sábado, 2 de fevereiro de 2008

Ainda o Papa

Hoje recebi, através da lista de emails da SBCR (Sociedade Brasileira de Ceticismo e Racionalismo), um texto de opinião do sociólogo e biólogo Francisco Borba Ribeiro Neto sobre a recusa do Papa em participar da aula de inauguração do ano acadêmico da Universidade La Sapienza, no início do ano. O texto retoma, como ponto de partida, a repetição de uma série de argumentos que já cansei de ouvir na mídia italiana: o Papa foi impedido de dialogar com a Universidade, o incidente foi um exemplo de intransigência e cerceamento da liberdade de expressão (nas palavras de Ribeiro Neto, "um disparatado ataque à liberdade de expressão" e "recusa ao diálogo e à argumentação racional"), etc.

Incrível.

Diz-se que uma mentira repetida mil vezes se torna verdade.

A meu ver, é exatamente o que vem acontecendo com essa questão. Ao contrário do que se diz e se escreve em quase todo lugar, o Papa NÃO foi impedido de participar da aula magna na Sapienza. Ele não foi PORQUE NÃO QUIS. Simples assim. O protesto dos estudantes nos dias anteriores à programada participacao "papal" foi mínimo, sem qualquer manifestação de violência. Ligeiramente mais significativo foi o protesto de 67 professores (entre 4.500, como bem nota o texto de Ribeiro Neto). Mas mesmo isso não passou de uma carta aberta afirmando a opinião de que esse Papa específico não é, na visão desses professores, bem vindo à Universidade. E cabe lembrar que tanto representantes do governo da cidade de Roma quanto do governo federal garantiram que não havia qualquer ameaça à segurança de Benedetto.

A mim, parece que intransigente nessa história foi mesmo o Vaticano. Ficaram com medo da repercussão de uma eventual rejeição ou vaia ao Papa, ou não gostaram das críticas, sei lá.

Aliás, me pasma que aqui na Itália, a totalidade da imprensa, na qual se incluem ate mesmo os setores ditos "anti-clericais" da RAI, comprou essa versão do mito da Universidade contrária à liberdade de expressão.

Também me marcou muito perceber a importância social e cultural que a Igreja ainda representa por aqui. Essa importância foi evidenciada pelo fato de que a imprensa só deixou de abordar o assunto da recusa do Papa quando a crise do governo se mostrou tal que a queda de Prodi passou a ser inevitável.

E ainda houve senadores que usaram o episódio (junto com a crise do lixo em Napoli) para justificar seu voto contrário ao governo!

2 comentários:

Daniela Scheifler disse...

Nem a Luciana Littizzetto, a humorista televisiva que sempre scherza com o Papa pode comentar o assunto. Preocupante essa censura velada!

rbs-gremista disse...

Estou errado ou existe um pedacinho da idade média na Italia, onde o papado era "quase" incontestavel?