domingo, 27 de abril de 2008

Churrasco Italiano

Bem, não foi exatamente um churrasco. Pra começar, aqui eles chamam de barbecue, o que já exprime suficientemente bem a descaracterização total da coisa. A carne é cortada em bifes, que são colocados sobre uma grelha. E pra completar, a "churrasqueira" não é exatamente o que eu esperava, como se pode ver na foto abaixo.

É, eu estava desconfiado.

Tutto sommato
, porém, foi uma experiência excelente. Afinal, comer uma boa carne, ainda que grelhada, junto aos amigos, acompanhada de uma boa e divertida conversa, é a essência do churrasco. E isso certamente havia. Além do mais, como bônus um fantástico aperitivo, um primo piato de massa ao aceto balsamico e, como não podia faltar, vinho.


sexta-feira, 25 de abril de 2008

Liberazione

Hoje se comemora La Liberazione, o 63º aniversário do dia em que a Itália se livrou do domínio nazista na Segunda Guerra Mundial. Feriado, tudo parado - salvo os restaurantes e as cerimônias patrióticos por todo o país. Começou cedo em Roma, no monumento ao soldado desconhecido no Altare della Patria. Beppe Grillo, em Torino, promove o V2-Day, um protesto organizado e divulgado via Internet contra o que ele considera os grandes problemas estruturais do jornalismo italiano.

Alheios a tudo isso, nós aproveitaremos o feriado para almoçar com um casal de amigos, a Tal e o Alberto, e descansar.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Pra não dizer que só falo de política...

... vou falar de livros.

Eu havia empacado lendo La Vendetta del Longobardo, um romance histórico que se passa no tempo da derrocada dos longobardos face às intrigas papais e ao fortalecimento dos francos, de Pepino a Carlos Magno. Apesar de muito curioso com relação à época - que, aqui no norte da Itália, por motivos óbvios é bastante estudada -, o livro poderia ser muito melhor. Nada dinâmico, muito detalhado em determinadas partes, muito abstrato em outras. O fio condutor da história, ou seja, a vida do tal longobardo do título, é confuso, e muitos dos personagens (inclusive o principal) não são críveis. Parei, há alguns meses, faltando umas 20 páginas para o final. Parei, em primeiro lugar, por causa do enorme volume de leitura para o doutorado. Depois, por causa da viagem para a Espanha.

Aliás, aproveitei as noites no hotel para ler Zero Assoluto, uma tradução italiana de um pequeno, mas empolgante, romance de ficção científica de Greg Bear (título original: Heads).

Bem, finalmente encontrei fôlego para finalizar La Vendetta del Longobardo. Passei pelas últimas 20 páginas com uma certa nostalgia, até. Como quem termina uma tarefa longa e dolorosa com a qual se afeiçoou, ainda que por simples hábito. Agora me sinto livre. E peguei um livro que ganhei de aniversário da minha amiga turca Firdevs: Riconciliazione: L'Islam, la democracia, l'Occidente, da falecida Benazir Bhutto.

A propósito: grazie, Firdevs!

Até agora, ainda não tenho uma opinião formada. Mas uma coisa posso dizer: nunca discordei tanto de um único livro... E ainda estou apenas na página 80. Não que isso seja ruim, pelo contrário: é desafiador e provocante! Em breve, uma resenha.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Repercutindo Berlusconi

Tradução livre de um editorial publicado pelo The New York Times hoje, 16 de Abril, a respeito da vitória de Berlusconi.
O Retorno de Berlusconi

Silvio Berlusconi, o maior showman da política italiana, está de volta para seu terceiro mandato como primeiro-ministro. Sua vitória pouco tem a ver com suas escassas realizações durante as passagens prévias pelo poder. Em um momento em que a Itália se encontra envolvida em trevas econômicas e políticas, ele venceu com promessas de um caminho indolor para uma prosperidade renovada.

Com, de um lado, os restos da coalizão de centro-esquerda que deixava o poder oferecendo austeridade e sobriedade e, de outro lado, Berlusconi propondo diminuição de impostos e bons tempos, realmente não sobrou espaço para disputa. O bilionário dono de negócios de mídia e esportes também obteve grande auxílio de sua parceria inquietante com a Lega Nord, um partido populista violentamente contrário aos imigrantes.

O estilo de vida berrante e a forte personalidade de Berlusconi certamente não conseguiriam bons resultados do lado de cá do Atlântico. Ainda assim, alguns aspectos da campanha ecoaram a política americana de modo notável - e, em alguns casos, embaraçante. A Lega Nord produziu um vergonhoso pôster mostrando um indígena americano de aparência melancólica, completo com um cocar de penas, e as palavras de aviso: "Eles não souberam regular a imigração - agora eles vivem em reservas - pense a respeito." Walter Veltroni, ex-prefeito de Roma e principal oponente no campo da centro-esquerda, se saiu igualmente mal ao tentar emular o apelo de Barak Obama com o equivalente italiano de "Yes, we can."

A Itália tem problemas reais, cuja discussão foi evitada por todos os partidos. Entre eles, estão incluídos uma competitividade vacilante, déficits fiscais insustentáveis, serviços governamentais falidos (Nápoles está sufocada em lixo não recolhido), corrupção e uma burocracia que desperdiça incríveis quantidades do tempo e dinheiro de todos os envolvidos. Os italianos, via de regra, trabalham tanto quanto seus vizinhos mas, ao fim, recebem recompensas financeiras significantemente menores.

O que o país desesperadamente precisa é um ataque prolongado e intenso contra evasão fiscal, subsídios públicos não-justificados, excesso de regulação e uma cultura de corrupção política e de negócios profundamente enraizada. Talvez isso seja muito a se pedir para um homem cujos negócios privados repetidamente chamaram a atenção dos promotores públicos, porém sem qualquer condenação.

Os primeiros dois mandatos de Berlusconi foram deludentemente fracos em termos de reformas. A Itália precisa que ele faça mais desta vez.

terça-feira, 15 de abril de 2008

Explicando Berlusconi

Pra quem se pergunta como a centro-direita ganhou, por favor considere que, por um lado, Berlusconi detém, no mínimo, metade dos recursos de mídia do país. E sabe usá-los! Além disso, Berlusconi é o homem mais rico do país. Isso significa, pelo menos, que ele dispõe de muito mais recursos para empregar nas campanhas e, talvez mais importante, dispõe de uma imagem de sucesso, de self made man, que começou como animador de cruzeiros de verão e se tornou um dos mais poderosos magnatas do mundo.

Por outro lado, a Itália está descontente, com uma economia frágil e uma auto-estima debilitada com relação aos outros grandes países da Europa. Porém, apesar dos problemas, a Itália vem recebendo um influxo fortíssimo de imigração. Berlusconi e, mais especificamente, seus aliados da Lega Nord, conseguiram convencer muita gente que os imigrantes são, em grande parte, a causa dos problemas sociais e econômicos italianos. E oferecem uma solução simples: basta de imigrantes.

Vale lembrar que as pessoas simples gostam de soluções e explicações simples. E, em qualquer lugar, as pessoas simples são a maioria.

Mas, claro, isso é só uma explicação simples. A realidade é muito mais complicada.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Berlusconi e seus comparsas 163 x 141 Veltroni

Bem, eu fiz a minha parte. Pena que não foi o suficiente.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

As eleições na Itália

Me dei conta que, desde a queda de Prodi, não escrevi mais nada sobre a vida política italiana. E este é um assunto particularmente vivo nesse momento em que se aproximam as eleições. Aqui se vota no domingo, dia 13, e na segunda, dia 14. Amanhã mesmo vou buscar minha tessera elettorale.

Pois bem, o que tenho a dizer é: não faço idéia de quem vencerá, mas tenho quase certeza de que as coisas não vão mudar.

A fim de entender porque digo isso, é preciso dar um passo atrás e analisar o contexto dos problemas políticos da Itália parlamentarista. Desde a Segunda Guerra Mundial, o país já trocou de governo 61 vezes. É demais para uma democracia européia.

A instabilidade das legislaturas, porém, é apenas um reflexo da impossibilidade de governar efetivamente causada pela fragmentada estrutura partidária italiana. Por exemplo, o último governo, do centro-esquerdista Romano Prodi, venceu a eleição de 2006 por pouquíssimos votos. E isso que sua coalizão de nove partidos reunia, se não todos, pelo menos a imensa maioria dos partidos que de alguma forma se identificavam com a proposta social da esquerda, incluindos os comunistas tradicionais e os neo-comunistas*, os verdes e alguns partidículos oportunistas de centro-direita. Embora sua maioria na Câmara fosse sólida, a pequena margem de vitória se refletiu em uma magérrima maioria no Senado. Bastou que um daqueles pequenos partidos oportunistas da base de sustentação abandonasse o barco para que o governo caísse frente ao assalto midiático da direita de Berlusconi.

Essa situação não é novidade para ninguém. É consensual a necessidade premente de uma reforma no precário modelo eleitoral vigente (modelo introduzido por Berlusconi poucos meses antes das últimas eleições, aliás, em substituição a uma lei votada em referendo popular vários anos antes). Essa nova reforma preconizada por todos, dizia-se, era necessária não permitir que os próximos governos ficassem à mercê dos "partidos anões". Porém, não houve tempo para qualquer reforma. Anunciada a dissolução do parlamento, os dois grandes partidos de centro se posicionaram. Berlusconi e seu Popolo della Libertà se disseram abertos às velhas alianças, mas apenas os neo-fascistas da Aleanza Nazionale e os radicais separatistas (eles se dizem federalistas) da Lega Nord responderam a seu chamado. Do outro lado do campo de batalha, Veltroni colocou o recente mega-Pardito Democrático, de centro-esquerda. Com eles, ocorreu o contrário: os pequenos partidos que apoiavam Prodi se disseram prontos para uma nova coalizão, mas o PD refutou, alegando o não desejar repetir a fragmentação e as disputas internas que levaram à completa inação do antigo governo.

Sobrou para a esquerda tentar a solução solitária. Bertinotti convocou a Sinistra Arcobalena, disparando forte contra o que argumenta ser a "falsa" esquerda de Veltroni. Casini, antigo aliado de Berlusconi, preferiu rebelar-se e consolidou posição no centro com sua . No processo, desferiu insultos contra esquerda e direita e se ofereceu como uma terceira via, mas parece que conseguiu
atrair muitos eleitores. Micro-partidos de todas as faixas do espectro político fecham o desfile, que inclui bizzarices como a candidata da La Destra, Daniela Santanchè, que parece acreditar que pode ser eleita apenas porque é bonita, ou o "partido" anti-aborto do esquizofrênico Giuliano Ferrara.

Do início da campanha até pouco tempo atrás, as pesquisas indicavam uma saudável margem de liderança para Berlusconi, em torno dos 5 a 9 pontos percentuais. O que não é de se estranhar, dado o fato de que o sujeito é dono de um dos clubes de futebol mais populares do país e de um mega-grupo de mídia que vale U$ 9,4 bilhões e que inclui três dos seis maiores canais de televisão (os outros três são estatais!). Gradualmente, porém, o PD recuperou terreno e conquistou boa parte dos eleitores indecisos, estimados em quase um terço do total de potenciais votantes.

Boa parte desse crescimento se deve aos absurdos proferidos pelos aliados de Berlusconi, a Lega Nord. A mais recente declaração bomba do líder desses radicais, Bossi, envolvia "pegar em fuzis" para fazer valer a sua idéia de federalismo. Entre seus slogans separatistas, "mentre Milano lavora, Roma mangia". E eles conseguem atrair atenção também com seu ódio furioso contra os imigrantes. Um cartaz da Lega mostra uma imagem de um índio norte-americano, acompanhado das palavras: "anche loro hanno subito l'imigrazione", algo como "eles também sofreram a imigração". Em Como, há outdoors que dizem: "L'Italia per gli italiani". Dá pra imaginar um partido desses na coalizão que governa a Itália?

Mas há também os absurdos de Berlusconi. Alguns são hilários, como a "crítica" de que os políticos de esquerda não tem bom gosto para mulheres (!). Outros são mais perigosos para a saúde da democracia italiana, como o ataque de ontem ao atual presidente Georgio Napolitano. Convém lembrar que, aqui, o presidente é, tendencialmente, uma figura quase decorativa, ainda que representante das instituições democráticas. Alguém que fica acima das contendas políticas, mais ou menos como a rainha no Reino Unido.

Atualmente, os dois grandes se encontram em pé de igualdade nas estimativas de voto, com Berlusconi ainda ligeiramente na frente. Porém, como eu disse antes, não importa quem vença. É em função do previsível contexto pós-eleição de um governo refém de pequenos e micro-partidos que eu digo que, seja quem for o vencedor, não vai mudar nada: o governo vai ser difícil, obstaculado não só pela eventual débil margem de vantagem sobre a oposição, mas também pelos próprios aliados, sejam eles os de antes da eleição (Veltroni acabou aceitando a aliança com o partido Italia dei Valori, do ex-ministro Di Pietro) ou aqueles arrolados pelos vencedores na festa de comemoração e distribuição de cargos.

* Vale lembrar a importância histórica da esquerda na Itália. Por pouco o país não caiu na esfera de influência soviética no pós-guerra. Os comunistas sempre foram fortes por aqui, em oposição aos setores católicos conservadores de direita. O movimento sindical, um dos mais robustos da Europa, é herança direta dessa situação.

sábado, 5 de abril de 2008

Alguns comentários sobre a TIC 2007

Em meados de Março, foram divulgados os resultados da pesquisa TIC Domicílios 2007, a versão mais recente do levantamento anual da situação das tecnologias de informação e comunicação no Brasil conduzido pelo Núcleo de Informação e Coordenação (NIC.br), ligado ao Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br).

A pesquisa, já em sua terceira edição, tem resultados muito, muito interessantes. Um dos mais relevantes, na minha opinião, diz respeito à difusão dos computadores. Pela primeira vez desde o início do levantamento, o número dos brasileiros que já usaram um micro ao menos uma vez da vida foi superior ao dos que nunca usaram, chegando a 53%. Foi uma mudança significativa, pois em 2006 os números eram praticamente invertidos: 54% dos brasileiros, segundo a pesquisa, nunca havia tido contato com computadores.

Outro resultado importante indica a crescente popularização da Internet: 41% dos brasileiros já acessaram a rede alguma vez na vida, 8% a mais do que em 2006. Apesar da disparidade de classes sociais, de educação e de renda dos internautas ainda ser muito relevante, usuários das classes C e D são cada vez mais comuns. Já entre as modalidades de acesso, aquele efetuado através de LANs (ou "centros de acesso público pago", conforme a nomenclatura usada pelo NIC.br) foi o que apresentou crescimento mais notável, representando 49% em 2007. Como comparação, os acessos domésticos responderam por 40% do total, completado por acessos a partir do local de trabalho (24%) e da escola (15%). E os demais indicadores do estudo são inequívocos: os novos usuários que fazem uso dessas LANs tendem a ser jovens oriundos das classes baixas, sobretudo do Norte e Nordeste do país.

Afinal, parece que as iniciativas de popularização da informática, como o programa Computador para Todos do Governo Federal, estão dando resultados.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Hoje é 3 de Abril...

... então, um buon compleanno para a Vó do Alfredo e do Vítor!!!!

Pascoa in Spagna

A Nana disse que eu nunca mais escrevi no blog. Verdade. Pois bem, agora as coisas acalmaram de novo. Então, é tempo de atualização!

Daniela e eu fomos passar a Páscoa na Espanha com a Isabel, uma amiga brasileira. Aliás, em Madrid nos divertimos muito com o nome dela, porque em todo lugar tinha algum tipo de referência a "Isabel", legendária rainha dos tempos áureos da Espanha imperialista.

Incrível como conviver com alguém vindo diretamente do nosso país reforça o sentimento de saudade, mesmo em uma situação nada rotineira como uma viagem, em que nossa atenção é dedicada quase que exclusivamente para as novidades.

As fotos mais interessantes da viagem estão postadas nos perfis de Orkut meu e de Daniela. Abaixo, uma das mais legais, Barcelona vista do Castelo de Montjuic.


Em uma nota triste, nesse tempo sem postagens faleceu o grande escritor de ficção científica Arthur C. Clarke. Definitivamente, este tem sido um ano de perdas inconsoláveis: primeiro Bobby Fischer, depois Gary Gagyx e agora o roteirista de 2001: Uma Odisséia no Espaço, entre outros clássicos da FC.