujar as mãos, experimentar.

E estou experimentando.

Mas ainda não sei se fui fisgado.

Achei em outro lugar as palavras certas para explicar meu dilema:
If your job involves you reaching out to folk every minute of the day, good. If your job enables you to sit and ’stream’ in a state of continuous partial attention — without doing anything, great.

But if you actually have to do something, then the challenge with managing your Twitter interactions is rather large.

[a lot of snipping ...]

My time and attention comes at a massive premium to me. Everyone’s time and attention is. Every moment spent flicking over to read drivel is another moment I don’t get to sit and relax. Or write a blog post. Or reply to an email.

So I’m in a bit a quandary. It ain’t working for me, this Twitter thing.

A propósito, li o post citado através do Google Reader. Ao contrário do Twitter, RSS me parece uma coisa muito, mas muito interessante! Taí algo que realmente está mudando meus hábitos online.

A propósito x2, meu... nick (?)... account (?)... profile (?)... no Twitter é Cortimiglia.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Outras saudades

Ontem, Domingo, dia lindo, saí para uma caminhada. Era por volta do meio-dia. Senti saudade do cheiro de churrasco...

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Cavalo paraguaio?

A ignorância não é um defeito crônico, ela pode ser corrigida.

Digo isso porque, depois que o Grêmio perdeu para o Vitória e praticamente deu adeus às pretensões de ser campeão brasileiro em 2008, li muitos comentários de colorados em meio às notícias do ClicRBS dizendo que o Grêmio era um "cavalo paraguaio".

Ora, dizer que o Grêmio tem uma equipe fraca, que inclusive era desacreditada pelos próprios torcedores antes do início do campeonato, tudo bem. Porém "cavalo paraguaio" é atestado de ignorância, que neste caso chega a ser ignorância coletiva. Cavalo paraguaio, no turfe, é uma expressão que se usa quando um cavalo azarão toma a ponta de um páreo na largada, para ser logo ultrapassado pelos concorrentes mais fortes. É possível dizer que um time que liderou o campeonato durante 17 rodadas e que ainda disputa o título na última rodada é um equivalente a "cavalo paraguaio"? Acho que só com muita ignorância. Mas ela pode ser corrigida, basta ter um pouco mais de bom senso e um pouco menos de fanatismo. Afinal, o fanatismo obscurece a razão.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Dindo!

Sou dindo!!! A Vitória nasceu hoje, às 00:07, em Porto Alegre. Pequenina, mas bella e brava. Não vejo a hora de conhecer minha afilhada...

São em momentos como esse que a distância se faz realmente presente.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

É, faz frio mesmo...

Essa semana, a Daniela escreveu sobre o frio. Um texto lindo, poético como só ela sabe escrever. O Outono já cansou de dar seus ares de chuva e o Sr. Inverno se aproxima, impiedoso, a passos largos.

Pra falar a verdade, eu só notei que as temperaturas estavam caindo no final de semana passado. Acho que tenho uma boa resistência ao frio. Me dei conta disso no sábado passado, quando saímos para passear por Novara com nossa hóspede do barulho. Saimos no final da tarde, ainda com um solzinho tímido. Eu, que não costumo olhar a previsão metereológica durante o final de semana, vesti apenas um blusãozinho de malha e um blazer leve.

Passeio vai, passeio vem, quando eram 19h, "noite funda", encontramos um amigo russo, o Serguei. Ele vem de Yekaterinburg, no meio dos montes Urais. Lá faz frio, muito frio: o inverno dura cinco meses, com temperaturas de até 45ºC negativos. No verão, esquenta até os 18ºC.

Pois bem. Só percebi que fazia frio aqui em Novara quando o Serguei, debaixo do cappotto, gorro, luva e cachecol, olhou para meu blusãozinho e perguntou: "ma... non hai freddo?"

Sinceramente, só comecei a sentir frio depois. Psicológico, talvez. Afinal, se ele, que vem daquele inferno gelado, tá achando frio, é porque deve estar mesmo!

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

O novo ocupante da Casa Branca

Semana cheia, com a eleição norte-americana. Pode-se reclamar de muita coisa dos EUA: sua cultura, mentalidade, visão de mundo, etc. Mas não se pode negar que eles são a democracia mais saudável do mundo. A eleição de um afro-americano, filho de um imigrante queniano e mãe branca que subiu na vida graças ao estudo e à dedicação ao intelectual, é testemunho disso.

De fato, o significado do acontecimento é imensa, após 150 anos de herança mal-resolvida da escravidão:
Barack Hussein Obama was elected the 44th president of the United States on Tuesday, sweeping away the last racial barrier in American politics with ease as the country chose him as its first black chief executive.
Um outro elemento incrível da eleição de Osama tem a ver como a forma como a campanha foi conduzida. Foi um verdadeiro fenômeno Web, incrivelmente mais significativo do que em 2004. A Web foi um importantíssima mídia não apenas para divulgação e organização dos esforços da campanha, mas também um valioso canal de arrecadação de fundos.

E me surpreendeu também a reação do mundo à eleição norteamericana. A esperança de que se possa novamente dialogar com os EUA parece dominar a opinião pública em muitos países, como conta esta reportagem do The New York Times.

É claro que o Berlusconi tinha que dar um jeito de pegar carona no fenômeno para aparecer. Pena que tenha escolhido uma maneira... digamos... pouco recomendável de fazer isso. Em Moscou, num encontro com o presidente russo Medvedev, declarou que "Obama é jovem, belo e 'bronzeado'" (em vídeo). Uma vulgaridade racista impressionante típica do velho Berlusca, que onde vai encontra uma maneira de fare figura di merda all'Italia.

sábado, 1 de novembro de 2008

Mais mistérios...

Acabou o Outubro maluco, mas as maluquices não.

Eis o que saiu da nossa máquina de lavar louça.

Tem explicação? Dois copos "serrados" de maneira idêntica. E apenas copos de um mesmo modelo, quando haviam vários outros copos de um modelo muito parecido, mas um pouco maior, que não foram afetados.

Vai ver que foi uma brincadeira de Halloween. Eu, hein...

terça-feira, 28 de outubro de 2008

E lá vamos nós para a recessão

Quando se segue pelo caminho errado por algum tempo, geralmente a correção envolve uma guinada forte e decidida para o outro lado.

É a tendência natural, embora possa não ser a melhor solução em muitos casos. Ainda mais quando a estrada é estreita. Quais os riscos envolvidos? Como evitar os problemas de exagerar na correção?

É mais ou menos isso que se pergunta Thomas Friedman, editorialista do NYT, a respeito das possíveis conseqüências da intervenção do governo norteamericano nos bancos.
    There is a fine line between risk-taking and recklessness. Risk-taking drives innovation; recklessness drives over a cliff. In recent years, we had way too much of the latter. We are paying a huge price for that, and we need a correction. But how do we do that without becoming so risk-averse that start-ups and emerging economies can’t get capital because banks with the government as a shareholder become exceedingly cautious.


Pessoalmente, acredito que o caminho do meio seja sempre a melhor solução. De verdade. E não só racionalmente; tenho instinto conciliador, talvez até um pouco conservador. Tenho um pé atrás com guinadas bruscas, prefiro pequenas e constantes (mas efetivas) correções de curso. Me faz sentir seguro o suficiente durante a mudança.

Mas... mesmo assim... geralmente não consigo evitar de virar totalmente o curso quando me vejo perdido na estrada errada. É a solução mais natural, como eu disse antes.

E acho que o mercado - esse ser invisível, mau e cruel, que derruba impunemente as bolsas, faz falir bancos e desvaloriza moedas - também age assim. Assim, adeus ao crédito sujo e, junto com ele, adeus aos investimentos, à inovação e ao crescimento dos mercados emergentes.

E lá vamos nós para a recessão.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Mistérios e Lições

Quando conheci o Lukasz, em Janeiro de 2007, ele dizia que não conseguia imaginar como seria estar casado, ter compromissos, responsabilidades, encarar a vida com responsabilidade. Simplesmente não se via nesse papel. Também, para um estudante de doutorado com 25 anos, com uma vida segura em termos financeiros e com excelentes possibilidades de carreira, não me surpreendia que ele pensasse assim. Ele dizia que tudo era analisável, planejável, controlável.

Abaixo, uma foto dele com o Mateusz, que veio ao mundo no último 24 de Outubro.


Planejamento falho? Talvez. Mas certamente uma lição. Uma bela e saudável lição em formato de bebê.

É, a vida tem seus mistérios.

domingo, 26 de outubro de 2008

Tudo sempre passará

Domingo de noite, e me sinto vazio. Um vazio triste, essa completa incompleteza de ser, essa impossibilidade de compreender o que não se pode saber.

Lá fora, uma foschia branca cobre Novara. Não faz frio, porém. Outono.

Balanço a cabeça, sorrio sem jeito e seguro uma florzinha amarela. Às vezes, faz falta a fé. Uma qualquer fé.

Mas amanhã é segunda, e tudo começa de novo. Afinal, tudo passa, tudo sempre passará.

The Island of Research

Não sei bem onde estou, talvez em algum lugar próximo do Mount Where-are-we-going? e me aproximando da Data Analysis Jungle...

sábado, 4 de outubro de 2008

Resumo do verão - Scuola Estiva a Bressanone

Antes de mais nada, parabéns pai!!!

Eu prometi relatar a scuola estiva de Bressanone para o dia seguinte no último post. Passou mais tempo, sim, mas finalmente consegui as fotos para escrever o post.

Tutto sommato, foi um evento positivo. Cinco dias entre amigos, um tópico mais interessante (Inovação, tudo gira em torno de Inovação por aqui) e excelente, deliciosa e abundante comida (mnham mnham, canederli, speck, strudel, grigliata di agnelo e cervo, mnham...).

Desta vez, ficamos em um hotel mais afastado, eu, a família Copani e Stefano. Fez imensa falta a simpática Miss Bressanone, e por isso nem organizamos a eleição esse ano. Porém, a companhia feminina foi constituída pela Valentina, que junto com o piccolo Niccoloò, acompanhou o Giacomo durante a semaninha de férias.

Taí eu e o menino.


Abaixo, nós na janta social, depois de alguns vinhos.

Mal posso esperar por Bressanone 2009!

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Resumo do verão - Summer School em Leuven e férias na Bélgica

Acabou o verão, acabaram as férias. Mas o blog, apesar da longa ausência, *não* acabou!

O saldo do verão contabiliza duas Summer Schools, uma em Leuven (Bélgica) e outra em Bressanone, no Alto Adige. Ambas sobre o assunto quente de pesquisa: Inovação e suas várias facetas.

Leuven é uma tradicional cidade universítária da região flamenca belga, próxima a Bruxelas. Tem cerca de 90.000 habitantes (pouco menos de Novara), cerca de 10% dos quais são estrangeiros, a imensa maioria inscrita na Katholieke Universiteit Leuven, a Universidade local - um dos pilares econômicos da cidade desde sua fundação, no século XV. A Summer School em Leuven foi ótima. Por ser eminentemente internacional, praticamente nenhum dos 25 participantes se conhecia a priori. Por isso, a integração social foi realmente excelente. Posso dizer que fiz diversas amizades por lá.

Abaixo, eu e Mr. Peter Dorrington, pai do Ayden e pesquisador na Cardiff Business School, brindando com uma deliciosa Leffe Brune. Não sou um grande fã de cerveja, mas estando na Bélgica não se pode ir contra a corrente.


Aqui, sou eu com meu amigo/guia/beer-consultor belga Sven De Cleyn e Mariangela, uma simpática italiana da Puglia (no fim das contas, acho que é verdade o senso comum de que os italianos do Sul tendem a ser mais simpáticos e abertos do que os do Norte!).


Não podia faltar a foto no bar. Uma mesa multi-cultural e multi-étnica: Eslováquia, Ucrânia, Paquistão, Alemanha, Rússia, China, Brasil, Inglaterra, Finlândia e Itália!


Depois da Summer School, Daniela e eu nos aventuramos pela Bélgica. Visitamos Dinant (valeu pela dica, Amaral!!!), Namur, Bruxelas, Antuérpia e Bruges (com direito a vídeo da praça central).

Amanhã escrevo sobre Bressanone.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Férias

Bem, férias são férias. Ou seja, época de descansar. E isso geralmente implica em não fazer muita coisa. No meu caso, nada.

Nem atualizar o blog.

Mas apesar dessa aparente marasmo, tem sido uma época bem proveitosa e agitada. No final de Julho, recebemos o Sr. Saramago e a Istefi. Foram dias muito agradáveis, uma convivência familiar que trouxe recordações afetuosas e acordou a nostalgia. Acompanhando a Istefi, finalmente Daniela e eu voltamos a Veneza, com direito a passeio de gôndola, visita ao Palazzo Ducale e à Torre do Relógio. Na ida, conhecemos a bela Verona de Romeo e Giulietta. Na volta, conhecemos a bela Padova de Sant'Antonnio.

Nessa semana de ferragosto, o marasmo se intensificou. E a danada da TV foi estragar justamente agora, quando estão todos de férias. Mas já a partir da semana que vem as coisas devem se agitar um pouco. Dia 21 parto para Bruxelas, para uma Summer School de 10 dias. Depois, um pouco de turismo na Bélgica antes do retorno à normalidade.

E por falar em normalidade, não poderia faltar um rápido comentário sobre o futebol brasileiro. O Grêmio de refugos parece ter engrenado. Resta a torcida para o segundo turno.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Overdose de Lagos

Semana corrida, essa que passou.

Na quinta, dia 17, aniversário da Nana no Brasil. Por aqui, teve o Outdoor estivo dos Osservatori. Fomos a Cassone, em Malcesine, um paesino na margem oriental do Lago di Garda, o maior dos lagos alpinos italianos. Nublado e ventoso, o dia não estava bom para banho, mas para o que fomos fazer estava perfeito: velejar. Fiquei tonto! Sabem como é a terminologia náutica? Pois bem, imaginem tudo aquilo em outra língua! Fui bombardeado com cerca de 80 a 100 novas palavras, palavras essas beeem diferentes do que estou acostumado. Afinal, na vela, tudo tem um nome diferente. Por exemplo, a bordo uma corda não é simplesmente uma corda. Cada corda tem um nome de acordo com sua função: um nome para cordas que erguem coisas, outro nome para cordas que puxam coisas, outro nome para cordas que amarram coisas, e por aí vai... Consegui fixar pouca coisa. Cazza la randa e cazza il fiocco, foi o que mais ouvi, mas em algum lugar da minha mente ficaram os termos orzare e poggiare. No fim do dia, minhas mãos ficaram destruídas de tanto içar velas.

Na sexta, a convite de nosso amigo marroquino Nabil, fomos conhecer outro lago: o Lago d'Orta. A viagem de trem é bem curta, e o cenário magnífico. O Nabil mora em Orta desde 2000, e foi um excelente guia. A casa dele fica bem na beira do lago, uma vista fantástica da sacada. E de noite, o Maestro Paolo se juntou a nós para uma janta.

No sábado, recebemos a Tal e o Alberto, juntamente com os "agregados" Gianni, Stefano e Mela, para uma janta aqui em casa. Muito agradável, tanto a comida - interminável -, quanto o vinho e a diversão do convívio com os amigos.

Pra terminar, um típico domingo de descanso, que depois de tantos programas, ninguém é de ferro!

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Sobre o que não falei nos últimos tempos

Pois é, faz tempo que não atualizo o blog. Não é preguiça, nem falta de tempo. É bloqueio mesmo. Não saber o que escrever, o que dizer. O que a primeira vista soa estranho, porque tem tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo. Talvez seja porque mesmo essas novidades não parecem mais novidades, imersas na relativa rotina que estabelecemos na nossa vida italiana.

Não escrevi nada sobre a visita, em fins de Maio, ao monastério onde está exposta a Última Ceia, de Leonardo, um dos ícones da arte de todos os tempos. Não falei do mar azul e calmo de Portofino e Santa Margherita Ligure, domingo passado. Não falei da ruptura brusca entre Berlusconi e oposição sobre as leis de segurança que a Lega Nord está aprovando à força de maioria. Leis essas que, no melhor estilo "política para fins pessoais", entre outras coisas bloqueia os processos já em andamento contra o Presidente do Conselho e lhe torna imune a novos processos.

Não falei sobre Terra Nostra dublada, a novela da Globo que a Rai3 está passando nessas tardes modorrentas de verão. Não relatei a indignação dos italianos com os preços absurdos do iPhone 3G, que começa a ser vendido hoje por aqui através de TIM e Vodafone. Não mencionei que a pesquisa do doutorado ganhou força nas últimas semanas, e que me inscrevi em duas Summer Schools, a acontecerem em Agosto e Setembro.

Não falei de nada disso, mas tudo isso aconteceu. Ou seja, a vida por aqui não para, mesmo que o blog indique o contrário.

domingo, 22 de junho de 2008

Domingo esportivo italiano

Grande corrida, Massa. Os italianos estão em festa, com a Ferrari nas duas primeiras posições do pódio e Trulli no terceiro posto.

Aliás, a Fórumula 1 é interpretada de maneira muito diferente aqui na Itália em comparação ao Brasil. Não sei explicar com certeza, mas o acompanhamento da imprensa parece ser mais... profissional. A transmissão televisiva é super completa: além do narrador (muito melhor que o Galvão!), o comentarista é um grande ex-piloto, Ivan Capelli, e um ex-engenheiro da Ferrari complementa com comentários técnicos.

Agora resta esperar que a Azzurra bata a Espanha hoje de noite para completar a festa tricolor. Espanha que, depois da eliminação de Portugal, é a minha favorita ao título, embora esteja torcendo, claro, pela Itália.

Calor...

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Verão e Europeu

Já acabou o ano escolar, o calor do verão está chegando, a TV entrou em regime de reprise. Clima de férias na Itália, mas ainda se trabalha. Mais ou menos como dezembro no Brasil, mas sem as festas de fim de ano para abreviar o mês.


Em meio a isso, um divertido campeonato europeu de seleções, com duas partidas por dia, às 18h e 20:30h. Assisti um bocado delas e, ao fim da primeira rodada, aponto Espanha e Portugal como favoritas. A Espanha goleou a Russia na estréia, 4 x 1, com atuação de luxo. Em Março, eu tinha visto a Espanha bater a Itália, e já me parecia uma seleção com ar de vencedora. Portugal venceu ontem sua segunda partida, um 3x1 relativamente fácil contra a República Tcheca, o segundo time mais qualificado da chave. Já são dois gols no torneio do novo fenômeno Ronaldo, o português. E eles têm Felipão no banco.

E a Itália, tadinha, apontada como favorita das favoritas, tomou 3 de uma Holanda desacreditada pela imprensa na estréia. Sexta tem jogo contra a Romênia, e se vencer vai pra decisão contra a França na terceira rodada. Não levo muita fé. Mas, também, não levava muita fé na Itália em 2006 e vimos o que ela fez...

terça-feira, 3 de junho de 2008

Imigração clandestina na Itália

Enquanto escrevo, escuto um debate no excelente programa Ballarò (como sempre, na RAI3). Se debate, evidentemente, sobre imigração. Em especial, modos para conter a imigração. Um desenho de lei sobre segurança foi encaminhado ao parlamento hoje por parte do novo Ministro dell'Interno, um leguista. O foco, claro, são os imigrantes, associados, na percepção geral, à insegurança.

Em um ponto todos parecem concordar, independentemente das suas convicções ideológicas: o imigrante que comete um crime deve ser punido. Bom, pra isso nem precisava debater, eu acho.

A partir daí, tudo fica complicado. Os leguistas são conhecidos por pregar, há mais de uma década, que a Itália deve ser dos italianos. Mais do que isso, eles defendem um territorialismo quase separatista ao Norte, venerando a antiga - quase mítica - Padania. Vale lembrar que a Lega Nord, apesar dos excessos, foi o partido que mais cresceu nas últimas eleições, contrariando expectativas e prognósticos de todos os analistas políticos. É, hoje, o fator decisivo na maggioranza de Berlusconi. E, por isso, foi bem recompensada, com 4 ministérios.

Por falar em Berlusconi, nem ele se entende com o seu governo sobre o tal projeto de lei. Segundo Roberto Maroni, o Ministro dell'Interno, a imigração ilegal deve ser um crime - e punida como tal. E foi isso o que acabou no projeto de lei que o Conselho dos Ministros aprovou recentemente para avaliação dos deputados e senadores.

Aparentemente. Berlusconi, porém, declarou hoje que não deve ser bem assim. Na opinião pessoal dele, imigração ilegal deve ser não um crime, mas um agravante.

Porque esse passo atrás do psiconano*? Bem, talvez porque a ONU não gostou muito da abordagem italiana. Nem a Anistia Internacional. Nem o Vaticano. Nem o presidente Georgio Napoletano (lembrando que, na Itália, o Presidente é uma figura decorativa para
cerimônias oficiais, mais ou menos como a Rainha da Inglaterra... mas aqui eles de fato escutam - e respeitam - o que a mobília tem a dizer). E muito menos a oposição, tanto de centro quanto de esquerda.

Ou seja, parece que ele não quer gerar muita agitação interna. Mais, parece que Berlusca vai tentar, nesse terceiro (ou quarto?) governo, ser mais "democrático". E aceitar a posição da esquerda nessa questão, afinal de contas, não é tão impopular, certo? É um gênio político, esse Berlusconi!

Resta saber se Bossi e seus leguistas pensam da mesma maneira...

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Reds and Blues

Sem gre-nal pelo Campeonato Gaúcho ou pela Copa do Brasil, me restou assistir a azuis x vermelhos na final da Champions. Nos pênaltis, depois de 1 x 1 no tempo normal e uma prorrogação sem gols, os vermelhos do Manchester ganharam dos azuis do Chelsea.

Belíssima partida. O Manchester patrolou no primeiro tempo, fazendo um a zero com um novo fenômeno Ronaldo, o português Cristiano. Mas o Chelsea acordou faltando cinco minutos para o final do primeiro tempo e achou um gol ainda antes do intervalo com Lampard pegando uma bola duplamente rebatida na defesa dos Reds. E o Chelsea voltou melhor do vestiário, muito melhor. Dominou o segundo tempo inteiro, mandando bola na trave e tudo o mais. No final, os dois times cansados mal aguentaram de pé a prorrogação. Nos últimos segundos entraram Belletti e o ex-gremista Anderson só para bater os pênaltis.

Emoção também nas cobranças. Por pouco não venceu o Chelsea. Cristiano Ronaldo bateu para a defesa do excelente goleiro Cech, mas o capitão Terry escorregou a mandou a cobrança do título na trave. Na seqüência, Anelka mandou nas mãos de Van der Sar, abrindo as comemorações do tri da Europa dos Reds.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

I Bambini Fanno Ooh..., Giuseppe Povia

Quando i bambini fanno "oh" c'è un topolino
Mentre i bambini fanno "oh" c'è un cagnolino
Se c'è una cosa che ora so'
ma che mai più io rivedrò
è un lupo nero che da un bacino (smack)
a un agnellino

tutti i bambini fanno "oh"
dammi la mano
perchè mi lasci solo,
sai che da soli non si può,
senza qualcuno,
nessuno
può diventare un uomo

Per una bambola o un robot bot bot
magari litigano un po'
ma col ditino ad alta voce,
almeno loro (eh)
fanno la pace

Così ogni cosa è nuova
è una sorpresa
e proprio quando piove
i bambini fanno "oh"
guarda la pioggia

Quando i bambini fanno "oh"
che meraviglia, che meraviglia!
ma che scemo vedi però, però
che mi vergogno un po'
perchè non so più fare "oh"
e fare tutto come mi piglia,
perchè i bambini non hanno peli
ne sulla pancia
ne sulla lingua

i bambini sono molto indiscreti
ma hanno tanti segreti
come i poeti
nei bambini vola la fantasia e anche qualche bugia
oh mamma mia, bada!
ma ogni cosa è chiara e trasparente
che quando un grande piange
i bambini fanno "oh"
ti sei fatto la bua
è colpa tua

Quando i bambini fanno "oh"
che meraviglia, che meraviglia!
ma che scemo vedi però,però
che mi vergogno un po'
perchè non so più fare "oh"
non so più andare sull'altalena
di un fil di lana non so più fare una collana

....nananananananananana....

finchè i cretini fanno(eh)
finchè i cretini fanno(ah)
finchè i cretini fanno "boom"
tutto il resto è uguale
ma se i bambini fanno "oh"
basta la vocale
io mi vergogno un po'
ivece i grandi fanno "no"
io chiedo asilo
io chiedo asilo
come i leoni
io voglio andare
a gattoni...

e ognuno è perfetto
uguale è il colore
evviva i pazzi che hanno capito cos'è l'amore
è tutto un fumetto di strane parole
che io non ho letto
voglio tornare a fare "oh"
voglio tornare a fare "oh"
perchè i bambini non hanno peli ne sulla pancia
ne sulla lingua...

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Viajando com a Mônica

Esses dias todos longe do blog tem uma única culpada: a Mônica.

Desde que ela chegou, dia 4, não tivemos um minuto de folga. Logo no Domingo, fizemos um belo almoço e nos mandamos para Torino, visitar as múmias no Museo Egizio. Incrível estar frente a frente com um cadáver de 6000 anos de idade...

Na segunda, mandamos a Mônica sozinha para o Lago Maggiore. E não é que ela conseguiu chegar na Isola Bella e voltar? Espantosa a capacidade da moça de sobreviver nessa terra confusa e estranha que é a Itália.

Na terça, visita a Milano. De noite, ópera no La Scala: 1984, uma adaptação da obra de George Orwell por Lorin Maazel. Coisa chique...

Na quarta, partimos para uma mini-viagem de 5 dias na Toscana. Em Firenze, um banho de cultura e arte. Escapamos por pouco - muito pouco - de sofrer da Síndrome de Stendhal... A arte aflora de cada prédio, de cada pedra, de cada igreja, de cada jardim, de cada museu, de cada ponte sobre o Arno. Virar um corredor na Galleria dell'Accademia e dar de cara com aquele imponente Davide, ou se perder em meio aos inúmeros Raffaellos na Galleria degli Uffizi, é inebriante mesmo para quem não é um grande conhecedor de arte, como eu.

No sábado, fomos ainda a Pisa e Siena. Em Pisa, testemunhamos que a Torre é realmente torta. Muito torta. Assustadoramente torta até. E sim, tiramos as clássicas fotos "segurando" a Torre... Em Siena, caminhamos pelas ruas em estilo medieval e fizemos a visita obrigatória alla Piazza del Campo e ao Duomo.

Domingo, enquanto Daniela e eu voltávamos a Novara, Mônica foi para Roma, conhecer o centro do mundo. Mas até hoje, não tivemos um minuto de folga, botando o trabalho e as aulas em dia. Amanhã ela retorna de Roma, e nós voltamos à louca rotina de guias de turismo para nossa amiga!

sábado, 3 de maio de 2008

A crise da esquerda não tem fim

Como se não bastasse a derrota nas eleições gerais, semana passada o PD perdeu o segundo turno na eleição para prefeito de Roma. Gianni Alemanno, candidato do PdL, foi eleito novo sindaco com 783.225 votos, batendo o ex-prefeito e ex-ministro da Cultura Franceso Rutelli.

A derrota foi significativa: a centro-sinistra governava a capital italiana com Veltroni, eleito há dois anos com 61% dos votos. O mesmo Veltroni que deixou o cargo para liderar o novo Partido Democratico, candidatar-se e perder para Berlusconi quinze dias atrás.

Alemanno venceu porque, acima de tudo, valorizou a temática do medo com a falta de segurança na capital italiana. Temática que veio ao centro da mídia quando uma ragazza estrangeira foi violentada por um romeno na semana antecedente à votação na periferia de Roma. A coligação de destra de Alemanno, especialmente seu partido Alianza Nazionale, descendente dos fascistas de Mussolini, promete o cumprimento rigoroso das regras de expulsão de estrangeiros que cometam delitos na Itália. Era tudo o que os romanos queriam ouvir.

sexta-feira, 2 de maio de 2008

1º de Maio no Lago

Feriado de Primeiro de Maio é coisa séria aqui na Itália. Ou, pelo menos, faz-se de tudo para que tenhamos essa impressão. Eventos, shows, comícios, manifestações e cerimônias organizadas por partidos, sindicatos, governo, direita, esquerda, centro, povo e tudo o mais.

Mas também é dia de descanso e passeio, ainda mais com o lindo dia de Primavera que fez. Aproveitamos e fomos ao Lago Maggiore com a Scuola di Italiano. Eu não sabia praticamente nada sobre o Lago antes de ontem. Trata-se de um lago de origem glacial, o segundo maior da Itália, localizado na fronteira com a Suíça, entre as províncias de Novara, Varese e Verbano.

Chegamos em Stresa, pequena cidade na margem ocidental do Lago, e pegamos um barco para a Isola Bella. E che bella questa isola! De todos os lugares que já visitei na Itália, está entre os mais bonitos. De fato, teria dito Charles Dickens:

Per quanto fantastica e meravigliosa possa essere ed è l'Isola Bella, è tuttavia bellissima.

A ilhota é praticamente toda ocupada pelo Palazzo Borromeo, uma construção histórica do século XVII que servia como morada da influente família nobre milanesa. O palácio em si é impressionante, tendo até mesmo hospedado Napoleão e sua esposa Josefina. Especial destaque para le grotte, as salas do andar inferior, próximas ao nível da água, cujas paredes são recobertas de pedras do lago e conchas.


Porém, a verdadeira jóia da Isola Bella é o jardim do palácio. Uma magnífica mistura de flores e plantas de todos os tipos em estilo barroco dito all'italiana, ou seja, construído como uma série de degraus ou terraços e adornado com dezenas de estátuas, fontes e espelhos d'água. Absolutamente fantástico!

Mais fotos no post que a Daniela fez no seu blog.

Em resumo, é um lugar a ser visitado muitas vezes, pois há diversas outros pontos turísticos no Lago. Certamente voltaremos!

domingo, 27 de abril de 2008

Churrasco Italiano

Bem, não foi exatamente um churrasco. Pra começar, aqui eles chamam de barbecue, o que já exprime suficientemente bem a descaracterização total da coisa. A carne é cortada em bifes, que são colocados sobre uma grelha. E pra completar, a "churrasqueira" não é exatamente o que eu esperava, como se pode ver na foto abaixo.

É, eu estava desconfiado.

Tutto sommato
, porém, foi uma experiência excelente. Afinal, comer uma boa carne, ainda que grelhada, junto aos amigos, acompanhada de uma boa e divertida conversa, é a essência do churrasco. E isso certamente havia. Além do mais, como bônus um fantástico aperitivo, um primo piato de massa ao aceto balsamico e, como não podia faltar, vinho.


sexta-feira, 25 de abril de 2008

Liberazione

Hoje se comemora La Liberazione, o 63º aniversário do dia em que a Itália se livrou do domínio nazista na Segunda Guerra Mundial. Feriado, tudo parado - salvo os restaurantes e as cerimônias patrióticos por todo o país. Começou cedo em Roma, no monumento ao soldado desconhecido no Altare della Patria. Beppe Grillo, em Torino, promove o V2-Day, um protesto organizado e divulgado via Internet contra o que ele considera os grandes problemas estruturais do jornalismo italiano.

Alheios a tudo isso, nós aproveitaremos o feriado para almoçar com um casal de amigos, a Tal e o Alberto, e descansar.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Pra não dizer que só falo de política...

... vou falar de livros.

Eu havia empacado lendo La Vendetta del Longobardo, um romance histórico que se passa no tempo da derrocada dos longobardos face às intrigas papais e ao fortalecimento dos francos, de Pepino a Carlos Magno. Apesar de muito curioso com relação à época - que, aqui no norte da Itália, por motivos óbvios é bastante estudada -, o livro poderia ser muito melhor. Nada dinâmico, muito detalhado em determinadas partes, muito abstrato em outras. O fio condutor da história, ou seja, a vida do tal longobardo do título, é confuso, e muitos dos personagens (inclusive o principal) não são críveis. Parei, há alguns meses, faltando umas 20 páginas para o final. Parei, em primeiro lugar, por causa do enorme volume de leitura para o doutorado. Depois, por causa da viagem para a Espanha.

Aliás, aproveitei as noites no hotel para ler Zero Assoluto, uma tradução italiana de um pequeno, mas empolgante, romance de ficção científica de Greg Bear (título original: Heads).

Bem, finalmente encontrei fôlego para finalizar La Vendetta del Longobardo. Passei pelas últimas 20 páginas com uma certa nostalgia, até. Como quem termina uma tarefa longa e dolorosa com a qual se afeiçoou, ainda que por simples hábito. Agora me sinto livre. E peguei um livro que ganhei de aniversário da minha amiga turca Firdevs: Riconciliazione: L'Islam, la democracia, l'Occidente, da falecida Benazir Bhutto.

A propósito: grazie, Firdevs!

Até agora, ainda não tenho uma opinião formada. Mas uma coisa posso dizer: nunca discordei tanto de um único livro... E ainda estou apenas na página 80. Não que isso seja ruim, pelo contrário: é desafiador e provocante! Em breve, uma resenha.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Repercutindo Berlusconi

Tradução livre de um editorial publicado pelo The New York Times hoje, 16 de Abril, a respeito da vitória de Berlusconi.
O Retorno de Berlusconi

Silvio Berlusconi, o maior showman da política italiana, está de volta para seu terceiro mandato como primeiro-ministro. Sua vitória pouco tem a ver com suas escassas realizações durante as passagens prévias pelo poder. Em um momento em que a Itália se encontra envolvida em trevas econômicas e políticas, ele venceu com promessas de um caminho indolor para uma prosperidade renovada.

Com, de um lado, os restos da coalizão de centro-esquerda que deixava o poder oferecendo austeridade e sobriedade e, de outro lado, Berlusconi propondo diminuição de impostos e bons tempos, realmente não sobrou espaço para disputa. O bilionário dono de negócios de mídia e esportes também obteve grande auxílio de sua parceria inquietante com a Lega Nord, um partido populista violentamente contrário aos imigrantes.

O estilo de vida berrante e a forte personalidade de Berlusconi certamente não conseguiriam bons resultados do lado de cá do Atlântico. Ainda assim, alguns aspectos da campanha ecoaram a política americana de modo notável - e, em alguns casos, embaraçante. A Lega Nord produziu um vergonhoso pôster mostrando um indígena americano de aparência melancólica, completo com um cocar de penas, e as palavras de aviso: "Eles não souberam regular a imigração - agora eles vivem em reservas - pense a respeito." Walter Veltroni, ex-prefeito de Roma e principal oponente no campo da centro-esquerda, se saiu igualmente mal ao tentar emular o apelo de Barak Obama com o equivalente italiano de "Yes, we can."

A Itália tem problemas reais, cuja discussão foi evitada por todos os partidos. Entre eles, estão incluídos uma competitividade vacilante, déficits fiscais insustentáveis, serviços governamentais falidos (Nápoles está sufocada em lixo não recolhido), corrupção e uma burocracia que desperdiça incríveis quantidades do tempo e dinheiro de todos os envolvidos. Os italianos, via de regra, trabalham tanto quanto seus vizinhos mas, ao fim, recebem recompensas financeiras significantemente menores.

O que o país desesperadamente precisa é um ataque prolongado e intenso contra evasão fiscal, subsídios públicos não-justificados, excesso de regulação e uma cultura de corrupção política e de negócios profundamente enraizada. Talvez isso seja muito a se pedir para um homem cujos negócios privados repetidamente chamaram a atenção dos promotores públicos, porém sem qualquer condenação.

Os primeiros dois mandatos de Berlusconi foram deludentemente fracos em termos de reformas. A Itália precisa que ele faça mais desta vez.

terça-feira, 15 de abril de 2008

Explicando Berlusconi

Pra quem se pergunta como a centro-direita ganhou, por favor considere que, por um lado, Berlusconi detém, no mínimo, metade dos recursos de mídia do país. E sabe usá-los! Além disso, Berlusconi é o homem mais rico do país. Isso significa, pelo menos, que ele dispõe de muito mais recursos para empregar nas campanhas e, talvez mais importante, dispõe de uma imagem de sucesso, de self made man, que começou como animador de cruzeiros de verão e se tornou um dos mais poderosos magnatas do mundo.

Por outro lado, a Itália está descontente, com uma economia frágil e uma auto-estima debilitada com relação aos outros grandes países da Europa. Porém, apesar dos problemas, a Itália vem recebendo um influxo fortíssimo de imigração. Berlusconi e, mais especificamente, seus aliados da Lega Nord, conseguiram convencer muita gente que os imigrantes são, em grande parte, a causa dos problemas sociais e econômicos italianos. E oferecem uma solução simples: basta de imigrantes.

Vale lembrar que as pessoas simples gostam de soluções e explicações simples. E, em qualquer lugar, as pessoas simples são a maioria.

Mas, claro, isso é só uma explicação simples. A realidade é muito mais complicada.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Berlusconi e seus comparsas 163 x 141 Veltroni

Bem, eu fiz a minha parte. Pena que não foi o suficiente.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

As eleições na Itália

Me dei conta que, desde a queda de Prodi, não escrevi mais nada sobre a vida política italiana. E este é um assunto particularmente vivo nesse momento em que se aproximam as eleições. Aqui se vota no domingo, dia 13, e na segunda, dia 14. Amanhã mesmo vou buscar minha tessera elettorale.

Pois bem, o que tenho a dizer é: não faço idéia de quem vencerá, mas tenho quase certeza de que as coisas não vão mudar.

A fim de entender porque digo isso, é preciso dar um passo atrás e analisar o contexto dos problemas políticos da Itália parlamentarista. Desde a Segunda Guerra Mundial, o país já trocou de governo 61 vezes. É demais para uma democracia européia.

A instabilidade das legislaturas, porém, é apenas um reflexo da impossibilidade de governar efetivamente causada pela fragmentada estrutura partidária italiana. Por exemplo, o último governo, do centro-esquerdista Romano Prodi, venceu a eleição de 2006 por pouquíssimos votos. E isso que sua coalizão de nove partidos reunia, se não todos, pelo menos a imensa maioria dos partidos que de alguma forma se identificavam com a proposta social da esquerda, incluindos os comunistas tradicionais e os neo-comunistas*, os verdes e alguns partidículos oportunistas de centro-direita. Embora sua maioria na Câmara fosse sólida, a pequena margem de vitória se refletiu em uma magérrima maioria no Senado. Bastou que um daqueles pequenos partidos oportunistas da base de sustentação abandonasse o barco para que o governo caísse frente ao assalto midiático da direita de Berlusconi.

Essa situação não é novidade para ninguém. É consensual a necessidade premente de uma reforma no precário modelo eleitoral vigente (modelo introduzido por Berlusconi poucos meses antes das últimas eleições, aliás, em substituição a uma lei votada em referendo popular vários anos antes). Essa nova reforma preconizada por todos, dizia-se, era necessária não permitir que os próximos governos ficassem à mercê dos "partidos anões". Porém, não houve tempo para qualquer reforma. Anunciada a dissolução do parlamento, os dois grandes partidos de centro se posicionaram. Berlusconi e seu Popolo della Libertà se disseram abertos às velhas alianças, mas apenas os neo-fascistas da Aleanza Nazionale e os radicais separatistas (eles se dizem federalistas) da Lega Nord responderam a seu chamado. Do outro lado do campo de batalha, Veltroni colocou o recente mega-Pardito Democrático, de centro-esquerda. Com eles, ocorreu o contrário: os pequenos partidos que apoiavam Prodi se disseram prontos para uma nova coalizão, mas o PD refutou, alegando o não desejar repetir a fragmentação e as disputas internas que levaram à completa inação do antigo governo.

Sobrou para a esquerda tentar a solução solitária. Bertinotti convocou a Sinistra Arcobalena, disparando forte contra o que argumenta ser a "falsa" esquerda de Veltroni. Casini, antigo aliado de Berlusconi, preferiu rebelar-se e consolidou posição no centro com sua . No processo, desferiu insultos contra esquerda e direita e se ofereceu como uma terceira via, mas parece que conseguiu
atrair muitos eleitores. Micro-partidos de todas as faixas do espectro político fecham o desfile, que inclui bizzarices como a candidata da La Destra, Daniela Santanchè, que parece acreditar que pode ser eleita apenas porque é bonita, ou o "partido" anti-aborto do esquizofrênico Giuliano Ferrara.

Do início da campanha até pouco tempo atrás, as pesquisas indicavam uma saudável margem de liderança para Berlusconi, em torno dos 5 a 9 pontos percentuais. O que não é de se estranhar, dado o fato de que o sujeito é dono de um dos clubes de futebol mais populares do país e de um mega-grupo de mídia que vale U$ 9,4 bilhões e que inclui três dos seis maiores canais de televisão (os outros três são estatais!). Gradualmente, porém, o PD recuperou terreno e conquistou boa parte dos eleitores indecisos, estimados em quase um terço do total de potenciais votantes.

Boa parte desse crescimento se deve aos absurdos proferidos pelos aliados de Berlusconi, a Lega Nord. A mais recente declaração bomba do líder desses radicais, Bossi, envolvia "pegar em fuzis" para fazer valer a sua idéia de federalismo. Entre seus slogans separatistas, "mentre Milano lavora, Roma mangia". E eles conseguem atrair atenção também com seu ódio furioso contra os imigrantes. Um cartaz da Lega mostra uma imagem de um índio norte-americano, acompanhado das palavras: "anche loro hanno subito l'imigrazione", algo como "eles também sofreram a imigração". Em Como, há outdoors que dizem: "L'Italia per gli italiani". Dá pra imaginar um partido desses na coalizão que governa a Itália?

Mas há também os absurdos de Berlusconi. Alguns são hilários, como a "crítica" de que os políticos de esquerda não tem bom gosto para mulheres (!). Outros são mais perigosos para a saúde da democracia italiana, como o ataque de ontem ao atual presidente Georgio Napolitano. Convém lembrar que, aqui, o presidente é, tendencialmente, uma figura quase decorativa, ainda que representante das instituições democráticas. Alguém que fica acima das contendas políticas, mais ou menos como a rainha no Reino Unido.

Atualmente, os dois grandes se encontram em pé de igualdade nas estimativas de voto, com Berlusconi ainda ligeiramente na frente. Porém, como eu disse antes, não importa quem vença. É em função do previsível contexto pós-eleição de um governo refém de pequenos e micro-partidos que eu digo que, seja quem for o vencedor, não vai mudar nada: o governo vai ser difícil, obstaculado não só pela eventual débil margem de vantagem sobre a oposição, mas também pelos próprios aliados, sejam eles os de antes da eleição (Veltroni acabou aceitando a aliança com o partido Italia dei Valori, do ex-ministro Di Pietro) ou aqueles arrolados pelos vencedores na festa de comemoração e distribuição de cargos.

* Vale lembrar a importância histórica da esquerda na Itália. Por pouco o país não caiu na esfera de influência soviética no pós-guerra. Os comunistas sempre foram fortes por aqui, em oposição aos setores católicos conservadores de direita. O movimento sindical, um dos mais robustos da Europa, é herança direta dessa situação.

sábado, 5 de abril de 2008

Alguns comentários sobre a TIC 2007

Em meados de Março, foram divulgados os resultados da pesquisa TIC Domicílios 2007, a versão mais recente do levantamento anual da situação das tecnologias de informação e comunicação no Brasil conduzido pelo Núcleo de Informação e Coordenação (NIC.br), ligado ao Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br).

A pesquisa, já em sua terceira edição, tem resultados muito, muito interessantes. Um dos mais relevantes, na minha opinião, diz respeito à difusão dos computadores. Pela primeira vez desde o início do levantamento, o número dos brasileiros que já usaram um micro ao menos uma vez da vida foi superior ao dos que nunca usaram, chegando a 53%. Foi uma mudança significativa, pois em 2006 os números eram praticamente invertidos: 54% dos brasileiros, segundo a pesquisa, nunca havia tido contato com computadores.

Outro resultado importante indica a crescente popularização da Internet: 41% dos brasileiros já acessaram a rede alguma vez na vida, 8% a mais do que em 2006. Apesar da disparidade de classes sociais, de educação e de renda dos internautas ainda ser muito relevante, usuários das classes C e D são cada vez mais comuns. Já entre as modalidades de acesso, aquele efetuado através de LANs (ou "centros de acesso público pago", conforme a nomenclatura usada pelo NIC.br) foi o que apresentou crescimento mais notável, representando 49% em 2007. Como comparação, os acessos domésticos responderam por 40% do total, completado por acessos a partir do local de trabalho (24%) e da escola (15%). E os demais indicadores do estudo são inequívocos: os novos usuários que fazem uso dessas LANs tendem a ser jovens oriundos das classes baixas, sobretudo do Norte e Nordeste do país.

Afinal, parece que as iniciativas de popularização da informática, como o programa Computador para Todos do Governo Federal, estão dando resultados.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Hoje é 3 de Abril...

... então, um buon compleanno para a Vó do Alfredo e do Vítor!!!!

Pascoa in Spagna

A Nana disse que eu nunca mais escrevi no blog. Verdade. Pois bem, agora as coisas acalmaram de novo. Então, é tempo de atualização!

Daniela e eu fomos passar a Páscoa na Espanha com a Isabel, uma amiga brasileira. Aliás, em Madrid nos divertimos muito com o nome dela, porque em todo lugar tinha algum tipo de referência a "Isabel", legendária rainha dos tempos áureos da Espanha imperialista.

Incrível como conviver com alguém vindo diretamente do nosso país reforça o sentimento de saudade, mesmo em uma situação nada rotineira como uma viagem, em que nossa atenção é dedicada quase que exclusivamente para as novidades.

As fotos mais interessantes da viagem estão postadas nos perfis de Orkut meu e de Daniela. Abaixo, uma das mais legais, Barcelona vista do Castelo de Montjuic.


Em uma nota triste, nesse tempo sem postagens faleceu o grande escritor de ficção científica Arthur C. Clarke. Definitivamente, este tem sido um ano de perdas inconsoláveis: primeiro Bobby Fischer, depois Gary Gagyx e agora o roteirista de 2001: Uma Odisséia no Espaço, entre outros clássicos da FC.

domingo, 16 de março de 2008

De volta à rotina... por enquanto

As últimas semanas foram bastante conturbadas por aqui. De fato, desde o início do mês que não comento o que tem acontecido.

O principal motivo foi o acúmulo de compromissos recentes. Durante toda a semana de 10 a 14 de Março, estive participande de um Doctoral Workshop on Economics and Management of Innovation, que ocorreu no Politécnico. Vieram acadêmicos de reputação internacional para as palestras, incluindo os Profs. Alan McCormick e Gary Pisano, da Harvard Business School. Incrível a dinâmica e a vitalidade desses caras dando aula. Muito diferente do estilo contido, reservado, quase discreto da maioria dos professores europeus. Foi tudo muito produtivo e profícuo, mas também intenso e cansativo: trabalhos todos os dias, tanto pela manhã quanto no período da tarde. À noite, ainda, as leituras para as lectures do dia seguinte - tanta leitura, por sinal, que me ocupou também em boa parte da semana anterior ao Workshop.

Pelo menos, durante a semana meu computador voltou da assistência. Por conta das aulas desta semana, a Daniela teve que ir a Rho buscar, tadinha. Mas de qualquer forma foi muito bom, já estava com saudades. Me adaptei razoavelmente bem ao Vista, mas é bom retornar ao velho e confiável XP. Ainda não está 100% operacional: leva tempo para restaurar todo o backup.

Toda essa atividade me fez esquecer de comentar sobre a lasagna alla bolognesa que fizemos na despedida do Felipe e da Denise, no fim de Fevereiro, e sobre a viagem a Alagna Valsesia no último domingo para que a Daniela finalmente brincasse na neve. Nos próximos dias vou postar sobre esses acontecimentos. Por enquanto, uma prévia da nossa excursão à montanha.


quarta-feira, 5 de março de 2008

Gary Gygax, 1938-2008

Ontem, 4 de Março, comemorava-se o dia do GM.

Veja bem, dO GM, não dA GM.

Ok, a imensa maioria dos habitantes do planeta Terra não faz a mínima idéia do que seja um GM (versus a imensa maioria que conhece a empresa norte-americana). Explicando, então: GM é uma espécie de juíz no jogo de RPG.

Agora vem a parte em que eu explico o que é RPG... Bom, RPG é um hobby de nicho (e bota nicho nisso!), como aeromodelismo ou numismática. Trata-se de um jogo em que são criadas e contadas histórias, no qual os jogadores interpretam personagens. Mais ou menos como um teatro de improviso. O GM, nesse contexto, é uma espécie de diretor da história. (Para uma introdução mais completa ao que seja RPG, recomendo este texto, publicado na REDE RPG).

Feita a apresentação, voltemos aos fatos. Eu dizia que ontem, 4 de Março, era o dia do GM. E foi justamente nesse dia que, por conta do destino, faleceu uma das mais influentes personalidades do cenário RPGístico. Trata-se de Gary Gygax, criador do mais popular sistema de regras de RPG: Dungeons & Dragons. Foi através de Gygax e seu amigo Dave Arneson que, em 1974, um jogo de tabuleiro de estratégia foi transformado no embrião de um passatempo rico em possibilidades de imaginação, socialização e crescimento intelectual.

Fora do restrito nicho de jogadores de RPG, acredito que pouca gente já ouviu falar de Dungeons & Dragons ou de seus descendentes e concorrentes. Mesmo assim, Gygax e sua obra pioneira ajudaram, de certa forma, a moldar o que hoje entendemos como cultura popular moderna. Sem ele, Tolkien e o Senhor dos Anéis continuaria sendo apenas um dos tópicos de discussão de quem estuda literatura de língua inglesa. World of Warcraft, o bilionário jogo de computador multi-jogador via Internet da Blizzard, com seus milhões de jogadores, é descendente direto do RPG idealizado por Gygax. E o que dizer dos milhões de nerds e geeks que não teriam o RPG como uma das mais interessantes e produtivas vias de escape para sua imaginação?

Por isso, fica a minha homenagem, como entusiasta de RPG, ao homem que começou tudo. Aonde estiveres, que seus dados nunca deixem de rolar - e que seus sucessos sejam sempre decisivos!

terça-feira, 4 de março de 2008

Navegando por novos caminhos

Finalmente passei a usar o Firefox.

Já havia sido aconselhado por muita gente - inclusive muita gente que entende de software muito mais do que eu. Mas, por algum motivo desconhecido, relutava em deixar de lado o conforto de um navegador conhecido e, porque não, confiável como o IE.

Agora que estou usando o notebook da Daniela, acho que a mudança de ares do Vista me deixou mais propenso às novidades. E o fato do Firefox estar já instalado no computador dela (não me perguntem como) ajudou a quebrar a barreira da inércia. Penso, até, que sei qual foi a gota d'água: comentei com o Fernando que escrever emails em italiano tem sido difícil sem o Babylon instalado, ao que ele respondeu, meio incrédulo, que o Firefox possui uma função similar embutida no próprio navegador. Foi o suficiente para me convencer a experimentar.

E só tenho uma coisa a dizer: até agora, tenho achado o Firefox absurdamente superior ao Internet Explorer. Estou apenas começando a descobrir o mundo dos add-ons, mas já me apaixonei por eles. Este texto, por exemplo, estou escrevendo usando um add-on chamado ScribeFire, que permite escrever posts de blog e publicá-los diretamente do navegador, sem precisar logar no Blogger e acessar seu editor. Fantástico!

Meus bookmarks (outra coisa que me legava ao IE) foram facilmente exportados para o Google Bookmarks e, como por mágica, já estão disponíveis no novo browser. Excelente!

E isso é só o começo, eu sei. Estou experimentando uma sensação similar a de quem, acostumado a andar de ônibus, subitamente ganha um carro. Não consigo entender como fiquei tanto tempo com o IE.

sábado, 1 de março de 2008

Riassunto delle novità

É, acho que foi o maior período sem postagens (excetuando-se as viagens). Mas não foi por falta de assunto. Ao contrário, foi um período bem movimentado. Então, segue um post de resumo das recentes novidades.

Depois do meu aniversário, Daniela e eu tivemos mais motivos para comemorar. Na semana passada, celebramos 7 anos juntos em alto estilo, assistindo uma ópera no La Scala. Wozzeck é um drama anti-militarista forte e impactante. A experiência foi marcante, como que a realização de um sonho de tanto que planejamos conhecer o famoso teatro. E parece que agora não tem volta, gostamos tanto do programa vamos ter de comparecer ao La Scala mais vezes.

Na quinta-feira, deixei meu note na assistência da Acer. Era o último dia da garantia, e quis me certificar que os pixel defeituosos que surgiram durante o uso fossem consertados. Enquanto o computador não retornar, Daniela e eu vamos ficar disputando o notebook dela.

E no mesmo dia recebemos em casa um casal de amigos brasileiros que estão retornando ao Brasil depois de um período de estudos na Alemanha. Muito bom essa quebra de rotina, ver gente diferente, interessante, com quem podemos conversar em português. Saimos para uma pizza com o pessoal da escola de italiano de Sant'Egidio e hoje (sexta) passeamos pelos pontos turísticos obrigatórios de Milão. Amanhã, antes deles partirem, vamos preparar una bella lasagna alla bolognesa, com tudo o que se tem direito. Espero que fique boa...

sábado, 16 de fevereiro de 2008

Aniversário

Normalmente, eu diria que é sofrido comemorar aniversário tão longe da família e dos amigos. No ano passado foi, pelo menos.

Mas ontem, até que não foi tão difícil driblar a saudade. Afinal, fui inundado por uma quantidade enorme de emails, telefonemas, mensagens de MSN e recados no Orkut, com direito até a festa no MSN, organizada pelo Kappel, e parabéns no telefone da princesinha mais arredia do mundo!

Quero, portanto, agradecer publicamente a todos por cada palavra ou pensamento de lembrança no dia de ontem. O afeto de vocês foi muito importante, pois cada demonstração de carinho é amplificada e multiplicada pela distância que nos separa.

E, à noite, ainda tive o prazer de levar minha amada companheira de giramundo para jantar com um casal de novos amigos que, apesar da pouca convivência, já se mostraram tão amáveis que parece que nos conhecemos de longa data.

Foi um dia muito agradável, e fiquei bastante feliz. Obrigado a todos por me proporcionarem essa alegria nesse dia tão importante.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

São Valentim e a Lupercália

Hoje é dia de San Valentin (São Valentim), comemoração do dia dos namorados aqui pelos pagos do norte. Reza a lenda que São Valentim, ainda na época dos imperadores romanos avessos à religião católica, celebrava casamentos às escondidas, desafiando a proibição imperial. A data 14 de fevereiro marcaria o aniversário da decapitação do santo (como todo bom mártir, assassinado brutalmente em nome de suas convicções religiosas).

Porém, isso não passa de lenda. É uma história interessante, mas desprovida qualquer fundamento histórico.

Curioso é que pouco se sabe de concreto sobre o São Valentim histórico. Na verdade, não se sabe nem mesmo se São Valentim se refere a apenas um ou mais mártires daqueles tempos difíceis em que os católicos eram apenas vítimas de perseguição. Por tradição, celebra-se seu dia no 14 de Fevereiro, mas nada se sabe sobre sua vida - ou morte, que no caso dos mártires costumava ser bastante violenta e, por isso, marcante para os fiéis. Mais especificamente, não há qualquer ligação ou evidência de São Valentim com os namorados e amantes. A associação com o amor e romantismo veio, muito provavelmente, com Chaucer, na Idade Média.

Por outro lado... 15 de Fevereiro era a data tradicional da Lupercalia, a festa pagã da fertilidade da Roma antiga. Era um dia em que os jovens romanos de todas as classes corriam pela cidade nus, provocando (romanticamente, é claro!) as moças que encontravam pelo caminho. É de se pensar o quanto as moças evitassem sair às ruas naquela data.

E, coincidentemente, 15 de fevereiro é também o dia do meu aniversário! Se não estivesse tão frio, eu até comemoraria correndo nu pelas ruas de Novara (a fim de honrar a antiga tradição da Lupercalia, é claro!!!).

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Giramondo

de Nicola di Bari, com seu look nerd dos anos 60.

Un giramondo come me,
che cambia strada appena puo',
deve trovare nella vita
la donna fatta come lui.

Se girando il mondo trovero'
una che pensa come me,
avro' trovato la mia strada,
il resto poi verra' da se'.

Giorno dopo giorno l'aspettero',
passo dopo passo io la cerchero',
e la trovero', la trovero', la trovero'.

Ma un vagabondo come me
che insegue la felicita',
in fondo vuole dalla vita,
solo l'amore che non ha.

Giorno dopo giorno l'aspettero',
passo dopo passo io la cerchero',
e la trovero', la trovero', la trovero'.

Ma un vagabondo come me
che insegue la felicita',
in fondo vuole dalla vita,
solo l'amore che non ha
vuole l'amore che non ha
cerca l'amore che non ha
cerca l'amore che non ha...

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Gelatto gelado

Sorvete italiano é muito bom. Mesmo no inverno. Aliás, sobretudo no inverno.

Pena que faz ficar resfriado...

sábado, 2 de fevereiro de 2008

Ainda o Papa

Hoje recebi, através da lista de emails da SBCR (Sociedade Brasileira de Ceticismo e Racionalismo), um texto de opinião do sociólogo e biólogo Francisco Borba Ribeiro Neto sobre a recusa do Papa em participar da aula de inauguração do ano acadêmico da Universidade La Sapienza, no início do ano. O texto retoma, como ponto de partida, a repetição de uma série de argumentos que já cansei de ouvir na mídia italiana: o Papa foi impedido de dialogar com a Universidade, o incidente foi um exemplo de intransigência e cerceamento da liberdade de expressão (nas palavras de Ribeiro Neto, "um disparatado ataque à liberdade de expressão" e "recusa ao diálogo e à argumentação racional"), etc.

Incrível.

Diz-se que uma mentira repetida mil vezes se torna verdade.

A meu ver, é exatamente o que vem acontecendo com essa questão. Ao contrário do que se diz e se escreve em quase todo lugar, o Papa NÃO foi impedido de participar da aula magna na Sapienza. Ele não foi PORQUE NÃO QUIS. Simples assim. O protesto dos estudantes nos dias anteriores à programada participacao "papal" foi mínimo, sem qualquer manifestação de violência. Ligeiramente mais significativo foi o protesto de 67 professores (entre 4.500, como bem nota o texto de Ribeiro Neto). Mas mesmo isso não passou de uma carta aberta afirmando a opinião de que esse Papa específico não é, na visão desses professores, bem vindo à Universidade. E cabe lembrar que tanto representantes do governo da cidade de Roma quanto do governo federal garantiram que não havia qualquer ameaça à segurança de Benedetto.

A mim, parece que intransigente nessa história foi mesmo o Vaticano. Ficaram com medo da repercussão de uma eventual rejeição ou vaia ao Papa, ou não gostaram das críticas, sei lá.

Aliás, me pasma que aqui na Itália, a totalidade da imprensa, na qual se incluem ate mesmo os setores ditos "anti-clericais" da RAI, comprou essa versão do mito da Universidade contrária à liberdade de expressão.

Também me marcou muito perceber a importância social e cultural que a Igreja ainda representa por aqui. Essa importância foi evidenciada pelo fato de que a imprensa só deixou de abordar o assunto da recusa do Papa quando a crise do governo se mostrou tal que a queda de Prodi passou a ser inevitável.

E ainda houve senadores que usaram o episódio (junto com a crise do lixo em Napoli) para justificar seu voto contrário ao governo!

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

I musei del Castello Sforzesco



No último Domingo, Daniela e eu fomos a Milano visitar os museus do Castello Sforzesco. Eu já havia visitado o Castello em duas oportunidades, mas ainda não conhecia as exibições. E, de fato, é um passeio que vale a pena.

As coleções de objetos históricos do Museo d'Arte Antica são muito ricas, com diversos itens de arte longobarda e sacra. A seção da Armoria é particularmente interessante: os armeiros de Milano e redondezas eram conhecidos, nos séculos XIV a XVII, pela qualidade do seu trabalho, e a beleza das armas e armaduras decoradas em exposição atestam isso. O Museo d'Arte Antica conta ainda com capolavori de dois famosos mestres do Renascimento: o último trabalho de Michelangelo Buonarroti, a inacabada Pietà Rondanini, e afrescos de Leonardo da Vinci na Sala delle Asse. Além disso, a Pinacoteca contém diversas obras de pintores consagrados como Mantegna, Foppa, Tintoretto e Tiepolo.


Testa virile di Tintoretto

Com apenas algumas horas a disposição, infelizmente não conseguimos visitar os demais museus. Houve tempo apenas para uma passada rápida no Museo dei Mobili e delle Sculture Lignee e no Museo degli Strumenti Musicali. Mas o pouco que vimos - e o tanto que ainda não vimos - nos convenceu a voltar em uma próxima oportunidade.


quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Il Senato boccia Prodi

Caiu o governo Prodi: 161 não, 156 sim, 3 ausentes. O voto de confiança foi negado. É o fim de uma legislação de quase dois anos dominada por uma maioria claudicante de centro-esquerda com sérias divergências internas. Uma maioria criticada principalmente pela necessidade de acolher os ditos "radicais" de esquerda, partidos de alguma forma ligados à tradição comunista.

Porém, quem teve participação realmente decisiva na queda de Prodi foi o pequeno partido de Mastella, a UDEUR. Um partido de centro, de base regional e convicções capengas, que sempre está do lado de quem vence e, portanto, está sempre presente no governo (Mastella foi Ministro do Trabalho de Berlusconi em 94/95). Uma espécie de PMDB italiano, guardadas as proporções.

Investigado pelo Ministério Público (com a esposa em prisão domiciliar) e atacado por todos os lados pela opinião pública, pela mídia e até por colegas Ministros e membros da coalizão de governo, Mastella chutou o balde: demitiu-se de sua posição como Minstro da Justiça e anunciou que seus 3 senadores deixavam a maioria. Foi o bastante para transformar o voto de fiducia desta quinta em uma missão impossível para Prodi. E assim o foi. A maioria numérica afundou, com direito a um punhado de ratos saltando fora na última hora.

Agora, o que fazer? Praticamente todos concordam que a lei eleitoral vigente é péssima, pois dá muito peso aos partidos-anões. Segundo as regras em vigor, uma nova maioria eventualmente eleita sofreria das mesmas dificuldades - ou impossibilidades - para governar que Prodi e sua coalizão de centro-esquerda enfrentaram. Por outro lado, todos também concordam que não há como levar adiante uma reforma eleitoral neste momento. Não há tempo hábil, não há clima político. Diz a Ministra Bindi na TV neste exato momento: i tempi non ci sono!

Para piorar, o país enfrenta graves crises. Uma crise política, gritada em praças por Grillo e seus neo-anarquistas e caracterizada por diversas investigações em curso do Ministério Público contra políticos e simpatizantes. Há também a crise da spazzatura, sobretudo na Campania - base eleitoral da UDEUR de Mastella.

Levar a eleição adiante com a lei atual é a bandeira dos radicais, tanto de direita quanto de esquerda. O centro-direita de Berlusconi, farejando uma vitória com base em uma série de pesquisas de opinião que lhe dão cerca de 5% de vantagem, apoia a idéia. Porém, sem muita convicção, afirmando que "não há outra solução à vista". O centro-direita, finalmente vitorioso na sua cruzada pela queda de Prodi, se apresenta razoavelmente coeso para enfrentar uma eventual eleição.

O fiel da balança será o Partido Democrático, o qual, no momento, representa a única real possibilidade de confronto com Berlusconi. Mas o mega-partido de centro-esquerda enfrenta oposição e descontentamento dos pequenos partidos de esquerda, incluídos aí os radicais e comunistas, que foram decisivos em 2006. Descontentamento que surgiu, appunto, a partir do momento que Veltroni, o líder do PD, iniciou conversas com Berlusconi sobre uma nova lei eleitoral centrada no bipartidarismo.

Resta saber como se resolverá esse imbroglio, mas eu sinto que vou votar por aqui em breve.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

A Crise de Prodi

Na tarde de hoje, o governo Prodi vai à prova na Câmara. Segundo as previsões da imprensa, o "sim" ao governo deve passar com alguma facilidade hoje: La Repubblica projeta 329 votos contra 287 da oposição. Nessa conta, já estão descontados da contagem pró-situação os 14 deputados da UDEUR, cujo apoio ao governo não é mais automático desde que Mastella deixou o Ministério da Justiça. Mais do que isso: Berlusconi anunciou que a UDEUR passou para a centro-direita, embora o partido oficialmente não o confirme. Neste caso, seriam 329 contra 301; ainda assim, uma razoável folga para Prodi e seus aliados.

Porém, amanhã vem o teste no Senado. Ali, as projeções são muito mais apertadas: 159 do governo contra 160 da oposição, 1 ausente e 1 indeciso. A decisão, nestas circunstâncias, fica à cargo de eventualidades, mudanças de última hora e ausências não previstas. Nestas contas, estão incluídos os senadores vitalícios. Uma vitória graças a esses senadores - teoricamente, não pertencentes a nenhum dos grupos antagônicos - indicaria uma maioria numérica, mas não política, e poderia desencadear um processo de transição controlada. Prodi, que inicialmente esperava conduzir o governo até o fim, poderia ter que preparar eleições antecipadas em 2009, ou ainda esse ano.

E o que acontece se o governo cair? Como é natural na Itália, não se sabe ao certo. A centro-direita pede eleições imediatas, o Partido Democrático e outros setores da esquerda acenam com a possibilidade de um "governo técnico" de transição. (Lembrando que, no sistema parlamentarista italiano, quem conseguir a maioria nas eleições parlamentares elege o Presidente del Consiglio dei Ministri). Embora isso seja assunto para depois das votações, o fato de que todos se movimentem ao redor da eventual queda do governo é mais um indício de que a crise, desta vez, é grave.

Aniversário do dia

Feliz aniversário, maninha! Estou com muita saudade, como deves imaginar. Espero que possamos nos ver em breve. E boa sorte para o final da faculdade.

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

San Gaudenzio

Hoje é feriado em Novara. Dia de San Gaudenzio, padroeiro da cidade. Não sei muito sobre ele, além do fato que era amigo do padroeiro de San Ambroggio, padroeiro de Milano. Mesmo a Wikipedia italiana é surpreendentemente escassa a respeito de San Gaudenzio. O que sei é que os novaresi fizeram uma bela cúpula na igreja que leva seu nome. Uma bela homenagem que virou o símbolo da cidade.

E amanhã, deve cair o governo Prodi. Não se fala de outra coisa nos jornais e noticiários da TV.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Cena a casa nostra

Sábado, retribuimos a hospitalidade e recebemos nossos amigos Tal, Alberto, Gianni e Mela para uma janta. O cardápio era excelente, fruto da criatividade da Daniela: melanzana, cipoline e verduras diversas acompanhada de pão e gorgonzola de antipasto, risoto ai funghi de primo e peixe ai broccoli, purê de batatas e peperonata de secondo. Nossa, quanta comida! Bem ao estilo italiano. A refeição, por aqui, é um verdadeiro ritual social, uma espécie de comunhão ao redor da mesa e dos alimentos. E o assunto preferido das conversas, claro, é comida!

A propósito, acho que Daniela e eu já progredimos bastante nas intrincadas regras da refeição italiana. Antes, mal sabíamos o que e quando servir. Nossa primeira experiência deve ter sido decepcionante para nossos convidados: acabamos servindo dois primos, misturando arroz e massa na mesma refeição e, para piorar, a salada veio fora da ordem natural com a qual eles estão acostumados. Agora, já dominamos o básico! Só falta aprender mais sobre os inúmeros tipos diferentes de queijos, pães e arroz, cada qual apropriado para um determinado prato.

Um grande saluto aos amigos! Foi muito divertido, especialmente pela presença da senhorita Mela correndo ao redor da mesa. Que possamos repetir muitas vezes esses agradabilíssimos encontros, mesmo depois que voltarmos ao Brasil.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Robert James Fischer, 1943-2008

"Quando giochi con Bobby, il problema non è vincere o perdere. Il problema è sopravvivere."

Boris Spassky

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

... e as notícias de hoje, ontem

Depois de escrever o post de ontem, fiquei me perguntando se, de alguma forma, não teriam razão os que reclamam de censura e falta de diálogo por parte dos contrários à participação do Papa na aula inaugural. Me dei conta, então, de que não há falta de diálogo, pois o Papa, se entendi bem a situação, não pretendia dialogar, mas sim discursar. Duvido que houvesse espaço para indagações por parte da platéia, ou mesmo algo parecido com um debate. Portanto, penso que "falta de diálogo" não é uma crítica muito adequada.

Além disso, menciona-se muito uma suposta vergonha pelo fato do Papa não poder falar em uma universidade italiana. Mas, que coisa, foi justo ele quem desistiu de participar, ninguém o proibiu! No máximo, os professores manifestaram seu descontentamento em uma carta aberta - o que não me parece muito ofensivo - e os estudantes ameaçaram protestar com cartazes e rock and roll. Pode ser que minha percepção esteja totalmente torta, mas acho que o Benedetto não aceita muito bem críticas e opiniões contrárias à sua.

Bom, continuando com as notícias de hoje, que não deixam de ser a continuação das de ontem... Outra bomba nos noticiários foi o pedido de demissão de Clemente Mastella, Ministro da Justiça de Prodi desde Maio de 2006. Líder de um pequeno partido de centro de inclinação democrática-cristã, a UDEUR, o ex-ministro, sua esposa e seus companheiros políticos têm sido alvo de diversas investigações de peculato e improbidade administrativa movidas pelo Ministério Público. Muito se falou sobre Mastella ter usado seu poder e influência como Ministro da Justiça para afastar procuradores e atrapalhar as investigações, o que gerou intensas críticas de boa parte da imprensa não-comprometida com Berlusconi (o qual, diga-se de passagem, também tem suas querelas com a justiça). Além disso, sua figura pública tem sido manchada por decisões políticas no mínimo duvidosas, como o apoio a uma lei de indulto que libertou 15 mil presos dos cárceres italianos, e suas opiniões favoráveis a uma eventual lei de anistia aos investigados e condenados no escândalo do futebol italiano de 2006. Se critica também a ligação de Mastella com políticos condenados por atividades mafiosas. Em suma, um currículo respeitável.

É realmente curioso como um político tão suspeito pudesse exercer um cargo como Ministro da Justiça. As críticas da mídia refletiam cada vez mais uma opinião pública descontente e desconfiada. Em Novembro passado, Mastella protagonizou um escandaloso chilique durante uma participação ao vivo no programa Anno Zero, da RAI2, acusando o apresentador de usar a televisão pública para atacá-lo. A situação foi se degradando ainda mais. Finalmente, ridicularizado abertamente pela mídia e atacado até mesmo por seus colegas de Ministério, como o Ministro da Infra-Estrutura Antonio Di Pietro, Mastella disse basta. E hoje Prodi aceitou seu afastamento. Agora, ele vai se defender das acusações como cidadão normal. Bem, não exatemente cidadão normal, pois Mastella ainda é prefeito de sua cidade, Ceppaloni. Mas pelo menos, não mais como um todo-poderoso Ministro da Justiça.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Notícias de ontem...

Depois do tradicional período de "vacas magras" de notícias durante as festas de final de ano, os noticiários voltaram com tudo nesse início de ano. Pelo menos é como tem sido aqui na Itália.

Ontem, a grande notícia foi a desistência do Papa em participar da aula inaugural da universidade La Sapienza, de Roma. Ele havia sido convidado pelo reitor e pelo senado acadêmico para proferir o discurso de abertura dos trabalhos de 2008 mas, frente ao protesto imediato de uma parcela considerável de alunos e professores, anunciou ontem que mudava de idéia.

Reações imediatas da política, tanto dos setores de direita quanto de esquerda. Ambos lamentam a falta de diálogo em uma instituição que deveria primar, justamente, pela abertura ao diálogo. Foi mais ou menos esse o tom das declarações do governo, começando pelo próprio Presidente do Conselho, Romano Prodi, ele mesmo professor universitário. Já a direita, sobretudo os esbravejadores conservadores, foram além. Para eles, a juventude atual está perdida, sem fundamento de valores morais. A declaração mais raivosa veio de Giuliano Ferrara, político e jornalista que, em um inexplicável "tilt" ideológico, se converteu ao "neoconservadorismo" após uma juventude comunista de líder estudantil nos anos 60. Ainda ontem, ele disse que agradecia por não ter concluído a laurea pela La Sapienza pois, se houvesse, teria de enviar o diploma de volta ao reitor, acompanhado de uma série de declarações pouco respeitosas sobre a capacidade cognitiva dos professores da instituição.

Porém, fizeram-se ouvir mais alto as numerosas vozes de alunos e professores que defendem, em primeiro lugar, o caráter laico da universidade, sua posição independente como centro formador de conhecimento, sobretudo científico. Cada um em seu devido lugar ou, como declarou um dos professores revoltados, "o Papa não me convida para ensinar Darwin na sua igreja na missa de domingo, porque nós deveríamos convidá-lo para pregar na aula inaugural?".

Mas, talvez mais importante, a insatisfação explosiva de Roma possa estar relacionada, embora não declaradamente, com a percepção de que, sob a guia de Benedetto XVI, a Igreja vem se posicionando cada vez mais contra o saber científico estabelecido. A fé cega, que não discute nem questiona, tem ganhado espaço e apoio do Papa-Teólogo. Ou seja, talvez o protesto laico em Roma seja mais uma reação do que uma ação, um contra-ataque da comunidade científica contra as pretensas ingerências da Igreja. Isso, porém, poucos comentam, menos ainda os políticos, interessados em manter sua bella figura frente a uma maioria católica, ainda que moderada, de eleitores em um país que definitivamente ainda é guiado pela religião e suas ramificações sociais e culturais. Até a grande imprensa reluta em apoiar, mesmo que indiretamente, os descontentes, conforme se nota neste editorial do La Repubblica. Nesta manifestação, assim como em outras, abundam termos como "intolerância", "medo", "recusa ao diálogo" e "censura". Palavras que, ao menos aos meus ouvidos, soam muito mais adequadas à postura histórica da Igreja do que àquela da Ciência. Em resumo: o Papa ganhou o posto de vítima do momento, e deve aproveitar.

Mas essa foi a notícia de ontem. Amanhã, as notícias de hoje!

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

O Instinto Moral

O tradicional jornal The New York Times foi um dos pioneiros em permitir acesso gratuito a seu conteúdo na Internet. A resposta foi muito boa, e recentemente até os arquivos das versões anteriores à web estão disponíveis, devidamente digitalizados. Não apenas por isso, mas também por isso, sou um dos seus milhares de leitores diários.

Aos domingos, o NYT publica sua Magazine, uma revista de atualidades e variedades. Ontem, o principal artigo era The Moral Instinct, escrito pelo famoso psicólogo e divulgador científico Steven Pinker. O texto traz um resumo sucinto, porém completo, do estado atual da chamada "Ciência da Moral", um campo de pesquisa intrigante que abrange psicologia, lingüística, antropologia, neurologia e filosofia, entre outras ciências relacionadas, na busca da compreensão da Moral. É justamente essa abordagem interdisciplinar que direciona a busca para uma compreensão includente, pressupondo um entendimento da Moral a partir de múltiplos pontos de vista - às vezes conflitantes. Entre os experimentos relatados por Pinker em seu artigo, estão os dilemas filosóficos estudados por neurologistas com auxílio de ferramentas de escaneamento cerebral, para entender quais regiões do cérebro se ativam quando nos defrontamos com esses dilemas. Ele conta como estudos antropológicos e psicológicos em larga escala são conduzidos a fim de detectar diferenças e similitudes no entendimento humano da Moral, a fim de isolar ou identificar padrões e conceitos universais relacionados à Moral.

As implicações dessa busca pela Moral universal, ou pelo menos pelo entendimento do que Pinker chama "O Instinto Moral", são enormes. As próprias fundações das religiões são afetadas, já que entre as possíveis conclusões da linha de pensamento proposta pela Ciência da Moral está a aceitação de que a religião, seja ela qual for, não é a detentora das leis morais, mas que o senso moral é inerente ao ser humano, em diferentes escalas. Mais do que isso, a Moral parece ser universal, embora fatores culturais e sociológicos importantes influenciem quais elementos da Moral são mais ou menos valorizados em determinados grupos. Ainda que aparentemente complexo, Pinker consegue apresentar um bom resumo do tema em seu claro e bem escrito texto. Vale a leitura - opinião aparentemente compartilhada pelos leitores do NYT, já que o artigo figura no topo da lista dos mais enviados por email desde sua publicação até o momento em que escrevo.

sábado, 12 de janeiro de 2008

Paris, Paris...

Hoje me dei conta que faz dias que não publico nada por aqui. E também me dei conta que não escrevi nada sobre Paris.

Bom, Paris é fantástica, inesquecível, affascinante. É, sem dúvida, a cidade mais marcante que já conheci. Tem não só uma quantidade enorme de monumentos, museus, igrejas e lugares históricos para se fazer turismo cultural, mas também suas ruas e praças são encantadoras, embelezadas por uma arquitetura cativante.

Em sete dias de viagem, Daniela e eu conhecemos seis museus, visitamos três igrejas e, claro, os monumentos obrigatórios (Torre Eiffel, Arc de Triomphe e as praças). Ainda na sexta, depois de descansar da viagem, fomos à Champs-Elysée e chegamos até o Arc de Triomphe. No sábado, visitamos o Musée d'Orsay. Foi, talvez, a visita mais agradável da viagem. Em uma tarde conseguimos visitar o museu todo, sem pressa, aproveitando o banho de cultura e o deleite para os sentidos. Domingo, visitamos o Hôtel des Invalides, onde fica a impressionante necrópole militar, onde estão sepultados os restos de Napoleão, e o Musée historique de l'Armée, com uma ala reservada às Grandes Guerras e outra às armas e armaduras antigas e medievais. Ainda deu tempo de ver a Torre Eiffel, à noite.

Na segunda-feira, dia 24, visitamos a Saint-Chappele e a Catedral de Notre-Dame, um dos símbolos da cidade. Também encontramos a Marília, uma amiga brasileira que estava passando o período das festas com a mãe na França. Ela acompanhou a Daniela ao Centro Georges Pompidou, enquanto eu saí para fazer compras. Ceamos no hotel - e a saudade da família e dos amigos bateu forte.

No dia 25, com os museus fechados, fomos à Basilique du Sacré-Cœur, de onde se tem uma linda vista da cidade. Durante o dia, caminhamos pelas ruas, aproveitando o friozinho. Reservamos a quarta-feira inteira para o Louvre, mas não deu pra ver nem metade das obras. Preferimos nos dedicar aos objetos históricos medievais e às obras de arte, sobretudo a escultura e pintura italiana. Na quinta, fechamos o roteiro turístico cultural com o Museu Rodin, mais lojas e, à tarde, o Musée National du Moyen Âge.

Não houve tempo de ir ao Palácio de Versailles ou à EuroDisney (nem interesse, neste último caso), nas redondezas. Mesmo dentro de Paris não fomos à uma série de lugares interessantes, como a Opera Garnier ou o Cimetière du Père-Lachaise. Vamos voltar, com certeza, em uma temporada de tempo mais agradável - a gripe que peguei por lá não foi nada agradável.

E, contrário ao que esperávamos, os franceses não eram nem malcheirosos nem mal-humorados. Pelo menos aqueles com quem tivemos contato não eram. Sei lá, vai ver demos sorte.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Capitão Nascimento para presidente

Eu sempre chego atrasado nos assuntos polêmicos. Mas, fazer o que, se assisti Tropa de Elite somente ontem? Afinal, estou na Itália. A pirataria aqui não é como no Brasil...

A história é simples, direta e bem filmada, com intensas cenas de ação de qualidade surpreendente em meio a favelas e cenários bem familiares da realidade brasileira. Os atores são empáticos e trabalham muito bem, especialmente Wagner Moura, intérprete do novo super-herói brasileiro, o Capitão Nascimento. Apesar da qualidade cinematográfica elevada, o filme de José Padilha (o mesmo do documentário Ônibus 174) ainda fica um degrau abaixo de Cidade de Deus.

Em poucas palavras, Tropa de Elite conta a história semi-ficcional da busca do infalível e incorruptível Capitão Nascimento por seu substituto no BOPE, o Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar do Rio de Janeiro. Mas o enredo é um fator menor em Tropa de Elite. A história serve apenas como pano de fundo para mostrar o BOPE como último bastião da legalidade em um sistema corrupto e degradado que inclui não apenas os traficantes dos morros, claramente os vilões da história, mas também a própria polícia dita "convencional" e as classes média e média-alta "socialmente engajadas" da Zona Sul.

Na minha opinião, Tropa de Elite levanta duas questões importantes. A primeira diz respeito ao estado de guerra que a crise de violência no Rio de Janeiro atingiu. A história nos faz pensar que, de fato, a situação chegou a um tal nível de "guerra é guerra" em que já é aceitável abrir mão de certas garantias em termos de direitos humanos quando se tratando com o inimigo. A sociedade se viu admirando uma polícia que esbofeteia, tortura e mata criminosos. Depois do primeiro instante de desconforto e surpresa, os aplausos passaram a vir mais facilmente. Daí a termos Capitão Nascimento como solução para todos os problemas do Brasil, foi um passo. Essa sensação de que "bandido bom é bandido morto" estava, em grande parte, adormecida pelo politicamente correto dominante. Tropa de Elite a fez vir a tona, e as suas conseqüências podem ser muito, mas muito perigosas.

A segunda questão diz respeito justamente à identificação do inimigo. Por muito tempo, o cinema brasileiro viu com relativos bons olhos a criminalidade. O traficante gozava, via de regra, da proteção de uma explicação contextual sócio-econômica em que era mais vítima do que vilão, mais explorado do que explorador. Tropa de Elite inverteu isso de modo revolucionário. Os traficantes são, clara e indiscutivelmente, os Bandidos, com B maíusculo. Eles são cruéis, são maus, e seu extermínio não é, nem de perto, fonte de revolta. Essa simplicidade agrada. Afinal é guerra, somos nós contra eles e, nesses casos, a separação tem de ser nítida e límpida. Além disso, os consumidores, mesmo os playboizinhos maconheiros das faculdades, não são mais viciados doentes ou , mas cúmplices dos traficantes, claramente identificados como o inimigo. Consumidor de drogas, na visão que o filme passa, é quem financia o tráfico, é quem colabora com o inimigo. Logo, é inimigo também. Nítido e límpido. Quem dera a realidade fosse assim, nítida e límpida.

Insomma, Tropa de Elite é uma chamada às armas para a sociedade brasileira, particularmente a carioca, cercada pelo conflito entre o poder legal, representado pela polícia, e o poder paralelo, representado pelo tráfico. Uma chamada às armas que encontrou respaldo e ressoou esperanças e sentimentos profundamente incrustadas na consciência coletiva da sociedade. A idéia é: violência se responde com violência, de preferência violência eficiente, do nível que só o BOPE consegue. Se isso vai ajudar a resolver o problema ou se vai apenas agravá-lo, apenas o tempo dirá. Pessoalmente, acho difícil, mas o fato de que as questões que o filme levantou ganharam as manchetes nacionais é um fato a se considerar.