quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

I musei del Castello Sforzesco



No último Domingo, Daniela e eu fomos a Milano visitar os museus do Castello Sforzesco. Eu já havia visitado o Castello em duas oportunidades, mas ainda não conhecia as exibições. E, de fato, é um passeio que vale a pena.

As coleções de objetos históricos do Museo d'Arte Antica são muito ricas, com diversos itens de arte longobarda e sacra. A seção da Armoria é particularmente interessante: os armeiros de Milano e redondezas eram conhecidos, nos séculos XIV a XVII, pela qualidade do seu trabalho, e a beleza das armas e armaduras decoradas em exposição atestam isso. O Museo d'Arte Antica conta ainda com capolavori de dois famosos mestres do Renascimento: o último trabalho de Michelangelo Buonarroti, a inacabada Pietà Rondanini, e afrescos de Leonardo da Vinci na Sala delle Asse. Além disso, a Pinacoteca contém diversas obras de pintores consagrados como Mantegna, Foppa, Tintoretto e Tiepolo.


Testa virile di Tintoretto

Com apenas algumas horas a disposição, infelizmente não conseguimos visitar os demais museus. Houve tempo apenas para uma passada rápida no Museo dei Mobili e delle Sculture Lignee e no Museo degli Strumenti Musicali. Mas o pouco que vimos - e o tanto que ainda não vimos - nos convenceu a voltar em uma próxima oportunidade.


quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Il Senato boccia Prodi

Caiu o governo Prodi: 161 não, 156 sim, 3 ausentes. O voto de confiança foi negado. É o fim de uma legislação de quase dois anos dominada por uma maioria claudicante de centro-esquerda com sérias divergências internas. Uma maioria criticada principalmente pela necessidade de acolher os ditos "radicais" de esquerda, partidos de alguma forma ligados à tradição comunista.

Porém, quem teve participação realmente decisiva na queda de Prodi foi o pequeno partido de Mastella, a UDEUR. Um partido de centro, de base regional e convicções capengas, que sempre está do lado de quem vence e, portanto, está sempre presente no governo (Mastella foi Ministro do Trabalho de Berlusconi em 94/95). Uma espécie de PMDB italiano, guardadas as proporções.

Investigado pelo Ministério Público (com a esposa em prisão domiciliar) e atacado por todos os lados pela opinião pública, pela mídia e até por colegas Ministros e membros da coalizão de governo, Mastella chutou o balde: demitiu-se de sua posição como Minstro da Justiça e anunciou que seus 3 senadores deixavam a maioria. Foi o bastante para transformar o voto de fiducia desta quinta em uma missão impossível para Prodi. E assim o foi. A maioria numérica afundou, com direito a um punhado de ratos saltando fora na última hora.

Agora, o que fazer? Praticamente todos concordam que a lei eleitoral vigente é péssima, pois dá muito peso aos partidos-anões. Segundo as regras em vigor, uma nova maioria eventualmente eleita sofreria das mesmas dificuldades - ou impossibilidades - para governar que Prodi e sua coalizão de centro-esquerda enfrentaram. Por outro lado, todos também concordam que não há como levar adiante uma reforma eleitoral neste momento. Não há tempo hábil, não há clima político. Diz a Ministra Bindi na TV neste exato momento: i tempi non ci sono!

Para piorar, o país enfrenta graves crises. Uma crise política, gritada em praças por Grillo e seus neo-anarquistas e caracterizada por diversas investigações em curso do Ministério Público contra políticos e simpatizantes. Há também a crise da spazzatura, sobretudo na Campania - base eleitoral da UDEUR de Mastella.

Levar a eleição adiante com a lei atual é a bandeira dos radicais, tanto de direita quanto de esquerda. O centro-direita de Berlusconi, farejando uma vitória com base em uma série de pesquisas de opinião que lhe dão cerca de 5% de vantagem, apoia a idéia. Porém, sem muita convicção, afirmando que "não há outra solução à vista". O centro-direita, finalmente vitorioso na sua cruzada pela queda de Prodi, se apresenta razoavelmente coeso para enfrentar uma eventual eleição.

O fiel da balança será o Partido Democrático, o qual, no momento, representa a única real possibilidade de confronto com Berlusconi. Mas o mega-partido de centro-esquerda enfrenta oposição e descontentamento dos pequenos partidos de esquerda, incluídos aí os radicais e comunistas, que foram decisivos em 2006. Descontentamento que surgiu, appunto, a partir do momento que Veltroni, o líder do PD, iniciou conversas com Berlusconi sobre uma nova lei eleitoral centrada no bipartidarismo.

Resta saber como se resolverá esse imbroglio, mas eu sinto que vou votar por aqui em breve.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

A Crise de Prodi

Na tarde de hoje, o governo Prodi vai à prova na Câmara. Segundo as previsões da imprensa, o "sim" ao governo deve passar com alguma facilidade hoje: La Repubblica projeta 329 votos contra 287 da oposição. Nessa conta, já estão descontados da contagem pró-situação os 14 deputados da UDEUR, cujo apoio ao governo não é mais automático desde que Mastella deixou o Ministério da Justiça. Mais do que isso: Berlusconi anunciou que a UDEUR passou para a centro-direita, embora o partido oficialmente não o confirme. Neste caso, seriam 329 contra 301; ainda assim, uma razoável folga para Prodi e seus aliados.

Porém, amanhã vem o teste no Senado. Ali, as projeções são muito mais apertadas: 159 do governo contra 160 da oposição, 1 ausente e 1 indeciso. A decisão, nestas circunstâncias, fica à cargo de eventualidades, mudanças de última hora e ausências não previstas. Nestas contas, estão incluídos os senadores vitalícios. Uma vitória graças a esses senadores - teoricamente, não pertencentes a nenhum dos grupos antagônicos - indicaria uma maioria numérica, mas não política, e poderia desencadear um processo de transição controlada. Prodi, que inicialmente esperava conduzir o governo até o fim, poderia ter que preparar eleições antecipadas em 2009, ou ainda esse ano.

E o que acontece se o governo cair? Como é natural na Itália, não se sabe ao certo. A centro-direita pede eleições imediatas, o Partido Democrático e outros setores da esquerda acenam com a possibilidade de um "governo técnico" de transição. (Lembrando que, no sistema parlamentarista italiano, quem conseguir a maioria nas eleições parlamentares elege o Presidente del Consiglio dei Ministri). Embora isso seja assunto para depois das votações, o fato de que todos se movimentem ao redor da eventual queda do governo é mais um indício de que a crise, desta vez, é grave.

Aniversário do dia

Feliz aniversário, maninha! Estou com muita saudade, como deves imaginar. Espero que possamos nos ver em breve. E boa sorte para o final da faculdade.

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

San Gaudenzio

Hoje é feriado em Novara. Dia de San Gaudenzio, padroeiro da cidade. Não sei muito sobre ele, além do fato que era amigo do padroeiro de San Ambroggio, padroeiro de Milano. Mesmo a Wikipedia italiana é surpreendentemente escassa a respeito de San Gaudenzio. O que sei é que os novaresi fizeram uma bela cúpula na igreja que leva seu nome. Uma bela homenagem que virou o símbolo da cidade.

E amanhã, deve cair o governo Prodi. Não se fala de outra coisa nos jornais e noticiários da TV.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Cena a casa nostra

Sábado, retribuimos a hospitalidade e recebemos nossos amigos Tal, Alberto, Gianni e Mela para uma janta. O cardápio era excelente, fruto da criatividade da Daniela: melanzana, cipoline e verduras diversas acompanhada de pão e gorgonzola de antipasto, risoto ai funghi de primo e peixe ai broccoli, purê de batatas e peperonata de secondo. Nossa, quanta comida! Bem ao estilo italiano. A refeição, por aqui, é um verdadeiro ritual social, uma espécie de comunhão ao redor da mesa e dos alimentos. E o assunto preferido das conversas, claro, é comida!

A propósito, acho que Daniela e eu já progredimos bastante nas intrincadas regras da refeição italiana. Antes, mal sabíamos o que e quando servir. Nossa primeira experiência deve ter sido decepcionante para nossos convidados: acabamos servindo dois primos, misturando arroz e massa na mesma refeição e, para piorar, a salada veio fora da ordem natural com a qual eles estão acostumados. Agora, já dominamos o básico! Só falta aprender mais sobre os inúmeros tipos diferentes de queijos, pães e arroz, cada qual apropriado para um determinado prato.

Um grande saluto aos amigos! Foi muito divertido, especialmente pela presença da senhorita Mela correndo ao redor da mesa. Que possamos repetir muitas vezes esses agradabilíssimos encontros, mesmo depois que voltarmos ao Brasil.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Robert James Fischer, 1943-2008

"Quando giochi con Bobby, il problema non è vincere o perdere. Il problema è sopravvivere."

Boris Spassky

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

... e as notícias de hoje, ontem

Depois de escrever o post de ontem, fiquei me perguntando se, de alguma forma, não teriam razão os que reclamam de censura e falta de diálogo por parte dos contrários à participação do Papa na aula inaugural. Me dei conta, então, de que não há falta de diálogo, pois o Papa, se entendi bem a situação, não pretendia dialogar, mas sim discursar. Duvido que houvesse espaço para indagações por parte da platéia, ou mesmo algo parecido com um debate. Portanto, penso que "falta de diálogo" não é uma crítica muito adequada.

Além disso, menciona-se muito uma suposta vergonha pelo fato do Papa não poder falar em uma universidade italiana. Mas, que coisa, foi justo ele quem desistiu de participar, ninguém o proibiu! No máximo, os professores manifestaram seu descontentamento em uma carta aberta - o que não me parece muito ofensivo - e os estudantes ameaçaram protestar com cartazes e rock and roll. Pode ser que minha percepção esteja totalmente torta, mas acho que o Benedetto não aceita muito bem críticas e opiniões contrárias à sua.

Bom, continuando com as notícias de hoje, que não deixam de ser a continuação das de ontem... Outra bomba nos noticiários foi o pedido de demissão de Clemente Mastella, Ministro da Justiça de Prodi desde Maio de 2006. Líder de um pequeno partido de centro de inclinação democrática-cristã, a UDEUR, o ex-ministro, sua esposa e seus companheiros políticos têm sido alvo de diversas investigações de peculato e improbidade administrativa movidas pelo Ministério Público. Muito se falou sobre Mastella ter usado seu poder e influência como Ministro da Justiça para afastar procuradores e atrapalhar as investigações, o que gerou intensas críticas de boa parte da imprensa não-comprometida com Berlusconi (o qual, diga-se de passagem, também tem suas querelas com a justiça). Além disso, sua figura pública tem sido manchada por decisões políticas no mínimo duvidosas, como o apoio a uma lei de indulto que libertou 15 mil presos dos cárceres italianos, e suas opiniões favoráveis a uma eventual lei de anistia aos investigados e condenados no escândalo do futebol italiano de 2006. Se critica também a ligação de Mastella com políticos condenados por atividades mafiosas. Em suma, um currículo respeitável.

É realmente curioso como um político tão suspeito pudesse exercer um cargo como Ministro da Justiça. As críticas da mídia refletiam cada vez mais uma opinião pública descontente e desconfiada. Em Novembro passado, Mastella protagonizou um escandaloso chilique durante uma participação ao vivo no programa Anno Zero, da RAI2, acusando o apresentador de usar a televisão pública para atacá-lo. A situação foi se degradando ainda mais. Finalmente, ridicularizado abertamente pela mídia e atacado até mesmo por seus colegas de Ministério, como o Ministro da Infra-Estrutura Antonio Di Pietro, Mastella disse basta. E hoje Prodi aceitou seu afastamento. Agora, ele vai se defender das acusações como cidadão normal. Bem, não exatemente cidadão normal, pois Mastella ainda é prefeito de sua cidade, Ceppaloni. Mas pelo menos, não mais como um todo-poderoso Ministro da Justiça.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Notícias de ontem...

Depois do tradicional período de "vacas magras" de notícias durante as festas de final de ano, os noticiários voltaram com tudo nesse início de ano. Pelo menos é como tem sido aqui na Itália.

Ontem, a grande notícia foi a desistência do Papa em participar da aula inaugural da universidade La Sapienza, de Roma. Ele havia sido convidado pelo reitor e pelo senado acadêmico para proferir o discurso de abertura dos trabalhos de 2008 mas, frente ao protesto imediato de uma parcela considerável de alunos e professores, anunciou ontem que mudava de idéia.

Reações imediatas da política, tanto dos setores de direita quanto de esquerda. Ambos lamentam a falta de diálogo em uma instituição que deveria primar, justamente, pela abertura ao diálogo. Foi mais ou menos esse o tom das declarações do governo, começando pelo próprio Presidente do Conselho, Romano Prodi, ele mesmo professor universitário. Já a direita, sobretudo os esbravejadores conservadores, foram além. Para eles, a juventude atual está perdida, sem fundamento de valores morais. A declaração mais raivosa veio de Giuliano Ferrara, político e jornalista que, em um inexplicável "tilt" ideológico, se converteu ao "neoconservadorismo" após uma juventude comunista de líder estudantil nos anos 60. Ainda ontem, ele disse que agradecia por não ter concluído a laurea pela La Sapienza pois, se houvesse, teria de enviar o diploma de volta ao reitor, acompanhado de uma série de declarações pouco respeitosas sobre a capacidade cognitiva dos professores da instituição.

Porém, fizeram-se ouvir mais alto as numerosas vozes de alunos e professores que defendem, em primeiro lugar, o caráter laico da universidade, sua posição independente como centro formador de conhecimento, sobretudo científico. Cada um em seu devido lugar ou, como declarou um dos professores revoltados, "o Papa não me convida para ensinar Darwin na sua igreja na missa de domingo, porque nós deveríamos convidá-lo para pregar na aula inaugural?".

Mas, talvez mais importante, a insatisfação explosiva de Roma possa estar relacionada, embora não declaradamente, com a percepção de que, sob a guia de Benedetto XVI, a Igreja vem se posicionando cada vez mais contra o saber científico estabelecido. A fé cega, que não discute nem questiona, tem ganhado espaço e apoio do Papa-Teólogo. Ou seja, talvez o protesto laico em Roma seja mais uma reação do que uma ação, um contra-ataque da comunidade científica contra as pretensas ingerências da Igreja. Isso, porém, poucos comentam, menos ainda os políticos, interessados em manter sua bella figura frente a uma maioria católica, ainda que moderada, de eleitores em um país que definitivamente ainda é guiado pela religião e suas ramificações sociais e culturais. Até a grande imprensa reluta em apoiar, mesmo que indiretamente, os descontentes, conforme se nota neste editorial do La Repubblica. Nesta manifestação, assim como em outras, abundam termos como "intolerância", "medo", "recusa ao diálogo" e "censura". Palavras que, ao menos aos meus ouvidos, soam muito mais adequadas à postura histórica da Igreja do que àquela da Ciência. Em resumo: o Papa ganhou o posto de vítima do momento, e deve aproveitar.

Mas essa foi a notícia de ontem. Amanhã, as notícias de hoje!

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

O Instinto Moral

O tradicional jornal The New York Times foi um dos pioneiros em permitir acesso gratuito a seu conteúdo na Internet. A resposta foi muito boa, e recentemente até os arquivos das versões anteriores à web estão disponíveis, devidamente digitalizados. Não apenas por isso, mas também por isso, sou um dos seus milhares de leitores diários.

Aos domingos, o NYT publica sua Magazine, uma revista de atualidades e variedades. Ontem, o principal artigo era The Moral Instinct, escrito pelo famoso psicólogo e divulgador científico Steven Pinker. O texto traz um resumo sucinto, porém completo, do estado atual da chamada "Ciência da Moral", um campo de pesquisa intrigante que abrange psicologia, lingüística, antropologia, neurologia e filosofia, entre outras ciências relacionadas, na busca da compreensão da Moral. É justamente essa abordagem interdisciplinar que direciona a busca para uma compreensão includente, pressupondo um entendimento da Moral a partir de múltiplos pontos de vista - às vezes conflitantes. Entre os experimentos relatados por Pinker em seu artigo, estão os dilemas filosóficos estudados por neurologistas com auxílio de ferramentas de escaneamento cerebral, para entender quais regiões do cérebro se ativam quando nos defrontamos com esses dilemas. Ele conta como estudos antropológicos e psicológicos em larga escala são conduzidos a fim de detectar diferenças e similitudes no entendimento humano da Moral, a fim de isolar ou identificar padrões e conceitos universais relacionados à Moral.

As implicações dessa busca pela Moral universal, ou pelo menos pelo entendimento do que Pinker chama "O Instinto Moral", são enormes. As próprias fundações das religiões são afetadas, já que entre as possíveis conclusões da linha de pensamento proposta pela Ciência da Moral está a aceitação de que a religião, seja ela qual for, não é a detentora das leis morais, mas que o senso moral é inerente ao ser humano, em diferentes escalas. Mais do que isso, a Moral parece ser universal, embora fatores culturais e sociológicos importantes influenciem quais elementos da Moral são mais ou menos valorizados em determinados grupos. Ainda que aparentemente complexo, Pinker consegue apresentar um bom resumo do tema em seu claro e bem escrito texto. Vale a leitura - opinião aparentemente compartilhada pelos leitores do NYT, já que o artigo figura no topo da lista dos mais enviados por email desde sua publicação até o momento em que escrevo.

sábado, 12 de janeiro de 2008

Paris, Paris...

Hoje me dei conta que faz dias que não publico nada por aqui. E também me dei conta que não escrevi nada sobre Paris.

Bom, Paris é fantástica, inesquecível, affascinante. É, sem dúvida, a cidade mais marcante que já conheci. Tem não só uma quantidade enorme de monumentos, museus, igrejas e lugares históricos para se fazer turismo cultural, mas também suas ruas e praças são encantadoras, embelezadas por uma arquitetura cativante.

Em sete dias de viagem, Daniela e eu conhecemos seis museus, visitamos três igrejas e, claro, os monumentos obrigatórios (Torre Eiffel, Arc de Triomphe e as praças). Ainda na sexta, depois de descansar da viagem, fomos à Champs-Elysée e chegamos até o Arc de Triomphe. No sábado, visitamos o Musée d'Orsay. Foi, talvez, a visita mais agradável da viagem. Em uma tarde conseguimos visitar o museu todo, sem pressa, aproveitando o banho de cultura e o deleite para os sentidos. Domingo, visitamos o Hôtel des Invalides, onde fica a impressionante necrópole militar, onde estão sepultados os restos de Napoleão, e o Musée historique de l'Armée, com uma ala reservada às Grandes Guerras e outra às armas e armaduras antigas e medievais. Ainda deu tempo de ver a Torre Eiffel, à noite.

Na segunda-feira, dia 24, visitamos a Saint-Chappele e a Catedral de Notre-Dame, um dos símbolos da cidade. Também encontramos a Marília, uma amiga brasileira que estava passando o período das festas com a mãe na França. Ela acompanhou a Daniela ao Centro Georges Pompidou, enquanto eu saí para fazer compras. Ceamos no hotel - e a saudade da família e dos amigos bateu forte.

No dia 25, com os museus fechados, fomos à Basilique du Sacré-Cœur, de onde se tem uma linda vista da cidade. Durante o dia, caminhamos pelas ruas, aproveitando o friozinho. Reservamos a quarta-feira inteira para o Louvre, mas não deu pra ver nem metade das obras. Preferimos nos dedicar aos objetos históricos medievais e às obras de arte, sobretudo a escultura e pintura italiana. Na quinta, fechamos o roteiro turístico cultural com o Museu Rodin, mais lojas e, à tarde, o Musée National du Moyen Âge.

Não houve tempo de ir ao Palácio de Versailles ou à EuroDisney (nem interesse, neste último caso), nas redondezas. Mesmo dentro de Paris não fomos à uma série de lugares interessantes, como a Opera Garnier ou o Cimetière du Père-Lachaise. Vamos voltar, com certeza, em uma temporada de tempo mais agradável - a gripe que peguei por lá não foi nada agradável.

E, contrário ao que esperávamos, os franceses não eram nem malcheirosos nem mal-humorados. Pelo menos aqueles com quem tivemos contato não eram. Sei lá, vai ver demos sorte.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Capitão Nascimento para presidente

Eu sempre chego atrasado nos assuntos polêmicos. Mas, fazer o que, se assisti Tropa de Elite somente ontem? Afinal, estou na Itália. A pirataria aqui não é como no Brasil...

A história é simples, direta e bem filmada, com intensas cenas de ação de qualidade surpreendente em meio a favelas e cenários bem familiares da realidade brasileira. Os atores são empáticos e trabalham muito bem, especialmente Wagner Moura, intérprete do novo super-herói brasileiro, o Capitão Nascimento. Apesar da qualidade cinematográfica elevada, o filme de José Padilha (o mesmo do documentário Ônibus 174) ainda fica um degrau abaixo de Cidade de Deus.

Em poucas palavras, Tropa de Elite conta a história semi-ficcional da busca do infalível e incorruptível Capitão Nascimento por seu substituto no BOPE, o Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar do Rio de Janeiro. Mas o enredo é um fator menor em Tropa de Elite. A história serve apenas como pano de fundo para mostrar o BOPE como último bastião da legalidade em um sistema corrupto e degradado que inclui não apenas os traficantes dos morros, claramente os vilões da história, mas também a própria polícia dita "convencional" e as classes média e média-alta "socialmente engajadas" da Zona Sul.

Na minha opinião, Tropa de Elite levanta duas questões importantes. A primeira diz respeito ao estado de guerra que a crise de violência no Rio de Janeiro atingiu. A história nos faz pensar que, de fato, a situação chegou a um tal nível de "guerra é guerra" em que já é aceitável abrir mão de certas garantias em termos de direitos humanos quando se tratando com o inimigo. A sociedade se viu admirando uma polícia que esbofeteia, tortura e mata criminosos. Depois do primeiro instante de desconforto e surpresa, os aplausos passaram a vir mais facilmente. Daí a termos Capitão Nascimento como solução para todos os problemas do Brasil, foi um passo. Essa sensação de que "bandido bom é bandido morto" estava, em grande parte, adormecida pelo politicamente correto dominante. Tropa de Elite a fez vir a tona, e as suas conseqüências podem ser muito, mas muito perigosas.

A segunda questão diz respeito justamente à identificação do inimigo. Por muito tempo, o cinema brasileiro viu com relativos bons olhos a criminalidade. O traficante gozava, via de regra, da proteção de uma explicação contextual sócio-econômica em que era mais vítima do que vilão, mais explorado do que explorador. Tropa de Elite inverteu isso de modo revolucionário. Os traficantes são, clara e indiscutivelmente, os Bandidos, com B maíusculo. Eles são cruéis, são maus, e seu extermínio não é, nem de perto, fonte de revolta. Essa simplicidade agrada. Afinal é guerra, somos nós contra eles e, nesses casos, a separação tem de ser nítida e límpida. Além disso, os consumidores, mesmo os playboizinhos maconheiros das faculdades, não são mais viciados doentes ou , mas cúmplices dos traficantes, claramente identificados como o inimigo. Consumidor de drogas, na visão que o filme passa, é quem financia o tráfico, é quem colabora com o inimigo. Logo, é inimigo também. Nítido e límpido. Quem dera a realidade fosse assim, nítida e límpida.

Insomma, Tropa de Elite é uma chamada às armas para a sociedade brasileira, particularmente a carioca, cercada pelo conflito entre o poder legal, representado pela polícia, e o poder paralelo, representado pelo tráfico. Uma chamada às armas que encontrou respaldo e ressoou esperanças e sentimentos profundamente incrustadas na consciência coletiva da sociedade. A idéia é: violência se responde com violência, de preferência violência eficiente, do nível que só o BOPE consegue. Se isso vai ajudar a resolver o problema ou se vai apenas agravá-lo, apenas o tempo dirá. Pessoalmente, acho difícil, mas o fato de que as questões que o filme levantou ganharam as manchetes nacionais é um fato a se considerar.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Um ano na Itália, enfim a neve

Ontem, 2 de Janeiro de 2008, foi o primeiro aniversário da minha chegada na Itália. Cheguei preparado para a neve, mas não fazia tanto frio quanto faz hoje. Aliás, mal sabia eu que a primeira neve que eu veria seria apenas um ano depois! No fim das contas, celebrei o aniversário da minha chegada debaixo de neve, a primeira que vi por aqui. Bela, delicada, os flocos caindo devagar, dançando ao vento. Hoje pela manhã, tudo estava branquinho.

Porém, o que mais me surpreendeu um ano atrás não foi a falta de frio, mas sim o fato da cidade estar praticamente vazia. Aqui, as férias de final de ano usualmente se estendem até a Epifania, dia 6 de Janeiro. Sem muito o que fazer, lembro que naquela primeira noite resolvi caminhar, sozinho, até a Piazza della Repubblica. Já na primeira semana, corri atrás de atendimento médico - havia feito uma quimio no dia 29 de Dezembro, que loucura! -, encontrei o Politécnico, aprendi a usar a metropolitana e saí à caça de um apartamento para alugar.

Insomma, foi uma época interessante, cheia de desafios e descobertas, mas também muito solitária. Daniela chegaria apenas 50 dias depois, já em Fevereiro. Mas isso já é assunto para outro post.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Feliz Ano Novo!!!

É o que se diz nesta época, né não?

Aqui na Itália, são os votos de Buon Anno!