Para piorar, Berlusconi e a direita, sentindo a debilidade da posição governista, vem aumentando o tom dos ataques e, com isso, angrariando simpatia da população descontente. As últimas pesquisas de opinião apontam mais de 50% de apoio para o centro-direita. A cada votação importante no parlamento, Prodi corre o risco de ver sua maioria desmontar-se e, com isso, causar a queda do governo.
A grande esperança da centro-esquerda é o novo Partido Democrático. Em processo de criação, a partir do próximo 14 de Outubro o PD congregará os Democratici di Sinistra (DS, herdeiros do Partido Comunista Italiano) de D'Alema, Fassino e Veltroni, e os democristãos da La Margherita, de Rutelli, bem como diversos outros partidos reformistas menos representativos. Ficam de fora os radicais da Rifondazione Comunista, de Bertinotti, os comunistas do PdCI (herdeiros de Gramsci e Berlinguer) os ambientalistas Verdi. O Secretário Geral do PD, a ser escolhido em eleições primárias marcadas para 14 de Outubro, deverá ser o atual prefeito de Roma, Walter Veltroni.
Do outro lado, Berlusconi e sua máquina de mídia lideram a oposição. O homem mais rico do país - dono do Milan e do conglomerado Mediaset, entre outros investimentos - conduz a Forza Italia, o partido eixo da coalizão de centro-direita Casa delle Libertà. Sem precisar enfrentar nem atritos com seus próprios radicais (como os autonomistas e tradicionalistas conservadores da Liga Nord, de Bossi) nem as dificuldades de mediar um governo de coalizão, a direita vem crescendo junto à opinião pública. Mesmo as idéias mais conservadoras e reacionárias, como aquelas dos herdeiros da destra post-facista da Alianza Nazionale, de Gianfranco Fini e La Russa, encontram eco na classe média italiana, preocupada com a crescente criminalidade associada, pelas redes de televisão e jornais de Berlusconi, aos imigrantes extra-comunitários.
Tudo isso, porém, é relativamente normal em um processo democrático. Mesmo em um processo democrático confuso e particular como o italiano. O que o país está assistindo hoje, porém, é algo novo. Chama-se anti-política, e tem como seu principal divulgador Beppe Grillo. Através de seu blog (um dos mais lidos no mundo), o cômico exilado da TV conclama as massas contra tudo o que os políticos - A Casta - representa. Sua audiência é, basicamente, jovem (todos abaixo de 40 são jovens, na Itália) e muito, mas muito expressiva. Atira para todos os lados, não poupa ninguém. Ficou famosa uma de suas battute sobre uma visita à China do então Presidente do Conselho, o socialista Bettino Craxi:
La cena in Cina... c'erano tutti i socialisti, con la delegazione, mangiavano... A un certo punto Martelli ha fatto una delle figure più terribili... Ha chiamato Craxi e ha detto: "Ma senti un po', qua ce n'è un miliardo e son tutti socialisti?". E Craxi ha detto: "Sì, perché?". "Ma allora se son tutti socialisti, a chi rubano?".
(monologo durante la settima puntata di Fantastico 7, 15 novembre 1986)
Desde os anos 90, Grillo não aparece mais na TV. Milita sua democrazia diretta em praças e na web. Se lança em campanhas das mais variadas, como a Via dall'Iraq, pressionando para a retirada das tropas do conflito iraquiano, ou o Parlamento pulito, uma proposta para impedir o acesso ao parlamento de quem tenha sido condenado de forma definitiva. Sua ideologia se baseia na vocalização dos anseios e reclames da massa, segundo ele cada vez mais distante do processo político. É a anti-política.
No último dia 8 de Setembro, o Vaffanculo-Day, o povo saiu às praças em 180 cidades italianas para apoiar a proposta de limpeza do Parlamento elaborada por Grillo e seus colaboradores. Seus discursos fortes, que por vezes se tornam até mesmo ofensivos, repercutem desde então (o vídeo integral da apresentação de Grillo em Bologna pode ser visto aqui). E é justamente esta última iniciativa da anti-política de Grillo tem lhe concedido significativo espaço nas redes de televisão e movimentado discussões por todo o país.