sexta-feira, 29 de junho de 2007

Life is... iPhone, now!

E pra não dizer que deixei o lançamento do iPhone passar em branco, lá vai: hoje é dia de lançamento do iPhone nos EUA. Aqui na Europa, deve chegar antes do final do ano.

Especula-se que a Vodafone será a operadora europeia parceira da Apple. Ontem fui em um evento sobre Mobile Content e, em uma das mesas-redondas, estavam presentes diretores de três das quatro operadoras móveis da Itália: Vodafone, TIM e 3. Perguntados sobre o iPhone e a perspectiva de cobrar flat rates para acesso a dados nas redes móveis, todos foram categóricos: o consumidor não tem condições de pagar o preço necessário para cobrir os investimentos com infra-estrutura que permitam acesso ilimitado e de qualidade à web através dos telefonini.

Então tá. Enquanto isso, Life is... now!

Mais poesia da Nana: La Casa Bianca

La casa bianca non la rividi.
Le rose rosse eran già morte,
laddove uccelli facevan nidi
c´era un palazzo sì alto e forte
da far paura.I gelsi amici
e dolci e cari eran spariti
I muri grigi parean nemici
ai passerotti impauriti.
Il cuore stretto da tanta pena ,
negli occhi ancora il verde antico ,
stolta, cercavo l´ora serena
di quell´infanzia che benedico.
La ritrovai com´era ieri
soltanto in sogno; pareva vera!
La ritrovai in quei sentieri
lunghi,di terra, che ognor leggera
come gazzella che va correndo,
li percorrevo lieta vivendo!

quarta-feira, 27 de junho de 2007

A Vida do Fazendeiro de Ouro Chinês

Esta é a livre tradução do título de um recente artigo do The New York Times que me impressionou muito, de autoria de Julian Dibbell.

Trata-se de um dos artigos mais impactantes que já li sobre vida digital. Faz uma reflexão sobre a economia real dos jogos virtuais massivos, ou MMO (de Massive Multiplayer Online games). Primeiro, o autor mostra um pouco da vida dos gold farmers chineses, ou seja, jogadores-trabalhadores que ganham pouco mais de US$ 0,30 por hora para juntar gold coins no jogo World of Warcraft. Essas gold coins, que são a moeda circulante do mundo virtual onde se passa o jogo, são em seguida comercializadas para jogadores americanos ou europeus que não tem tempo - ou interesse - em acumular a riqueza virtual necessária para adquirir novos itens ou poderes para seus personagens. A prática chinesa de transformar qualquer coisa em commodity chegou até mesmo aos jogos online. E as condições de trabalho, segundo a reportagem, não são muito diferentes do que se costuma criticar no setor industrial chinês: turnos de 12 horas, folgas de três noites por mês (quando muito), trabalho repetitivo e cansativo e condições ambientais precárias.

O artigo conta também como a Donghua Networks, uma das diversas empresas chinesas que atuam no setor, vende power leveling: por US$ 300,00, aproximadamente, os jogadores da empresa assumem um determinado personagem de World of Warcraft por um tempo fixo, usualmente 24 horas ininterruptas. Evidentemente, utilizam de todas as estratégias possíveis para maximizar o desenvolvimento do personagem, conferindo uma experiência e poder que um jogador normal, em ritmo de jogo normal, levaria meses para alcançar. De novo, jogadores americanos e europeus "preguiçosos" são os principais clientes.

O artigo traz também um pouco da reação das empresas de jogos e de jogadores "normais" (aqueles que não gostam de misturar dinheiro ao jogo - fora o que pagam pelas assinaturas, claro!) contra essas práticas. A maioria das empresas tenta banir contas de gold farmers (mas, obviamente, não agem contra as contas dos jogadores que compram os produtos chineses). Por outro lado, jogadores articulam-se em verdadeiros grupos de extermínio para "caçar chineses", como dizem.

Outra questão em discussão refere-se aos leilões de itens virtuais. A eBay, maior empresa de leilões online, baniu a prática em Janeiro deste ano. Mas o mercado de compra e venda de itens virtuais já não prescinde mais da eBay. Grandes "atacadistas" assumiram posição, e vendem de tudo - das moedas de ouro colhidas pelos chineses até armas e armaduras mágicas praticamente inacessíveis aos jogadores normais.

Tudo isso evidencia o que já expus em outros posts sobre a construção de novas regras sociais e cognitivas em ambientes virtuais. Incrivelmente, os fazendeiros chineses (pelo menos aqueles mostrados no artigo) gostam do que fazem. Nas palavras deles, não é apenas trabalho. Sinceramente, não sei até que ponto 12 horas por dia, sete dias por semana na frente de um computador jogando repetidamente a mesma coisa se qualifica como diversão. Mas o fato é que, surpreendentemente, nas horas de folga os fazendeiros de ouro chineses se dedicam a... seus próprios personagens de World of Warcraft!

Surpreendente também a magnitude do mercado dos jogos massivos. Enquanto a mídia dá toda a atenção para Second Life, com seus 6,5 milhões de usuários cadastrados (dos quais apenas 2 milhões parecem ser usuários únicos e, destes, cerca de 10% mantém uma participação efetivamente ativa), a população de jogos online deve estar na casa dos 30 milhões. Apenas World of Warcraft, o mais famoso, possui aproximadamente 8 milhões de contas ativas. O jogo, elaborado pela Blizzard Entertainment, rende US$ 1 bilhão ao ano em assinaturas, um mercado nada desprezível. Apenas na China, Dibbell estima que cerca de 100.000 pessoas trabalham em empresas como as descritas no artigo, movimentando anualmente US$ 1,8 bilhões em bens virtuais ao redor do mundo. Outra estimativa do artigo coloca entre US$ 7 e 12 bilhões o "produto interno bruto" da economia digital global, agregando os demais 80 e tantos jogos MMO atualmente oferecidos.

São fatos e números que fazem pensar no quanto a convergência entre real e virtual está próxima.

segunda-feira, 25 de junho de 2007

Museo della Scienza e della Tecnologia Leonardo da Vinci

Ontem Daniela e eu fomos passear em Milano. Visitamos o Museo della Scienza e della Tecnologia Leonardo da Vinci. Queríamos também conhecer a Basílica de Sant'Ambrosio, mas está fechada para restauros até Setembro próximo. De qualquer forma, a visita ao museu já foi de bom tamanho: quase cinco horas de um passeio muito divertido e instrutivo.

Inaugurado em 15 de fevereiro de 1953, o museu ocupa o Monastero di S. Vittore, antigo convento degli Olivetani. A concepção do museu é muito legal: além de muita Ciência e Tecnologia, traz também Arte. A coleção de astronomia, por exemplo, apesar de pequena era bastante rica, e continha globos terrestres e celestes da segunda metade do século XVII e curiosos instrumentos astronômicos do observatório de Brera. Da mesma forma, instrumentos musicais de diversas épocas complementavam a coleção dedicada aos sons, sutilmente alinhando Física e Música.

Gostei também das coleções de transporte, especialmente o pavilhão ferroviário. Ver aquelas locomotivas, navios e aviões faz pensar no esforço que o ser humano tem empreendido, ao longo dos séculos, no aprimoramento da tecnologia. Da mesma forma, as reproduções dos mecanismos projetados por Leonardo da Vinci fazem pensar na inventividade do gênio humano. Inventividade e genialidade que se mostram, também, no Astrario del Dondi, exposto na sessão de orologeria. Daniela certamente falará mais sobre ele no Baile no Céu.

De negativo, o fato de que os laboratórios estavam todos fechados, talvez porque era domingo. Em especial, me interessavam os laboratórios de Telecomunicazioni, Internet e Movimento. Também fiquei muito chateado por não ter conseguido visitar o sottomarino Enrico Toti, talvez a mais interessante atração do museu. Finalmente, fiquei decepcionado com o fato de que duas sessões que prometiam muito estavam fechadas para allestimento: a de Trasporti Aerei (embora houvesse aviões a reação expostos no exterior do pavilhão) e Telecomunicazioni.

Como sempre, fotos no nosso álbum.

Que Suécia que nada, pioneira é a Maldiva!

Há algumas semanas escrevi sobre o fato da Suécia ser a primeira nação "real" a abrir uma embaixada no Second Life. Foi exatamente isso que li em uma reportagem da Reuters de 30 de maio passado. Não teria porque duvidar da Reuters, uma agência de notícias de renome mundial, né?

Bom, parece que a Reuters não fez sua pesquisa direito. Lendo o excelente blog Philosophy of Information, do professor de Ética e Epistemologia Luciano Floridi, descobri que a República das Maldivas ganhou da Suécia. Coisa pouca, cerca de uma semana, mas essa pequena nação insular do Pacífico com pouco mais de 300.000 habitantes (a título de comparação, Second Life tem cerca de 6,5 milhões de usuários) é, até segunda ordem, a verdadeira pioneira na onda da virtualização nacional.

Além desta curiosidade, notei que o Professor Floridi parece concordar comigo com relação à importância do Second Life (e, por extensão, de jogos multiplayer online) na estruturação de futuras relações sociais e cognitivas humanas. Um trecho do post dele:

SL is nothing short of the largest and most realistic thought experiment ever attempted, a true mine for philosophical research.
Entre os questionamentos que a popularização da Second Life suscita, podemos mencionar o estabelecimento da identidade social, as construções individual e social do self e a emergência de comunidades com seus próprios códigos e regras de ética fundados em relações impraticáveis no mundo real.

Ao mesmo tempo que nos convida a partilhar dessa experiência inovadora, Professor Floridi também coloca dois avisos importantes. O primeiro refere-se ao aspecto político e ético, uma vez que Second Life, nos moldes que o conhecemos hoje, é um sistema de informação com fins lucrativos gerenciado por uma corporação com seus próprios interesses. Importantes questões sobre ética no desenvolvimento de sistemas surgem desta percepção, e devem movimentar politicamente os avatares.

O segundo aviso diz respeito aos perigos psicológicos de se viver em uma realidade em que se pode ter outra identidade, onde se pode estabelecer outros tipos de relações sociais. No mínimo, há o risco de estabelecer algum tipo de dependência psicológica, ou de que a atenção dedicada à Second Life atrapalhe a First Life. Porque até segunda ordem vivemos, ainda, na carne e osso da First Life.

sábado, 23 de junho de 2007

C'è Poesia Nell'Aria

Nana è anche poetiza:
C'è poesia nell'aria
per chila vuol sentire:
non lasciarla morire!

C'è tanto amor nell'aria
per chi la vuol provare:
gli bastarà tentare!

C'è freddo ora nell'aria
per chi non ha il suo amore:
riscalda questo cuore!

C'è nostalgia nell'aria
per chi non sa aspettare:
ti prego, non tardare!
Bello, no?

sexta-feira, 22 de junho de 2007

Il Signore del Falco: Teimosia ou Obstinação?

Finalmente, terminei de ler "Il Signore del Falco". Não sei se foi obstinação ou teimosia, mas o fato é que o livro é muito ruim. Nota-se que a autora, uma crítica de arte milanesa, dedicou-se à pesquisa sobre Milano medieval. Uma pesquisa louvável (aliás, o único louvor do livro) que ela transferiu para o papel através de descrições detalhadas (maçantes, geralmente) de lugares e personagens típicos da época.

O problema, a meu ver, é que não havia uma história, um enredo que ligasse essas descrições. Não havia conflitos a serem resolvidos nem profundidade nos personagens. O óbvio era óbvio mesmo, não havia reviravoltas ou suspense. O vilão, caricaturizado, era ridículo, capaz de estragar sozinho seus planos. O protagonista era um monge inglês com tendências a rebeldia que parecia não saber onde estava nem o que fazia. Totalmente sem sabor. Na verdade, nenhum personagem tinha um mínimo de carisma, nada com que o leitor pudesse se identificar.

E, para piorar, eu ainda achei o livro mal escrito. Personagens de oito e dez anos dialogam com adultos usando uma linguagem totalmente fora de contexto que, na verdade, apenas reproduz a mesma linguagem que a autora utiliza nas demais passagens descritivas (maçantes, reforço). Personagens agem e reagem de modo exagerado e irreal sem qualquer justificativa para tal (como, por exemplo, para eventualmente enfatizar irracionalidades de época como o fanatismo religioso, ou conflitos internos dos personagens, que inexistem). Por sorte, não conheço muito da história local para notar erros factuais na narração, mas dada a falta de qualidade do resto, não duvido que também estejam presentes.

Pois bem, não foi obstinação. Com tanta coisa boa para ler no mundo, ler "Il Signore del Falco" foi uma demonstração de teimosia burra da minha parte.

Os Colorados e a Secação

Acho que vale a pena comentar sobre as reações coloradas à final da Libertadores 2007. Incrível como, mesmo campeões mundiais, os colorados em geral não deixaram de torcer contra o Grêmio e, após a segunda partida, de colher os louros da vitória argentina. As eternas "secação" e "flauta" típicas da nossa rivalidade local.

Embora às vezes divertidas, especialmente quando restritas a amigos entre os quais há pactos sociais de aceitação de limites, bem como cumplicidade e compreensão mútua, vejo um aspecto negativo quando esses comportamentos se tornam generalizados, massificados e ampliados. Pois refletem uma postura de certa forma covarde: o secador se exime do confronto, ou seja, se perder, "tudo bem, não é mesmo meu time". Do outro lado, essa perceção de covardia gera revolta, alimentando um ciclo que, se entre amigos gera diversão, entre quase desconhecidos gera ódio. Tal revolta ainda é pior quando ela é aliada ao oportunismo, ou seja, quando pessoas que nunca se declaram fanáticas por um time ou outro, ou mesmo por futebol em geral, entram na brincadeira.

Vale lembrar que a Internet e as novas TIC facilitam muito a difusão de idéias e permitem a qualquer um se manifestar sobre qualquer coisa. A amplificação do alcance da secação, da flauta e das reações a elas é evidente, e com isso há também a derrubada dos limites de aceitação e compreensão dos limites de civilidade. Vejo muito potencial para conflito a partir dessa massificação, e o aparente crescimento da violência motivada por futebol pode passar por aí. Comunidades do Orkut, MSN e outros comunicadores instantâneos, vídeos de YouTube e blogs são algumas ferramentas que, se não usadas com a civilidade e responsabilidade que uma tecnolgia de comunicação de grande alcance requer, podem gerar muito estresse a partir de uma rivalidade esportiva que deveria ser saudável e divertida.

Surpreendente também foi notar como o "Eu acredito" da semana que antecedeu o segundo jogo se extendeu aos colorados. Parecia que mesmo quem torcia contra sabia que o Grêmio poderia dar a volta por cima e, por isso, ficou calado. Claro, meu universo de percepção aqui na Itália é muito reduzido, mas foi o que pude perceber da minha perspectiva online. Mais um tributo à grandeza da equipe, ainda que limitada, e da torcida, que literalmente carregou o time até a final.

quinta-feira, 21 de junho de 2007

Com o Grêmio onde o Grêmio estiver

Não será desta vez que vou ver meus dois times jogando pelo Mundial. O Milan, pelo menos, estará lá, vingando o Grêmio.

Ontem, ficou claro que o Tricolor não soube conter a imensa expectativa que se criou em torno do mito da recuperação. Sabendo que tinham que marcar ao menos um gol ainda no primeiro tempo, os jogadores ficaram exageradamente afoitos. Tentavam lançamentos de muita distância, facilitando as coisas para a bem postada defesa argentina. Lúcio e Carlos Eduardo foram os destaques do primeiro tempo, enquanto Tcheco e Tuta sucumbiram à marcação. Apreensivos, foram para o vestiário sem o gol necessário. Pior, o Boca jogava e levava perigo.

No segundo tempo, melhoras no time, principalmente com a entrada de Amoroso. Porém, o Boca ainda jogava. Tanto jogava que soube marcar dois gols com o craque do time, Riquelme. Ainda perderam um pênalti. Festa justificada para os hexacampeões argentinos, mas muito orgulho para o Tricolor. Orgulho da superação de um time limitado que foi longe na competição, ao contrário de equipes consideradas favoritas que foram ficando pelo caminho. Orgulho do passado, incluindo dois títulos continentais, e do futuro, que pode ser ainda mais glorioso se os efeitos da derrota forem superados. Orgulho, principalmente, da torcida, a melhor do mundo. Com o Grêmio onde o Grêmio estiver.

quarta-feira, 20 de junho de 2007

Eu acredito

"Eu acredito" é o que mais tenho lido e ouvido ultimamente da torcida gremista. A mítica da superação, do vencer o impossível, de provar a Imortalidade tem definido o time e a torcida tricolor em 2007. E nada mais impossível do que transformar o 0x3 em, ao menos, 3x0. Ainda mais tendo o Boca pela frente.

Mas nada é impossível para aquele time que renasceu em Recife em 27 de novembro de 2005, quando venceu um jogo por 1x0 na casa do adversário com 7 jogadores em campo, tendo um pênalti contra aos 35 minutos do segundo tempo. Por isso, do Grêmio eu não duvido!

terça-feira, 19 de junho de 2007

O Curso de Italiano e os Estrangeiros na Itália

No último sábado, dia 16, Daniela e eu fomos na Universidade de Novara para receber nossos diplomas do curso de italiano para estrangeiros. Quem diria!! Foi uma cerimônia simples, mas muito aconchegante. Daniela tirou um 10 sobre 20 (equivalente a nota mais alta do nível Intermedio Medio), enquanto eu fiquei com 8 sobre 20 (a nota mais baixa do mesmo nível).

A comunidade de Sant'Egidio, através da Scuola Luis Massignon, está de parabéns pela iniciativa. Em 2006/2007, foram mais de 600 estrangeiros inscritos apenas em Novara, dos quais cerca de 225 fizeram o exame. Essa mistura de culturas, idiomas, visões de mundo e religiões em que fomos inseridos foi muito instrutiva, e nos fez reavaliar constantemente a situação dos imigrantes na Itália.

Entre os nossos colegas, muitos oriundos da Europa Ocidental (romenos, ucranianos e albaneses, sem dúvida os mais numerosos), da África (nigerianos e marroquinos, principalmente) e da América do Sul (predominância de brasileiros e peruanos). Eles vêm buscar a sorte na Itália porque, via de regra, a situação econômica e social dos países de origem é deprimente. Encontram, sim, o trabalho de que tanto precisam. A imensa maioria tem empregos simples, como muratores ou badantes, empregos esses que os italianos não desejam mais. Ou então, buscam trabalho na zona rural em torno da cidade, cuidando de animais ou trabalhando nas plantações de arroz.

Encontram também, porém, muito preconceito. Os italianos são, em geral, simpáticos e acolhedores com estrangeiros mas, ao mesmo, tempo muito conservadores. Por isso, é muito difundido o racismo e a intolerância, sobretudo quando à diferença cultural se soma uma significativa diferença econômica. Nota-se que a imprensa de destra, ou seja, aquela mais identificada com Berlusconi, faz questão de sublinhar sempre que possível a questão da imigração. Quando há um crime cometido por um extra-comunitário, a nacionalidade do envolvido fica clara já na manchete.

Nós, por enquanto, ainda não sentimos na pele qualquer tipo de preconceito relacionado com nossa nacionalidade. Possivelmente porque, como disse a Angela, prima do pai, voi non siete stranieri, ou seja, "vocês não são estrangeiros". Sim, eu tenho nacionalidade italiana. Além disso, Daniela tem traços nitidamente europeus, pele branca e cabelos loiros. Já nos comunicamos em italiano e temos uma relativa segurança econômica, sem precisar trabalhar (e "roubar" empregos deles) pra isso. Enfim, para os italianos, não somos estrangeiros... Com todas as implicações implícitas dessa categorização.

segunda-feira, 18 de junho de 2007

Domenica in famiglia a Piacenza

Ontem, domingo, Daniela e eu fomos a Piacenza.

Estávamos aguardando esta visita com ansiedade. Piacenza é a cidade da família Cortimiglia, era lá que morava a bisnonna Angiolina (Via Nicolini, 19). Foi realmente emocionante. Conhecemos Angela Bassi e seu marido Mario Corbellini. Angela é prima do meu pai, filha de Amelia, irmã do meu avô. Eles foram muito mais carinhosos do que poderíamos imaginar, nos sentimos novamente em família. Nos presentearam com um monte de fotos antigas dos meus avós e do meu pai, inclusive diversos registros do casamento da Nana.

Conhecemos também uma prima da Angela, Marisa, sua filha Elena e os pequeninos Francesco (3 anos) e Margherita. Nos receberam na estação com balões verde-amarelos e gritos de "Marcelo, Marcelo". Foi lindo!

Já colocamos as fotos da viagem no nosso álbum Picasa.

sábado, 16 de junho de 2007

O caso do novo nome

Aconteceu uma coisa curiosa comigo aqui na Itália antes de eu iniciar esse blog que acho que vale a pena contar: mudaram meu nome. É, simples assim: me disseram que a partir de determinado dia meu nome seria outro...

Explico. No Brasil, costuma-se usar um sobrenome duplo, contendo o nome da família da mãe em primeiro lugar e, por último, o nome da família do pai. Todos os documentos brasileiros, do passaporte à cédula de identidade, passando pela certidão de casamento me "conhecem" como Marcelo Nogueira Cortimiglia. Sempre foi assim, ok, já estava até acostumado!

Aqui na Itália não, se usa apenas um sobrenome: o do pai. Tradição, machismo, sei lá. Mas o fato é que é assim, e é muito complicado mudar. Pois bem, quando me registrei no comune aqui em Novara, acharam estranho esse negócio de dois cognomi. Mas tudo bem, expliquei que tenho dupla nacionalidade, e que o cognome da família paterna era Cortimiglia e puft, lá foi a atendente consultar sei-lá-quem pra saber o que fazer. Espera, espera, mais espera. E a paciência terminando...

No fim das contas, ganhei minha carta d'identità com um nome curto: Marcelo Cortimiglia. Ok, não perguntei nada, afinal estava feliz por ter resolvido aquele problema. Pra falar a verdade, até achei normal, nada diferente do esperado. Só achei estranho não terem perguntado o que eu achava, não terem confirmado se eu não me importava! Dias depois, recebi uma comunicação oficial por carta comunicando o meu "novo" nome.

O interessante é que agora minha dupla cidadania está completa com dois nomes!

quinta-feira, 14 de junho de 2007

Pra provar que é Imortal

Foi pouco jogo do Boca para 3x0. Pelo que ouvi e li, o Grêmio estava controlando bem a partida, embora não atacasse muito. A explusão do Sandro foi definitiva, eu acho. E o gol irregular, claro. Espero que o Mano consiga motivar os jogadores, e que a torcida faça sua parte. Quarta que vem, em Porto Alegre, é pra provar que o Tricolor é Imortal mesmo.

Aqui na Itália, no fórum da Gazzetta dello Sport, uns 98% dos comentários querem o Boca no Mundial. São os milanistas querendo mais uma revanche, já que o Boca foi campeão em 2004 justo em cima do Milan.

No mais, só se fala no calcio mercato, ou seja, as transferências e contratações para a próxima temporada. Trezeguet foi embora da Juve, o Milan quer mais um atacante que pode ser o francês, ou mesmo Eto, do Barça. Ronaldinho é sonho antigo de Berlusconi, mas custa 100 milhões de euros. Muito dinheiro, mas dizem que o Milan TEM isso tudo! Não tem como competir com eles, é muita riqueza circulando por aqui.

terça-feira, 12 de junho de 2007

A poluição nossa de cada dia

Deu no The New York Times: as cidades do Norte da Itália são as mais poluídas da Europa (link para a matéria).

Segundo a reportagem, no primeiro trimestre de 2006 as cidades de Milano, Torino, Bologna e Venezia haviam excedido os limites estabelecidos pela União Européia e pela Organização Mundial da Saúde em mais da metade do tempo. Milano foi a campeã, com 64 dias de medições acima do limite em apenas três meses. Em 2007, a situação não melhorou - ao contrário, parece ter piorado.

A smog, como é chamada aqui a mistura venenosa de poluição, origina-se basicamente das emissões de veículos com motores a combustão. Milano, a propósito, sofre de imensos e intricados traffic jams, mesmo tendo um sistema de transporte público eficiente, razoavelmente barato e, mais importante, quase totalmente limpo. Trams e ônibus são movidos a eletricidade, e o metrô tem ampla cobertura.

Aqui em Novara é outra história. Ar limpo, trânsito calmo. Bella città.

segunda-feira, 11 de junho de 2007

O Relógio de Bush

Deve ter passado também no Jornal Nacional. Por aqui, a grande notícia da visita de Bush a Albânia foi o roubo do relógio presidencial. Simplesmente hilário! Enquanto cumprimentava pessoas na rua, Bush teve o relógio arrancado do pulso por um espertalhão misturado à multidão. Pelas imagens da TV, o presidente não teve qualquer reação. Talvez, estupefato pela popularidade e carinho com que foi acolhido em Tirana (algo com que decididamente não está acostumado em casa), não tenha nem se dado conta.

Curioso também como a mesma notícia foi abordada nas duas grandes redes de televisão italianas. No telejornal da Rai 2, rede estatal do governo de centro-sinistra, um tom razoavelmente equilibrado: o comentário foi algo do tipo "um fã do presidente provavelmente quis ficar com um souvenir". Já no telejornal da Mediaset, rede de televisão do conservador Berlusconi, foi claramente sottolineato que "um albanês" roubou o relógio de Bush. A matéria transbordava preconceito. Convém lembrar que, entre os estrangeiros, os albaneses estão entre os mais mal considerados pelos italianos.

sábado, 9 de junho de 2007

Notícias da Europa

A notícia do dia hoje foi a visita de Bush a Roma. Todos os instantes do presidente americano foram fotografados e registrados pela imprensa. Nada de mais, na verdade: encontro formal com o presidente Napolitano, visita ao Papa no Vaticano, encontro com a Comunità di Sant'Egidio na Embaixada, almoço com Romano Prodi e, no fim da tarde, café com Berlusconi. A propósito: Bush se considera amigo pessoal tanto do Cavaliere quanto do Professore.

Enquanto isso, Roma "blindada". Duas manifestações anti-guerra, anti-USA & anti-Bush, não necessariamente nessa ordem. Segundo os manifestantes, 150 mil pessoas. Segundo a polícia, 12 mil. Fico com a estimativa da polícia, pelo menos de acordo com o que deu pra ver na TV. Curiosa a participação de membros do governo nas manifestações, nas quais sobraram até críticas para... o próprio governo. Não é só a esquerda brasileira que tem crise de identidade. Aqui, o tal governo de "centro-sinistra" sofre do mesmo problema de conciliar interesses, ideologias e inteções conflitantes ao longo de um largo espectro político que vai da esquerda radical, verdadeiramente comunista, passando por verdes e reformistas moderados de centro e terminando nos oportunistas de sempre, que mudam de ideologia sempre que muda o governo.

Muito mais interessante foi o encontro do G8, na Alemanha. A premier tedesca Angela Merkel foi hábil em negociar as exigências europeias quanto à redução de emissões de carbono com Bush. Não conseguiu nada de concreto, apenas referências vagas de planos para contenção de estragos até 2050, mas mostrou capacidade política que a coloca como uma verdadeira líder da Europa.

Putin, por sua vez, chegou como quem não quer nada, calado, discreto. Porém, surpreendeu ao amenizar as declarações contra o escudo anti-míssil que Bush quer levantar na Polônia e República Tcheca. E foi além: propôs aos EUA o uso de um sistema de radar em pleno Azerbaijão, nas portas do vilão Irã. Bush ficou de pensar. Faz muito mais sentido derrubar os eventuais mísseis no início da trajetória: as chances de interceptação são maiores, e a Europa não precisaria lidar com chuva de destroços nas suas casas. Mas pra Bush o fato da solução fazer sentido não significa muito...

E pra quem achava que Putin estava amolecendo, o ex-espião da KGB mostrou as garras logo em seguida: deixou bem claro que não aceitará a declaração de independência de Kosovo, e que usará o poder de veto da Rússia na ONU, se necessário. Os americanos já sinalizaram que podem reconhecer Kosovo independentemente do que a ONU decidir. Quem disse que diplomacia e política internacional são coisas simples?

quinta-feira, 7 de junho de 2007

Rumo ao Tri da América

Mais uma vez o Grêmio decide a Libertadores. Eu vi o time de Felipão ganhar o bicampeonato em 95 e sinto que, de certa forma, esse Grêmio de 2007 espelha aquela equipe vencedora. Naquele campeonato também enfrentamos adversários fortes como foram São Paulo e Santos. O duelo com o Palmeiras estelar de Luxemburgo, por exemplo, do 5x0 em Porto Alegre e 1x5 em São Paulo. E na final, um time colombiano. Pode ser que a história se repita...

Ontem o jogo foi de arrepiar. Daniela e eu ficamos acordados até as 3 da manhã esperando o jogo. Quando o Grêmio marcou seu gol, até abrimos uma cerveja pra descontrair. Que nada! Pra começar, a cerveja era vinho (não sei explicar... era SIM vinho dentro de uma garrafa de cerveja e, não, eu NÃO estava bêbado). Além disso, aquela pressão do Santos. A angústia com o gol no final do primeiro tempo. A transmissão da Gaúcha pela internet não ajudava, e esperar a atualização dos minuto-a-minuto do ClicRBS e Terra era uma verdadeira tortura.

Feito o terceiro do Santos, desliguei tudo e fui jogar Quadradius. Só voltei quando já tinha acabado o jogo. Era sofrimento demais para uma noite, e já eram quase cinco da manhã... Mas pelo menos fui dormir feliz!

Forza Grêmio!!!

quarta-feira, 6 de junho de 2007

Da série "Estupidez sem limites"

Domingo escrevi que o Luxemburgo não era burro. O mesmo não se pode dizer do Sr. Jonas Greb, que se diz radialista da Rádio Trianon (AM 740) de SP. Na segunda-feira, dia 4, esse indivíduo, que por sinal é suplente de deputado estadual, acusou torcedeores do Grêmio e a Brigada Militar gaúcha de agredirem torcedores santistas. Empolgado, em seguida resolveu insultar todos os gaúchos. Alguns trechos selecionados:

"Não precisamos do Rio Grande do Sul na bandeira do Brasil. Vai embora, some, muda de país [...]. Vai ser outro país, vai fazer o país das bichonas."

"Vai pro inferno, todo gaúcho, todo gremista, vai tudo pros quintos dos infernos, não é gente!"


Para ouvir mais, clique aqui.

Mais tarde, assustado com a repercussão, resolveu contemporizar. Disse que se tratava de "jogo de cena", de uma encenação feita com o intuito de "apimentar" a decisão. Se desculpou com o povo do Rio Grande do Sul, ou melhor, com "todas as pessoas que se sentiram ofendidas". A Brigada Militar não aceitou a explicação e já avisou que vai processar o cidadão.

Tem gente que não pensa antes de falar, mesmo. O que esse Jonas Greb tem na cabeça?

Enquanto isso, ao vivo na RAI2, Itália 2 x 0 Lituânia. Dois golaços de Quagliarella.

domingo, 3 de junho de 2007

O Luxa não é bobo

Digam o que disserem do técnico do Santos, que ele é vaidoso, orgulhoso, marrento, talvez até mau caráter. Ele pode ser tudo isso, mas não é bobo. Logo depois da vitória do Grêmio, na última quarta, ele declarou que o Santos teve sorte de não ter levado mais gols.

Bem, o Grêmio dominou o jogo, mas me parece que tem algo a mais na declaração do Wanderley Luxemburgo. Me parece, e é por isso que digo que ele não é bobo, que ele está fazendo de tudo para jogar o favoritismo - e, com isso, a responsabilidade - para o adversário.

E a torcida do Tricolor caiu na armadilha. Tem muita gente achando que a vaga na final já está garantida. É importante o Mano Menezes enxergar esse lado motivacional e trabalhar o clima de vestiário para que os jogadores não se deixem levar pelo clima de "já ganhou". Se entrarem em campo com a cabeça já na final, um gol do Santos desmonta tudo.

Forza Grêmio!!!

sexta-feira, 1 de junho de 2007

Bill Gates ofusca a embaixada sueca... por enquanto

Ontem, escrevi sobre a abertura de uma embaixada da Suécia no Second Life. Achei que aquela era a mais relevante e curiosa notícia da área de TI do dia. Porém, parece que não foi essa a opinião geral. Os refletores estavam todos direcionados para Bill Gates e seu computador touch-screen. Quando cheguei em casa, inclusive, Daniela comentou sobre o novo gadget da Microsoft, que ganhou matéria própria no telejornal.

O fato é que realmente não vi nada de muito revolucionário no lançamento da Microsoft. Trata-se, me parece, de apenas uma melhoria incremental no conceito de touch-screens, incorporando aspectos de comunicação wireless de modo a permitir integração com outros aparelhos eletrônicos - como os exemplos da camêra digital e do celular colocados sobre o computador. Nada que me fizesse pensar "puxa, que gênios!". Hoje, para minha surpresa, li um editorial no The New York Times online que concorda comigo. Um trecho:

"There is nothing inherently strange or groundbreaking about flatness or horizontality or touch as an input device or even the illusion of actuality in the objects that appear on a computer screen. After all, we’ve been dragging and dropping for years, not to mention pretending that files are, well, files. What is a little uncanny is the idea of a two-dimensional screen recognizing three-dimensional objects that come in contact with it, though for the moment these are likely to be cellphones or P.D.A.’s, which seem themselves to be on the verge of becoming sentient. Perhaps only when Surface becomes widespread will it be clear what the keyboard and the mouse are really for: to keep your fingerprints off the screen."


Por outro lado, a embaixada virtual da Suécia me pareceu muito mais ground-breaking. Tenho a impressão de que, em alguns (arrisco a dizer poucos) anos, mundos virtuais serão bastante comuns, coisa do dia-a-dia. Já hoje jogos multi-player como World of Warcraft atraem públicos de centenas de milhares, se não milhões, de usuários, que estabelecem relações sociais de diversos tipos tendo como pano de fundo um cenário virtual imersivo, ainda que não exatamente realista. Realista, em termos, é o que prometem as iniciativas do tipo Second Life. Realista a ponto de trazer para os mundos virtuais não apenas entusiastas de jogos, mas também usuários normais de internet, que já estão acostumados a ver quem "está online" no MSN ou no Skype assim que conectam. Realista por fazer uso de um pano de fundo facilmente associável ao mundo real: prédios, ruas, escritórios, lojas e... embaixadas!

Essa virtualização da realidade deve provocar, em nível individual, mudanças profundas em termos comportamentais e, quem sabe, cognitivas. Talvez até fundamentos para repensarmos o que é realidade. Os avatares e as identidades virtuais permitem exatamente uma Second Life, uma segunda chance, uma nova vida mais de acordo com o que gostaríamos de ser, em oposição ao que somos na vida real. Pode ser um encarado como um refúgio para nerds e desajustados sociais, mas também como uma válvula de escape, uma oportunidade de catarse.

Em nível de sociedade, também vejo impactos: novos mercados serão criados para as empresas e novas regras sociais terão de ser desenvolvidas, para ficar apenas no básico. Organizar a sociedade virtual assume outro senso, mais complexo e mais completo. Neste sentido, um país reconhecer (ainda que informalmente) essa tendência de virtualização a ponto de organizar uma representação diplomática me parece bastante relevante. E, me atrevo a dizer, isso é apenas o início.