sábado, 29 de setembro de 2007

Grillo e a anti-política na Itália

O governo de coalizão de esquerda do atual Presidente do Conselho Romano Prodi (L'Unione) está desestruturado há tempo. Afinal, não é nada fácil equilibrar as diferentes facções de centro-esquerda que formam a maioria. Os reformistas e moderados, os mais representativos, recebem críticas fortes dos aliados da esquerda radical, que freqüentemente organizam manifestações populares para reclamar de medidas governistas com as quais não concordam, como a renovação da concessão de uso da base aérea de Vicenza para os americanos ou a manutenção das tropas no Afeganistão. Com areia nas engrenagens políticas da sua base, as reformas propostas por Prodi demoram - alimentando mais críticas dos radicais - e Prodi passa a imagem de hesitante. Quando finalmente chegam, as propostas, abrandadas e aparadas de todos os lados a fim de acomodar as divergências entre as diferentes correntes da esquerda, acabam muitas vezes por ser inócuas - alimentando as críticas da oposição.

Para piorar, Berlusconi e a direita, sentindo a debilidade da posição governista, vem aumentando o tom dos ataques e, com isso, angrariando simpatia da população descontente. As últimas pesquisas de opinião apontam mais de 50% de apoio para o centro-direita. A cada votação importante no parlamento, Prodi corre o risco de ver sua maioria desmontar-se e, com isso, causar a queda do governo.

A grande esperança da centro-esquerda é o novo Partido Democrático. Em processo de criação, a partir do próximo 14 de Outubro o PD congregará os Democratici di Sinistra (DS, herdeiros do Partido Comunista Italiano) de D'Alema, Fassino e Veltroni, e os democristãos da La Margherita, de Rutelli, bem como diversos outros partidos reformistas menos representativos. Ficam de fora os radicais da Rifondazione Comunista, de Bertinotti, os comunistas do PdCI (herdeiros de Gramsci e Berlinguer) os ambientalistas Verdi. O Secretário Geral do PD, a ser escolhido em eleições primárias marcadas para 14 de Outubro, deverá ser o atual prefeito de Roma, Walter Veltroni.

Do outro lado, Berlusconi e sua máquina de mídia lideram a oposição. O homem mais rico do país - dono do Milan e do conglomerado Mediaset, entre outros investimentos - conduz a Forza Italia, o partido eixo da coalizão de centro-direita Casa delle Libertà. Sem precisar enfrentar nem atritos com seus próprios radicais (como os autonomistas e tradicionalistas conservadores da Liga Nord, de Bossi) nem as dificuldades de mediar um governo de coalizão, a direita vem crescendo junto à opinião pública. Mesmo as idéias mais conservadoras e reacionárias, como aquelas dos herdeiros da destra post-facista da Alianza Nazionale, de Gianfranco Fini e La Russa, encontram eco na classe média italiana, preocupada com a crescente criminalidade associada, pelas redes de televisão e jornais de Berlusconi, aos imigrantes extra-comunitários.

Tudo isso, porém, é relativamente normal em um processo democrático. Mesmo em um processo democrático confuso e particular como o italiano. O que o país está assistindo hoje, porém, é algo novo. Chama-se anti-política, e tem como seu principal divulgador Beppe Grillo. Através de seu blog (um dos mais lidos no mundo), o cômico exilado da TV conclama as massas contra tudo o que os políticos - A Casta - representa. Sua audiência é, basicamente, jovem (todos abaixo de 40 são jovens, na Itália) e muito, mas muito expressiva. Atira para todos os lados, não poupa ninguém. Ficou famosa uma de suas battute sobre uma visita à China do então Presidente do Conselho, o socialista Bettino Craxi:

La cena in Cina... c'erano tutti i socialisti, con la delegazione, mangiavano... A un certo punto Martelli ha fatto una delle figure più terribili... Ha chiamato Craxi e ha detto: "Ma senti un po', qua ce n'è un miliardo e son tutti socialisti?". E Craxi ha detto: "Sì, perché?". "Ma allora se son tutti socialisti, a chi rubano?".
(monologo durante la settima puntata di Fantastico 7, 15 novembre 1986)


Desde os anos 90, Grillo não aparece mais na TV. Milita sua democrazia diretta em praças e na web. Se lança em campanhas das mais variadas, como a Via dall'Iraq, pressionando para a retirada das tropas do conflito iraquiano, ou o Parlamento pulito, uma proposta para impedir o acesso ao parlamento de quem tenha sido condenado de forma definitiva. Sua ideologia se baseia na vocalização dos anseios e reclames da massa, segundo ele cada vez mais distante do processo político. É a anti-política.

No último dia 8 de Setembro, o Vaffanculo-Day, o povo saiu às praças em 180 cidades italianas para apoiar a proposta de limpeza do Parlamento elaborada por Grillo e seus colaboradores. Seus discursos fortes, que por vezes se tornam até mesmo ofensivos, repercutem desde então (o vídeo integral da apresentação de Grillo em Bologna pode ser visto aqui). E é justamente esta última iniciativa da anti-política de Grillo tem lhe concedido significativo espaço nas redes de televisão e movimentado discussões por todo o país.

terça-feira, 25 de setembro de 2007

Clash of the Titans e os filmes do início dos anos 80

Esses dias, Daniela escreveu sobre Perseu no Baile no Céu. Inspirados pelo mito, resolvemos assistir a Clash of the Titans (em português, Duelo de Titãs), um filme de 1981 que conta justamente uma das versões da história do herói mitológico que matou a Medusa.

Tirando algumas coisas inexplicáveis, como o fato do monstro que ameaça Andrômeda ser um Kraken que parece ter saído de um episódio de Spectroman (!!!) ou a corujinha mecânica que Atena envia para ajudar o herói (me pareceu que os produtores quiseram empurrar um comic relief inspirado no R2D2), o filme é razoável. Definitivamente, não são atuações dignas de Oscar, alguns efeitos especiais são toscos mesmo para os padrões de 1981 e determinadas cenas se arrastam a ponto de dar sono, mas... é divertido, de certa forma.

O mais curioso é que eu lembrava, vagamente, de ter visto esse filme em algum momento da década de 80, possivelmente por volta de 1986, 1987, em alguma Sessão da Tarde durante o Verão. E, de acordo com minha lembrança, o filme era muito melhor do que esse que eu vi recentemente. Esse fenômeno, penso, é comum: tudo o que é relacionado com a infância parece ser mais especial em nossa memória do que quando olhamos com os olhos mais críticos de adultos.

Ver esse filme também me fez perceber o quanto algumas obras cinematográficas do início da década de 80 me marcaram. Acho que foi porque foram os primeiros filmes que assisti tendo capacidade cognitiva para entender o que estava acontecendo. Filmes como Krull (1983), Gremlins (1984), Ghost Busters (1984) e, mais tarde, Ladyhawke (1985), The Goonies (1985) e Enemy Mine (1985), entre outros tantos, ainda hoje me trazem recordações carinhosas de um tempo em que eu não era tão crítico (ou chato, como queiram), e que os filmes me divertiam mais facilmente. Alguns continuam bons, resistem à prova do tempo. Outros, é melhor nem assistir de novo.

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

La Nuova Strada

Mais uma poesia da Nana. Desta vez, acho que inspirada no trecho da música do Bob Dylan que postei em homenagem a ela esses dias.

LA NUOVA STRADA
" DAMMI LA MANO
ANDIAM,ANDIAMO!
" PER QUALE STRADA ?
" LA NUOVA...DAI.....
MA NON LO SAI ?
L´ALTRA ÈSPEZZATA,
DIREI..BLOCCATA
" LUNGO È IL CAMMINO.....
" PER IL SENTIERO È PIÙ VICINO !
" LA NOTTE È SCURA......
" NIENTE PAURA....
CHE C´È LA LUNA !
" NON È ROTONDA..
" ANDIAM SULL´ONDA
CI SON LE STELLE....
GUARDA CHE BELLE !
CI SIAMO NOI
E SE TU VUOI
PUOI DARMI UN BACIO
ED UN ABBRACCIO !
" MA VIRTUALE....
" SÌ, NON FA MALE !
STRINGIMI FORTE..
SEI MIA, CHE SORTE !
SU EM ES ENNE
NON È PERENNE,
NESSUN CI TROVA
PURE SE PROVA.
SIAMO FELICI !
" TU PURE..DICI ?
" CERTO, TESORO !
DIMAN TI TROVO ?
" SU SKYPE SARÒ....
" TI ASPETTERÒ !
NANA

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Dia do Gaúcho!

Ontem foi 20 de Setembro, aniversário do início da Revolução Farroupilha (ou Guerra dos Farrapos, como querem alguns), o mais longo conflito armado americano em todos os tempos. Neste dia, em 1835, os rebeldes tomaram Porto Alegre, capital da província, e prenderam o governador e outros representantes do governo central. A República Rio-Grandense seria proclamada só quase um ano depois, em 11 de Setembro de 1836, pelo General Neto. A paz definitiva veio apenas em 1845.

Aqui na Itália, bem longe de Porto Alegre, lembramos do feriado mas, vergonhosamente, não tomamos nem um chimarrãozinho pra comemorar! Aliás, que coisa esquisita isso de comemorar. Como disse meu pai, "perdemos a guerra e fazemos toda essa festa; imagina se tivessemos ganho!". Coisa de gaúcho.

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

La Pioggia (Filastrocca ecologica)

Continuando com as poesias:

LA PIOGGIA (Filastrocca ecologica)

La pioggia cade e vuol parlare,
dir tante cose: devi ascoltare!
Ti chiede scusa pei molti danni
senza aver colpa dei tuoi malanni.
Se le casette fatte di niente
lei butta giù lasciando gente
senza capanna, tetti bucati
mille bambini sporchi affamati,
se delle strade ne fa ruscelli
che portan via i poverelli
e qual formiche muoion sovente,
colpa non ha, tienilo ammente!
(noi sì l'abbiamo)
Noi che scambiamo verdi foreste
per il denaro, pure se peste
regaleremo all'umil gente
e non un tetto quasi decente..
Se terra arida, gente assetata
nella miseria mal sopportata
lascia, perché non cade là
e le sementi piantate già
con tanto amore dal contadino
non diverranno pane nè vino
triste si sente, anche perché
imploran gli alberi: "Vogliamo te!"
Dobbiamo noi che siamo gente
e se vogliamo, intelligente,
cambiar le cose: utilizzare
tanta saggezza e far tornare
la pioggia buona che dalla serra
dolce vien giù e non sotterra
le catapecchie sì malandate
ma sol ristora l'erbe assetate.
Sennò... addio mirabil mondo,
neppur potrai restar rotondo!

Nana

terça-feira, 18 de setembro de 2007

E lá vem o iPhone

É intenso o burburinho sobre o lançamento europeu do iPhone. A Apple convocou uma coletiva de imprensa em Londres nesta terça-feira na qual, espera-se, será divulgado o operador móvel que terá a exclusividade de venda do aparelho. Fortes especulações recaem sobre a Deutsche Telekom, na Alemanha, Telecom Orange, na França, e O2, no Reino Unido. Nada de Itália e Espanha, portanto, onde o pré-pago é muito mais difundido.

O preço deve ficar em €399. Valor extremamente alto para os padrões europeus, mercados nos quais é comum a prática de fornecer o aparelho sem custo para o cliente quando este contrata um plano de longo prazo. Notícia do Guardian divulgada pela Reuters dá conta que a operadora O2, que deve ter a exclusividade do iPhone na Inglaterra, consentiu em repassar 40% da receita com os clientes que contratarem os planos associados ao telefone da Apple. É um valor absurdo.

Nessas horas, me pergunto sobre o impacto global do iPhone no mercado de celulares. Mercado que, por sinal, venho aprendendo a entender mais a fundo por questões profissionais. Recentemente, a Apple anunciou que atingiu a marca de 1 milhão de aparelhos vendidos nos EUA, através da AT&T. Belo número, ainda mais levando-se em conta que as projeções otimistas da companhia indicavam que esta marca seria atingida apenas no final de Setembro. Um grande impacto, então? Bom, talvez não, quando pensamos que a Nokia vende cerca de 1 milhão de aparelhos em... um dia.

Claro, o iPhone não é apenas um telefone. Ele representa um conceito, uma idéia. É uma marca, um símbolo de sofisticação tecnológica. Alavanca vendas cruzadas de outros produtos Apple, como fez - e ainda faz - o iPod. Mais do que isso, promove desejo de mudança nos consumidores, que passam a dispensar mais atenção à idéia de trocar de aparelho. E, talvez o mais importante, impulsiona os demais fabricantes a repensar seus conceitos, lançando novos aparelhos com características similares. Difundem-se inovações, como a tela sensível ao toque, e ganhos de eficiência em atributos já antigos, mas renovados no iPhone, como a integração da música digital no celular e o design fino e atraente. Em poucas palavras, estimula-se a competição. Quem ganha, no fundo, é o consumidor.

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Grêmio 1 x 0 Internacional

Um a zero. Placar magro, mas valeram os três pontos. Inter praticamente sepultado no Brasileiro e o Grêmio na beirada da zona de classificação pra Libertadores 2008.

Como é bom ganhar Grenal!