Hoje recebi, através da lista de emails da SBCR (Sociedade Brasileira de Ceticismo e Racionalismo), um texto de opinião do sociólogo e biólogo Francisco Borba Ribeiro Neto sobre a recusa do Papa em participar da aula de inauguração do ano acadêmico da Universidade La Sapienza, no início do ano. O texto retoma, como ponto de partida, a repetição de uma série de argumentos que já cansei de ouvir na mídia italiana: o Papa foi impedido de dialogar com a Universidade, o incidente foi um exemplo de intransigência e cerceamento da liberdade de expressão (nas palavras de Ribeiro Neto, "um disparatado ataque à liberdade de expressão" e "recusa ao diálogo e à argumentação racional"), etc.
Incrível.
Diz-se que uma mentira repetida mil vezes se torna verdade.
A meu ver, é exatamente o que vem acontecendo com essa questão. Ao contrário do que se diz e se escreve em quase todo lugar, o Papa NÃO foi impedido de participar da aula magna na Sapienza. Ele não foi PORQUE NÃO QUIS. Simples assim. O protesto dos estudantes nos dias anteriores à programada participacao "papal" foi mínimo, sem qualquer manifestação de violência. Ligeiramente mais significativo foi o protesto de 67 professores (entre 4.500, como bem nota o texto de Ribeiro Neto). Mas mesmo isso não passou de uma carta aberta afirmando a opinião de que esse Papa específico não é, na visão desses professores, bem vindo à Universidade. E cabe lembrar que tanto representantes do governo da cidade de Roma quanto do governo federal garantiram que não havia qualquer ameaça à segurança de Benedetto.
A mim, parece que intransigente nessa história foi mesmo o Vaticano. Ficaram com medo da repercussão de uma eventual rejeição ou vaia ao Papa, ou não gostaram das críticas, sei lá.
Aliás, me pasma que aqui na Itália, a totalidade da imprensa, na qual se incluem ate mesmo os setores ditos "anti-clericais" da RAI, comprou essa versão do mito da Universidade contrária à liberdade de expressão.
Também me marcou muito perceber a importância social e cultural que a Igreja ainda representa por aqui. Essa importância foi evidenciada pelo fato de que a imprensa só deixou de abordar o assunto da recusa do Papa quando a crise do governo se mostrou tal que a queda de Prodi passou a ser inevitável.
E ainda houve senadores que usaram o episódio (junto com a crise do lixo em Napoli) para justificar seu voto contrário ao governo!
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sábado, 2 de fevereiro de 2008
quinta-feira, 17 de janeiro de 2008
... e as notícias de hoje, ontem
Depois de escrever o post de ontem, fiquei me perguntando se, de alguma forma, não teriam razão os que reclamam de censura e falta de diálogo por parte dos contrários à participação do Papa na aula inaugural. Me dei conta, então, de que não há falta de diálogo, pois o Papa, se entendi bem a situação, não pretendia dialogar, mas sim discursar. Duvido que houvesse espaço para indagações por parte da platéia, ou mesmo algo parecido com um debate. Portanto, penso que "falta de diálogo" não é uma crítica muito adequada.
Além disso, menciona-se muito uma suposta vergonha pelo fato do Papa não poder falar em uma universidade italiana. Mas, que coisa, foi justo ele quem desistiu de participar, ninguém o proibiu! No máximo, os professores manifestaram seu descontentamento em uma carta aberta - o que não me parece muito ofensivo - e os estudantes ameaçaram protestar com cartazes e rock and roll. Pode ser que minha percepção esteja totalmente torta, mas acho que o Benedetto não aceita muito bem críticas e opiniões contrárias à sua.
Bom, continuando com as notícias de hoje, que não deixam de ser a continuação das de ontem... Outra bomba nos noticiários foi o pedido de demissão de Clemente Mastella, Ministro da Justiça de Prodi desde Maio de 2006. Líder de um pequeno partido de centro de inclinação democrática-cristã, a UDEUR, o ex-ministro, sua esposa e seus companheiros políticos têm sido alvo de diversas investigações de peculato e improbidade administrativa movidas pelo Ministério Público. Muito se falou sobre Mastella ter usado seu poder e influência como Ministro da Justiça para afastar procuradores e atrapalhar as investigações, o que gerou intensas críticas de boa parte da imprensa não-comprometida com Berlusconi (o qual, diga-se de passagem, também tem suas querelas com a justiça). Além disso, sua figura pública tem sido manchada por decisões políticas no mínimo duvidosas, como o apoio a uma lei de indulto que libertou 15 mil presos dos cárceres italianos, e suas opiniões favoráveis a uma eventual lei de anistia aos investigados e condenados no escândalo do futebol italiano de 2006. Se critica também a ligação de Mastella com políticos condenados por atividades mafiosas. Em suma, um currículo respeitável.
É realmente curioso como um político tão suspeito pudesse exercer um cargo como Ministro da Justiça. As críticas da mídia refletiam cada vez mais uma opinião pública descontente e desconfiada. Em Novembro passado, Mastella protagonizou um escandaloso chilique durante uma participação ao vivo no programa Anno Zero, da RAI2, acusando o apresentador de usar a televisão pública para atacá-lo. A situação foi se degradando ainda mais. Finalmente, ridicularizado abertamente pela mídia e atacado até mesmo por seus colegas de Ministério, como o Ministro da Infra-Estrutura Antonio Di Pietro, Mastella disse basta. E hoje Prodi aceitou seu afastamento. Agora, ele vai se defender das acusações como cidadão normal. Bem, não exatemente cidadão normal, pois Mastella ainda é prefeito de sua cidade, Ceppaloni. Mas pelo menos, não mais como um todo-poderoso Ministro da Justiça.
Além disso, menciona-se muito uma suposta vergonha pelo fato do Papa não poder falar em uma universidade italiana. Mas, que coisa, foi justo ele quem desistiu de participar, ninguém o proibiu! No máximo, os professores manifestaram seu descontentamento em uma carta aberta - o que não me parece muito ofensivo - e os estudantes ameaçaram protestar com cartazes e rock and roll. Pode ser que minha percepção esteja totalmente torta, mas acho que o Benedetto não aceita muito bem críticas e opiniões contrárias à sua.
Bom, continuando com as notícias de hoje, que não deixam de ser a continuação das de ontem... Outra bomba nos noticiários foi o pedido de demissão de Clemente Mastella, Ministro da Justiça de Prodi desde Maio de 2006. Líder de um pequeno partido de centro de inclinação democrática-cristã, a UDEUR, o ex-ministro, sua esposa e seus companheiros políticos têm sido alvo de diversas investigações de peculato e improbidade administrativa movidas pelo Ministério Público. Muito se falou sobre Mastella ter usado seu poder e influência como Ministro da Justiça para afastar procuradores e atrapalhar as investigações, o que gerou intensas críticas de boa parte da imprensa não-comprometida com Berlusconi (o qual, diga-se de passagem, também tem suas querelas com a justiça). Além disso, sua figura pública tem sido manchada por decisões políticas no mínimo duvidosas, como o apoio a uma lei de indulto que libertou 15 mil presos dos cárceres italianos, e suas opiniões favoráveis a uma eventual lei de anistia aos investigados e condenados no escândalo do futebol italiano de 2006. Se critica também a ligação de Mastella com políticos condenados por atividades mafiosas. Em suma, um currículo respeitável.
É realmente curioso como um político tão suspeito pudesse exercer um cargo como Ministro da Justiça. As críticas da mídia refletiam cada vez mais uma opinião pública descontente e desconfiada. Em Novembro passado, Mastella protagonizou um escandaloso chilique durante uma participação ao vivo no programa Anno Zero, da RAI2, acusando o apresentador de usar a televisão pública para atacá-lo. A situação foi se degradando ainda mais. Finalmente, ridicularizado abertamente pela mídia e atacado até mesmo por seus colegas de Ministério, como o Ministro da Infra-Estrutura Antonio Di Pietro, Mastella disse basta. E hoje Prodi aceitou seu afastamento. Agora, ele vai se defender das acusações como cidadão normal. Bem, não exatemente cidadão normal, pois Mastella ainda é prefeito de sua cidade, Ceppaloni. Mas pelo menos, não mais como um todo-poderoso Ministro da Justiça.
quarta-feira, 16 de janeiro de 2008
Notícias de ontem...
Depois do tradicional período de "vacas magras" de notícias durante as festas de final de ano, os noticiários voltaram com tudo nesse início de ano. Pelo menos é como tem sido aqui na Itália.
Ontem, a grande notícia foi a desistência do Papa em participar da aula inaugural da universidade La Sapienza, de Roma. Ele havia sido convidado pelo reitor e pelo senado acadêmico para proferir o discurso de abertura dos trabalhos de 2008 mas, frente ao protesto imediato de uma parcela considerável de alunos e professores, anunciou ontem que mudava de idéia.
Reações imediatas da política, tanto dos setores de direita quanto de esquerda. Ambos lamentam a falta de diálogo em uma instituição que deveria primar, justamente, pela abertura ao diálogo. Foi mais ou menos esse o tom das declarações do governo, começando pelo próprio Presidente do Conselho, Romano Prodi, ele mesmo professor universitário. Já a direita, sobretudo os esbravejadores conservadores, foram além. Para eles, a juventude atual está perdida, sem fundamento de valores morais. A declaração mais raivosa veio de Giuliano Ferrara, político e jornalista que, em um inexplicável "tilt" ideológico, se converteu ao "neoconservadorismo" após uma juventude comunista de líder estudantil nos anos 60. Ainda ontem, ele disse que agradecia por não ter concluído a laurea pela La Sapienza pois, se houvesse, teria de enviar o diploma de volta ao reitor, acompanhado de uma série de declarações pouco respeitosas sobre a capacidade cognitiva dos professores da instituição.
Porém, fizeram-se ouvir mais alto as numerosas vozes de alunos e professores que defendem, em primeiro lugar, o caráter laico da universidade, sua posição independente como centro formador de conhecimento, sobretudo científico. Cada um em seu devido lugar ou, como declarou um dos professores revoltados, "o Papa não me convida para ensinar Darwin na sua igreja na missa de domingo, porque nós deveríamos convidá-lo para pregar na aula inaugural?".
Mas, talvez mais importante, a insatisfação explosiva de Roma possa estar relacionada, embora não declaradamente, com a percepção de que, sob a guia de Benedetto XVI, a Igreja vem se posicionando cada vez mais contra o saber científico estabelecido. A fé cega, que não discute nem questiona, tem ganhado espaço e apoio do Papa-Teólogo. Ou seja, talvez o protesto laico em Roma seja mais uma reação do que uma ação, um contra-ataque da comunidade científica contra as pretensas ingerências da Igreja. Isso, porém, poucos comentam, menos ainda os políticos, interessados em manter sua bella figura frente a uma maioria católica, ainda que moderada, de eleitores em um país que definitivamente ainda é guiado pela religião e suas ramificações sociais e culturais. Até a grande imprensa reluta em apoiar, mesmo que indiretamente, os descontentes, conforme se nota neste editorial do La Repubblica. Nesta manifestação, assim como em outras, abundam termos como "intolerância", "medo", "recusa ao diálogo" e "censura". Palavras que, ao menos aos meus ouvidos, soam muito mais adequadas à postura histórica da Igreja do que àquela da Ciência. Em resumo: o Papa ganhou o posto de vítima do momento, e deve aproveitar.
Mas essa foi a notícia de ontem. Amanhã, as notícias de hoje!
Ontem, a grande notícia foi a desistência do Papa em participar da aula inaugural da universidade La Sapienza, de Roma. Ele havia sido convidado pelo reitor e pelo senado acadêmico para proferir o discurso de abertura dos trabalhos de 2008 mas, frente ao protesto imediato de uma parcela considerável de alunos e professores, anunciou ontem que mudava de idéia.
Reações imediatas da política, tanto dos setores de direita quanto de esquerda. Ambos lamentam a falta de diálogo em uma instituição que deveria primar, justamente, pela abertura ao diálogo. Foi mais ou menos esse o tom das declarações do governo, começando pelo próprio Presidente do Conselho, Romano Prodi, ele mesmo professor universitário. Já a direita, sobretudo os esbravejadores conservadores, foram além. Para eles, a juventude atual está perdida, sem fundamento de valores morais. A declaração mais raivosa veio de Giuliano Ferrara, político e jornalista que, em um inexplicável "tilt" ideológico, se converteu ao "neoconservadorismo" após uma juventude comunista de líder estudantil nos anos 60. Ainda ontem, ele disse que agradecia por não ter concluído a laurea pela La Sapienza pois, se houvesse, teria de enviar o diploma de volta ao reitor, acompanhado de uma série de declarações pouco respeitosas sobre a capacidade cognitiva dos professores da instituição.
Porém, fizeram-se ouvir mais alto as numerosas vozes de alunos e professores que defendem, em primeiro lugar, o caráter laico da universidade, sua posição independente como centro formador de conhecimento, sobretudo científico. Cada um em seu devido lugar ou, como declarou um dos professores revoltados, "o Papa não me convida para ensinar Darwin na sua igreja na missa de domingo, porque nós deveríamos convidá-lo para pregar na aula inaugural?".
Mas, talvez mais importante, a insatisfação explosiva de Roma possa estar relacionada, embora não declaradamente, com a percepção de que, sob a guia de Benedetto XVI, a Igreja vem se posicionando cada vez mais contra o saber científico estabelecido. A fé cega, que não discute nem questiona, tem ganhado espaço e apoio do Papa-Teólogo. Ou seja, talvez o protesto laico em Roma seja mais uma reação do que uma ação, um contra-ataque da comunidade científica contra as pretensas ingerências da Igreja. Isso, porém, poucos comentam, menos ainda os políticos, interessados em manter sua bella figura frente a uma maioria católica, ainda que moderada, de eleitores em um país que definitivamente ainda é guiado pela religião e suas ramificações sociais e culturais. Até a grande imprensa reluta em apoiar, mesmo que indiretamente, os descontentes, conforme se nota neste editorial do La Repubblica. Nesta manifestação, assim como em outras, abundam termos como "intolerância", "medo", "recusa ao diálogo" e "censura". Palavras que, ao menos aos meus ouvidos, soam muito mais adequadas à postura histórica da Igreja do que àquela da Ciência. Em resumo: o Papa ganhou o posto de vítima do momento, e deve aproveitar.
Mas essa foi a notícia de ontem. Amanhã, as notícias de hoje!
segunda-feira, 14 de janeiro de 2008
O Instinto Moral
O tradicional jornal The New York Times foi um dos pioneiros em permitir acesso gratuito a seu conteúdo na Internet. A resposta foi muito boa, e recentemente até os arquivos das versões anteriores à web estão disponíveis, devidamente digitalizados. Não apenas por isso, mas também por isso, sou um dos seus milhares de leitores diários.
Aos domingos, o NYT publica sua Magazine, uma revista de atualidades e variedades. Ontem, o principal artigo era The Moral Instinct, escrito pelo famoso psicólogo e divulgador científico Steven Pinker. O texto traz um resumo sucinto, porém completo, do estado atual da chamada "Ciência da Moral", um campo de pesquisa intrigante que abrange psicologia, lingüística, antropologia, neurologia e filosofia, entre outras ciências relacionadas, na busca da compreensão da Moral. É justamente essa abordagem interdisciplinar que direciona a busca para uma compreensão includente, pressupondo um entendimento da Moral a partir de múltiplos pontos de vista - às vezes conflitantes. Entre os experimentos relatados por Pinker em seu artigo, estão os dilemas filosóficos estudados por neurologistas com auxílio de ferramentas de escaneamento cerebral, para entender quais regiões do cérebro se ativam quando nos defrontamos com esses dilemas. Ele conta como estudos antropológicos e psicológicos em larga escala são conduzidos a fim de detectar diferenças e similitudes no entendimento humano da Moral, a fim de isolar ou identificar padrões e conceitos universais relacionados à Moral.
As implicações dessa busca pela Moral universal, ou pelo menos pelo entendimento do que Pinker chama "O Instinto Moral", são enormes. As próprias fundações das religiões são afetadas, já que entre as possíveis conclusões da linha de pensamento proposta pela Ciência da Moral está a aceitação de que a religião, seja ela qual for, não é a detentora das leis morais, mas que o senso moral é inerente ao ser humano, em diferentes escalas. Mais do que isso, a Moral parece ser universal, embora fatores culturais e sociológicos importantes influenciem quais elementos da Moral são mais ou menos valorizados em determinados grupos. Ainda que aparentemente complexo, Pinker consegue apresentar um bom resumo do tema em seu claro e bem escrito texto. Vale a leitura - opinião aparentemente compartilhada pelos leitores do NYT, já que o artigo figura no topo da lista dos mais enviados por email desde sua publicação até o momento em que escrevo.
Aos domingos, o NYT publica sua Magazine, uma revista de atualidades e variedades. Ontem, o principal artigo era The Moral Instinct, escrito pelo famoso psicólogo e divulgador científico Steven Pinker. O texto traz um resumo sucinto, porém completo, do estado atual da chamada "Ciência da Moral", um campo de pesquisa intrigante que abrange psicologia, lingüística, antropologia, neurologia e filosofia, entre outras ciências relacionadas, na busca da compreensão da Moral. É justamente essa abordagem interdisciplinar que direciona a busca para uma compreensão includente, pressupondo um entendimento da Moral a partir de múltiplos pontos de vista - às vezes conflitantes. Entre os experimentos relatados por Pinker em seu artigo, estão os dilemas filosóficos estudados por neurologistas com auxílio de ferramentas de escaneamento cerebral, para entender quais regiões do cérebro se ativam quando nos defrontamos com esses dilemas. Ele conta como estudos antropológicos e psicológicos em larga escala são conduzidos a fim de detectar diferenças e similitudes no entendimento humano da Moral, a fim de isolar ou identificar padrões e conceitos universais relacionados à Moral.
As implicações dessa busca pela Moral universal, ou pelo menos pelo entendimento do que Pinker chama "O Instinto Moral", são enormes. As próprias fundações das religiões são afetadas, já que entre as possíveis conclusões da linha de pensamento proposta pela Ciência da Moral está a aceitação de que a religião, seja ela qual for, não é a detentora das leis morais, mas que o senso moral é inerente ao ser humano, em diferentes escalas. Mais do que isso, a Moral parece ser universal, embora fatores culturais e sociológicos importantes influenciem quais elementos da Moral são mais ou menos valorizados em determinados grupos. Ainda que aparentemente complexo, Pinker consegue apresentar um bom resumo do tema em seu claro e bem escrito texto. Vale a leitura - opinião aparentemente compartilhada pelos leitores do NYT, já que o artigo figura no topo da lista dos mais enviados por email desde sua publicação até o momento em que escrevo.
domingo, 25 de novembro de 2007
Na Itália, a História vive
No início da semana, o governo confirmou uma importante descoberta arqueológica realizada em Janeiro deste ano. Sob o Colle Palatino, coração da Roma Imperial e hoje museu a céu aberto que hospeda as ruínas de dezenas de palácios dos Imperadores de outrora, foi descoberta da gruta da Lupercalia. Reza a lenda que este era o local onde os gêmeos Romulo e Remulo foram amamentados pela Loba e, mais tarde, achados pelo pastor Faustolo.
A mítica gruta foi achada embaixo do palácio de Augusto, primeiro imperador de Roma, durante trabalhos de restauração. Foram divulgadas fotografias da gruta, adornada com mosaicos coloridos de mármore e conchas marinhas e tendo ao centro o símbolo imperial de Augusto: uma águia branca. Procura-se, agora, a entrada da caverna, que acredita-se estar localizada na base da colina.
Para dar uma idéia do impacto da descoberta, o anúncio foi feito pelo próprio Francesco Rutelli, Ministro per i beni e le attività culturale. O assunto foi matéria de diversas reportagens televisivas. Coisa de um povo que realmente valoriza sua cultura e história.
A mítica gruta foi achada embaixo do palácio de Augusto, primeiro imperador de Roma, durante trabalhos de restauração. Foram divulgadas fotografias da gruta, adornada com mosaicos coloridos de mármore e conchas marinhas e tendo ao centro o símbolo imperial de Augusto: uma águia branca. Procura-se, agora, a entrada da caverna, que acredita-se estar localizada na base da colina.
Para dar uma idéia do impacto da descoberta, o anúncio foi feito pelo próprio Francesco Rutelli, Ministro per i beni e le attività culturale. O assunto foi matéria de diversas reportagens televisivas. Coisa de um povo que realmente valoriza sua cultura e história.
sábado, 17 de novembro de 2007
O Português no Italiano
Em tempos recentes, duas palavras do português entraram no léxico italiano: favelas e veados.
Isso diz muito sobre a imagem que nosso país tem no exterior, não?
Isso diz muito sobre a imagem que nosso país tem no exterior, não?
sábado, 10 de novembro de 2007
A (má) educação
Acho que quando se olha de fora fica mais fácil entender a si mesmo. Parte-se de outros padrões de comparação e, talvez mais importante, não se está imerso nas inúmeras facetas prosaicas das problemáticas afrontadas, que por vezes escondem até mesmo a existência dessas problemáticas. Vendo a realidade brasileira a partir da realidade européia, pode-se constatar mais facilmente a falência da mais básica pilastra de qualquer sociedade: a educação. Da educação vem não apenas o arcabouço técnico necessário ao funcionamento cotidiano da sociedade, mas tambem o fundamento de valores éticos sobre o qual se baseia a cidadania e a civilidade. Tanto um quanto o outro, evidentemente, são deficitários em nosso país. Por isso, tomo a liberdade de sugerir a leitura do texto abaixo, publicado no site Veja.com e recentemente encaminhado a uma lista de discussão da qual participo. É apenas um ponto de reflexão, e apenas um dos possíveis pontos de reflexão sobre a questão. Mas, se nao começarmos a refletir, o problema nunca será nem menos abordado.
Preocupe-se. Seu filho é mal educado.
por Gustavo Ioschpe
O Pisa é atualmente o teste internacional de qualidade da educação mais reconhecido globalmente. Ele é aplicado a cada três anos pela OCDE e sua última edição, sobre a qual temos resultados disponíveis, pintou um quadro aterrador para o Brasil. Em primeiro lugar, porque nosso desempenho geral foi baixíssimo. Entre os quarenta países participantes (trinta desenvolvidos e dez em desenvolvimento), ficamos em último lugar em matemática, penúltimo em ciências e 37º na área de leitura. Esse resultado não é de todo surpreendente, já que há anos e em vários outros testes internacionais colhemos resultados parecidos. Há sempre uma tendência do setor mais ilustrado da nossa sociedade de dar de ombros a esses resultados, creditar o fracasso nacional às escolas públicas e imaginar que, colocando o filho em uma boa escola particular, o problema não o afeta. O Pisa demonstra que esse raciocínio não é apenas tacanho, mas também fundamentalmente equivocado – e aí, sim, há uma surpresa digna de nota. O problema não é apenas das escolas públicas, mas da educação como um todo. Não há ilhas de excelência no mar de lodo. Em matemática, por exemplo, apenas 1,2% dos alunos brasileiros chega aos dois níveis mais altos de desempenho, contra uma média de 15% dos estudantes dos países da OCDE, 19% dos de Macau (China) e 7% dos da Rússia. A situação fica ainda mais clara quando fazemos o recorte por nível socioeconômico: o desempenho dos 25% mais ricos do Brasil é menor do que a média dos 25% mais pobres dos países da OCDE. Deixe-me repetir: os alunos da nossa elite têm desempenho educacional pior do que os mais pobres dentre os países desenvolvidos.
A idéia de que a escola particular brasileira é boa e protege seus alunos das deficiências da escola pública é falsa. Nossas escolas particulares são apenas menos ruins do que as públicas – mas, se comparadas às escolas de outros países ou a um nível ideal de qualidade, certamente ficam muito distantes.
Os pais que colocam seus filhos em escolas particulares estão, na realidade, pagando por um diferencial que vem mais deles (pais) do que da escola em si. Estudos recentes do economista Naercio Menezes Filho indicam que 80% da diferença de desempenho entre as escolas públicas e as privadas é explicável pelo status socioeconômico da família do aluno. Outros 10% são explicáveis pelo status dos colegas de ensino. Apenas os 10% restantes são atribuíveis à qualidade da própria escola. Ou seja, de cada 10 pontos de performance superior de um aluno de escola particular, 8 são explicados pelo fato de ele já vir de casa com maior bagagem cultural, ter acesso a livros e viver em um ambiente sem carências materiais agudas; 1 ponto é explicado pelo fato de os colegas dele virem igualmente de ambientes privilegiados – e a literatura empírica é categórica ao apontar os efeitos que os colegas têm sobre o desempenho de um aluno (peer effects) –; e o outro ponto pode ser atribuído à qualidade da escola.
Não é muito difícil entender por que esse quadro é assim. O ator fundamental do processo de ensino é o professor. A boa administração escolar sempre é positiva e surte resultados, mas nem toda a eficiência gerencial do mundo fará com que um mau professor dê uma boa aula. Segundo o Perfil dos Professores Brasileiros, da Unesco, 81% dos atuais professores cursaram seu ensino fundamental em escolas públicas e quase 70% fizeram o curso secundário em escolas públicas. Se esse professor é formado em instituições de ensino claudicantes, ele tenderá a ser também um professor despreparado, por mais rica e organizada que seja a escola em que leciona. Não é possível para a nossa elite criar uma blindagem para se proteger das mazelas do setor público. Não apenas porque a escola pública formará a mão-de-obra dessa elite dirigente, mas também porque formará os professores dos seus filhos. Em todos os países do mundo, educação é um projeto público e nacional. Ou todos vão bem, ou o país vai mal.
Isso não significa dizer, obviamente, que a escola particular não tenha razão de existir ou, pior, que deva ser proibida. Em uma sociedade livre, cada família deve ter o direito de dar aos seus filhos a educação que merece – inclusive uma educação que, medida por testes padronizados, seja de qualidade igual ou inferior à da escola gratuita. No caso de um país com as carências educacionais que temos, mesmo que a diferença pró-particulares seja pequena, nenhum pingo de excelência pode ser sacrificado.
O que esses dados sugerem é que esse modelo de ensino chegou ao seu esgotamento. Seus problemas são em larga medida resultantes de uma mesma mentalidade que permeia nossa vida nacional e causa dificuldades por onde passa. Por muito tempo, os que tiveram a responsabilidade de pensar o país pensaram antes de tudo em si mesmos. Assim, criamos um sistema educacional em que a qualidade do ensino ministrado aos mais pobres não importa e o objetivo do ensino destinado aos ricos é ser tão-somente melhor do que o destinado aos pobres. Enquanto éramos uma sociedade autárquica e agroexportadora, essa miopia não tinha conseqüências maiores. Não é preciso Ph.D. para plantar café e não é preciso preocupar-se com a indústria chinesa em tempos de reserva de mercado. O problema é que nas últimas décadas o mundo mudou e o Brasil quer participar desse mundo novo – sem, porém, mudar a si mesmo. No momento em que o mercado passa a ser global e não nacional ou estadual e em que a competitividade das nações se dá pela produção de bens e serviços de alto valor agregado, o modelo educacional brasileiro já não dá mais conta do recado. Precisamos colocar mais gente nas escolas e especialmente em nossas universidades, e a saída para isso é apenas uma: a melhoria da qualidade do ensino que nossas crianças recebem. Mau ensino hoje é igual a evasão amanhã.
A conclusão é lógica: mesmo quem coloca os filhos em escolas particulares deve se preocupar com a qualidade da educação pública. E com urgência. Não apenas por espírito cívico, mas por amor-próprio também. Atualmente, 13% dos alunos do ensino básico estão em escolas privadas e os outros 87% estudam em instituições públicas. O único encontro entre esses dois grupos que gera alguma mobilização do setor mais avantajado é quando os ex-alunos da escola pública entram na escola do crime e cutucam as janelas dos carros dos ricos com os seus revólveres. Aí, já é tarde demais. No Brasil de 2007, voltar nossa atenção para o que acontece na 1ª série do ensino fundamental das escolas de periferia virou questão de sobrevivência – coletiva e individual, figurada e literal.
segunda-feira, 3 de setembro de 2007
Divulgação: I Jornada em Defesa do Pensamento Científico
A disciplina de Metodologia Científica do curso de Geociências e Educação Ambiental do Instituto de Geociências da USP e a Sociedade Brasileira de Céticos e Racionalistas realizarão a I Jornada em Defesa do Pensamento Científico.
Abaixo mais detalhes e a programação:
-----------------
Data: 18 de setembro de 2007 (terça-feira)
Local: IGc/USP - R. do Lago, 562 - Cid. Universitária - Butantã - São
Paulo - SP
Programação:
09h10 a 09h30: Abertura Prof. Drs. Arlei Benedito Macedo (USP) e Renato Sabbatini (Unicamp).
09h40 a 10h20: Analfabetismo científico, Prof. Dr. Renato Sabbatini (Unicamp).
10h20 a 10h40: Café.
10h40 a 11h20: Criacionismo, Prof. Dr. Mário de Pinna (USP).
11h30 a 12h10: Como vender o pensamento não-científico, Prof. Dr. Francisco Stefano Wechsler (UNESP).
12h10 a 14h00: Almoço.
14h00 a 14h40: Sensacionalismo e Jornalismo Científico, - Ulisses Capozzoli - Astronomy Brasil).
14h50 a 15h30: Pensamento Crítico - Panorama da América Latina - Sr. Alejandro J. Borgo (Pensar - CFI/Argentina).
15h30 a 15h50: Café.
15h50 a 16h30: A defesa do pensamento científico nas universidades e centros de pesquisa (mesa-redonda).
16h40 a 17h10: Resultados preliminares da pesquisa sobre Pseudociências (alunos do LIGEA).
19h00 a 19h40: Ilusões e equívocos do pensamento humano, - Dr. Sérgio Navega - (Intelliwise Research and Training).
19h40 a 20h00: Sumário e encerramento, - Prof. Dr. Francisco Stefano Wechsler - UNESP).
Taxa de inscrição: R$ 60,00
Mais informações: palestrasreflexoes2007@gmail.com
Abaixo mais detalhes e a programação:
-----------------
Data: 18 de setembro de 2007 (terça-feira)
Local: IGc/USP - R. do Lago, 562 - Cid. Universitária - Butantã - São
Paulo - SP
Programação:
09h10 a 09h30: Abertura Prof. Drs. Arlei Benedito Macedo (USP) e Renato Sabbatini (Unicamp).
09h40 a 10h20: Analfabetismo científico, Prof. Dr. Renato Sabbatini (Unicamp).
10h20 a 10h40: Café.
10h40 a 11h20: Criacionismo, Prof. Dr. Mário de Pinna (USP).
11h30 a 12h10: Como vender o pensamento não-científico, Prof. Dr. Francisco Stefano Wechsler (UNESP).
12h10 a 14h00: Almoço.
14h00 a 14h40: Sensacionalismo e Jornalismo Científico, - Ulisses Capozzoli - Astronomy Brasil).
14h50 a 15h30: Pensamento Crítico - Panorama da América Latina - Sr. Alejandro J. Borgo (Pensar - CFI/Argentina).
15h30 a 15h50: Café.
15h50 a 16h30: A defesa do pensamento científico nas universidades e centros de pesquisa (mesa-redonda).
16h40 a 17h10: Resultados preliminares da pesquisa sobre Pseudociências (alunos do LIGEA).
19h00 a 19h40: Ilusões e equívocos do pensamento humano, - Dr. Sérgio Navega - (Intelliwise Research and Training).
19h40 a 20h00: Sumário e encerramento, - Prof. Dr. Francisco Stefano Wechsler - UNESP).
Taxa de inscrição: R$ 60,00
Mais informações: palestrasreflexoes2007@gmail.com
terça-feira, 31 de julho de 2007
Ainda sobre o vidente das pós-visões
Já que o assunto é Jucelino e suas premonições de fatos já acontecidos, não posso deixar de indicar esse post do blog Saindo da Matrix.
Credulidade sem limites
Um email recebido hoje me lembrou o quanto ainda somos crédulos. A mensagem, que infelizmente deve estar circulando nas listas de contato de muitas pessoas, alude às "previsões" que um charlatão chamado Jucelino Nobrega da Luz teria feito com relação ao recente acidente com o avião da TAM em Congonhas. Traz em anexo imagens digitalizadas de recibos postais e ARs, bem como de uma carta datilografada endereçada à TAM, a qual faz referência a uma outra carta escrita à mão que inclui supostos detalhes da tragédia.
Esse assunto foi recentemente discutido em uma lista de céticos e racionalistas que frequento. A fraude parece ser uma explicação bem mais realista (porém, menos emocionante) do que premonição extra-sobrenatural. A propósito, meus agradecimentos a Ronaldo Cordeiro e Roberto Takata pelas suas lúcidas análises, nas quais me fundamentei para escrever esse post.
Primeiro, os impressionantes detalhes na carta escrita à mão. Facilmente, ele pode escrever cartas com conteúdos genéricos ou mesmo com grandes espaços em branco, as quais têm a firma reconhecida em cartório. O mesmo pode ser feito com uma cópia autenticada, uma vez que o que autenticar não é o mesmo que validar o conteúdo. Depois do fato acontecido, basta preencher os detalhes. No caso, convém lembrar que a carta datilografada não traz nenhum carimbo de cartório, podendo tranquilamente ter sido escrita após o acidente. Como diz o Ronaldo Cordeiro, "o resultado é grosseiro, mas pelo visto convence algumas pessoas". Muitas, Ronaldo. Infelizmente, muitas pessoas preferem acreditar em premonições do que em farsa e má índole.
Às vezes, Jucelino apresenta cartas de resposta de empresas, pessoas e instituições supostamente "avisadas" por ele dos terríveis acontecimentos previstos. Para isso, basta ele escrever cartas endereçadas a essas instituições com solicitações e pedidos triviais, de modo a poder falsificar a carta de resposta (devidamente assinada por responsáveis da instituição, ou trazendo algum tipo de logomarca ou timbre que indique a "oficialidade" da correspondência). Ronaldo Cordeiro brincou com esse truque, comentando que "além de as 'respostas' costumeiramente virem desalinhadas e com fonte diferente da parte que é mantida da resposta verdadeira, elas vêm escritas no estilo do Jucelino. Quando são em 'inglês', ainda rendem umas boas risadas."
Em suma, trata-se uma farsa tosca e absurda. E o pior é o mau caratismo desse picareta, querendo aparecer às custas do sofrimento das centenas de famílias atingidas pela tragédia. Vale lembrar que esse é o mesmo aproveitador que "previu" os atentados de 11 de setembro de 2001 nos EUA e de 11 de março de 2004 na Espanha, bem como "localizou" Saddam Hussein para o governo dos EUA (mas nao levou a recompensa). Ele também teria tido premonições sobre os acidentes com o avião da GOL e das obras do metrô de São Paulo, em 2006.
Me entristece muito ver que esse tipo de charlatão tem a repercussão que tem no Brasil. Um povo mais esclarecido certamente não aceitaria esse tipo de coisa. Bem, um povo mais esclarecido não aceitaria muitas outras coisas. A começar pelos políticos que os representam.
Esse assunto foi recentemente discutido em uma lista de céticos e racionalistas que frequento. A fraude parece ser uma explicação bem mais realista (porém, menos emocionante) do que premonição extra-sobrenatural. A propósito, meus agradecimentos a Ronaldo Cordeiro e Roberto Takata pelas suas lúcidas análises, nas quais me fundamentei para escrever esse post.
Primeiro, os impressionantes detalhes na carta escrita à mão. Facilmente, ele pode escrever cartas com conteúdos genéricos ou mesmo com grandes espaços em branco, as quais têm a firma reconhecida em cartório. O mesmo pode ser feito com uma cópia autenticada, uma vez que o que autenticar não é o mesmo que validar o conteúdo. Depois do fato acontecido, basta preencher os detalhes. No caso, convém lembrar que a carta datilografada não traz nenhum carimbo de cartório, podendo tranquilamente ter sido escrita após o acidente. Como diz o Ronaldo Cordeiro, "o resultado é grosseiro, mas pelo visto convence algumas pessoas". Muitas, Ronaldo. Infelizmente, muitas pessoas preferem acreditar em premonições do que em farsa e má índole.
Às vezes, Jucelino apresenta cartas de resposta de empresas, pessoas e instituições supostamente "avisadas" por ele dos terríveis acontecimentos previstos. Para isso, basta ele escrever cartas endereçadas a essas instituições com solicitações e pedidos triviais, de modo a poder falsificar a carta de resposta (devidamente assinada por responsáveis da instituição, ou trazendo algum tipo de logomarca ou timbre que indique a "oficialidade" da correspondência). Ronaldo Cordeiro brincou com esse truque, comentando que "além de as 'respostas' costumeiramente virem desalinhadas e com fonte diferente da parte que é mantida da resposta verdadeira, elas vêm escritas no estilo do Jucelino. Quando são em 'inglês', ainda rendem umas boas risadas."
Em suma, trata-se uma farsa tosca e absurda. E o pior é o mau caratismo desse picareta, querendo aparecer às custas do sofrimento das centenas de famílias atingidas pela tragédia. Vale lembrar que esse é o mesmo aproveitador que "previu" os atentados de 11 de setembro de 2001 nos EUA e de 11 de março de 2004 na Espanha, bem como "localizou" Saddam Hussein para o governo dos EUA (mas nao levou a recompensa). Ele também teria tido premonições sobre os acidentes com o avião da GOL e das obras do metrô de São Paulo, em 2006.
Me entristece muito ver que esse tipo de charlatão tem a repercussão que tem no Brasil. Um povo mais esclarecido certamente não aceitaria esse tipo de coisa. Bem, um povo mais esclarecido não aceitaria muitas outras coisas. A começar pelos políticos que os representam.
sexta-feira, 20 de julho de 2007
O Futuro da Energia Solar - Uma Visão Menos Otimista
De uns tempos pra cá, o pai anda empolgado com a energia solar. Confesso que até hoje não tinha me dedicado a entender a problemática, simplesmente aceitava o senso comum de que energia solar é limpa, renovável, boa e, por isso, deve ser a energia do futuro.
Hoje, casualmente, me deparei com duas matérias interessantes sobre o assunto que me fizeram, se não reconsiderar, ao menos repensar minhas certezas. Abaixo, minhas considerações.
Na Califórnia, foi aprovada lei para instalar 1 milhão de "tetos solares" nos próximos 10 anos. Muito bom para o comércio dos painéis foto-voltáicos, mas será que causa algum impacto real na matriz energética americana? Além disso, será que movimentar o mercado da energia solar ajuda a alcançar os brakthrough tecnológicos necessários para que a energia solar passe de "boa idéia, bem intencionada" para uma alternativa séria aos problemas energéticos do mundo?
Essas questões são discutidas no artigo do No The New York Times, Solar Power Wins Enthusiasts but Not Money. A matéria mostra como, apesar de ser popular, a energia solar não deve decolar seriamente nos próximos anos. Hoje, a energia solar corresponde a menos de 0,01% do total da energia norte-americana. Essa situação nao deve mudar significativamente ate 2030, salvo grandes descobertas científicas. Dada a quantidade de dinheiro injetada em pesquisa de base na área (US$ 159 milhões no atual ano fiscal, pouco se comparado aos US$ 427 milhóes investidos em pesquisa de energia por queima de carvão), isso nao deve acontecer. Na melhor das hipóteses, estima-se que a parcela de energia solar no portfólio energético dos EUA será de 2% a 3% nas próximas décadas. A grande aposta em fontes renováveis parece ser mesmo o biocombustível - com forte lobby dos estados de base agrícola. Em tempo: o principal problema parece envolver as tecnollgias para armazenamento economicamente viável da energia solar.
Hoje, casualmente, me deparei com duas matérias interessantes sobre o assunto que me fizeram, se não reconsiderar, ao menos repensar minhas certezas. Abaixo, minhas considerações.
Na Califórnia, foi aprovada lei para instalar 1 milhão de "tetos solares" nos próximos 10 anos. Muito bom para o comércio dos painéis foto-voltáicos, mas será que causa algum impacto real na matriz energética americana? Além disso, será que movimentar o mercado da energia solar ajuda a alcançar os brakthrough tecnológicos necessários para que a energia solar passe de "boa idéia, bem intencionada" para uma alternativa séria aos problemas energéticos do mundo?
Essas questões são discutidas no artigo do No The New York Times, Solar Power Wins Enthusiasts but Not Money. A matéria mostra como, apesar de ser popular, a energia solar não deve decolar seriamente nos próximos anos. Hoje, a energia solar corresponde a menos de 0,01% do total da energia norte-americana. Essa situação nao deve mudar significativamente ate 2030, salvo grandes descobertas científicas. Dada a quantidade de dinheiro injetada em pesquisa de base na área (US$ 159 milhões no atual ano fiscal, pouco se comparado aos US$ 427 milhóes investidos em pesquisa de energia por queima de carvão), isso nao deve acontecer. Na melhor das hipóteses, estima-se que a parcela de energia solar no portfólio energético dos EUA será de 2% a 3% nas próximas décadas. A grande aposta em fontes renováveis parece ser mesmo o biocombustível - com forte lobby dos estados de base agrícola. Em tempo: o principal problema parece envolver as tecnollgias para armazenamento economicamente viável da energia solar.
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segunda-feira, 9 de julho de 2007
As Tecnologias da Inteligência
Terminei de ler “As Tecnologias da Inteligência”, de Pierre Lévy. Comprado na Feira do Livro do ano passado, foi um dos poucos livros em português que trouxe para a Itália. Achei que seria uma boa leitura técnica para o Ph.D. Me enganei. Não quanto a ser bom ou ruim, mas quanto a ser técnico.
De modo geral, achei que a Lévy faltou objetividade, talvez o requisito mais importante de uma obra técnica. Quando digo falta de objetividade, me refiro aos longos e, a meu ver, desnecessários devaneios filosóficos que permeiam o texto e afastam o leitor da idéia central. Não que a leitura seja ruim, pelo contrário. É até mesmo poética, em certos trechos. O que, porém, mais uma vez vai de encontro ao que estou acostumado quando penso em livros técnicos, com sua linguagem precisa e concisa. Claro, a culpa – se é que existe – é muito mais minha do que do autor, mas o fato é que houve um claro desalinhamento de expectativas da minha parte com relação a esse livro.
Porém, não foi uma perda total. A idéia central, se é que eu entendi bem, é a de que há uma relação de interdependência pervasiva entre a técnica, ou as tecnologias, e o conhecimento. Conhecimento, porém, não é o termo ideal, pois o conceito que Lévy tenta ilustrar vai além da tipologia de conhecimentos que usualmente encontramos na epistemologia. Assim, o autor refere-se a três Pólos do Espírito do Conhecimento: o pólo da oralidade primária, o pólo da escrita e, o que seria a novidade em 1992, o pólo informático-mediático.
Muitas das analogias e inferências que ele propõe são interessantes, como por exemplo a da percepção do tempo em cada um dos pólos. Neste sentido, a figura do tempo no pólo da oralidade seria um círculo, já que a função primordial das tecnologias da inteligência neste pólo é preservar o conhecimento através da repetição. No pólo da escrita, resolve-se o problema da fixação a partir de tecnologias da inteligência externas, estendendo os recursos da memória, e a figura do tempo passa a ser uma linha, representando a continuidade, a história, a acumulação. As formas canônicas do saber em cada um desses pólos, assim, refletem seus conceitos centrais: o mito, para o pólo da oralidade, e a teoria, para o pólo da escrita.
Porém, por mais interessante que seja a discussão do que seria o novo polo informático-mediático e as novas formas de saber dele advindas, muita coisa se perde por já estar tecnologicamente ultrapassada. Em 1992, ainda não havia a difusão da Internet. Para Lévy, a última palavra em tecnologias informáticas de inteligência era o hipertexto (o que levou a alguns dos devaneios filosóficos mais hardcore do livro, na minha opinião). Porém, apesar da extensão óbvia do hipertexto para a rede de computadores, me parece que Lévy não conseguiu prever o impacto que a rede teria. Obviamente é fácil criticar agora, com o benefício da perspectiva histórica a me ajudar, mas confesso que me decepcionei um pouco com esse aspecto do livro.
De modo geral, achei que a Lévy faltou objetividade, talvez o requisito mais importante de uma obra técnica. Quando digo falta de objetividade, me refiro aos longos e, a meu ver, desnecessários devaneios filosóficos que permeiam o texto e afastam o leitor da idéia central. Não que a leitura seja ruim, pelo contrário. É até mesmo poética, em certos trechos. O que, porém, mais uma vez vai de encontro ao que estou acostumado quando penso em livros técnicos, com sua linguagem precisa e concisa. Claro, a culpa – se é que existe – é muito mais minha do que do autor, mas o fato é que houve um claro desalinhamento de expectativas da minha parte com relação a esse livro.
Porém, não foi uma perda total. A idéia central, se é que eu entendi bem, é a de que há uma relação de interdependência pervasiva entre a técnica, ou as tecnologias, e o conhecimento. Conhecimento, porém, não é o termo ideal, pois o conceito que Lévy tenta ilustrar vai além da tipologia de conhecimentos que usualmente encontramos na epistemologia. Assim, o autor refere-se a três Pólos do Espírito do Conhecimento: o pólo da oralidade primária, o pólo da escrita e, o que seria a novidade em 1992, o pólo informático-mediático.
Muitas das analogias e inferências que ele propõe são interessantes, como por exemplo a da percepção do tempo em cada um dos pólos. Neste sentido, a figura do tempo no pólo da oralidade seria um círculo, já que a função primordial das tecnologias da inteligência neste pólo é preservar o conhecimento através da repetição. No pólo da escrita, resolve-se o problema da fixação a partir de tecnologias da inteligência externas, estendendo os recursos da memória, e a figura do tempo passa a ser uma linha, representando a continuidade, a história, a acumulação. As formas canônicas do saber em cada um desses pólos, assim, refletem seus conceitos centrais: o mito, para o pólo da oralidade, e a teoria, para o pólo da escrita.
Porém, por mais interessante que seja a discussão do que seria o novo polo informático-mediático e as novas formas de saber dele advindas, muita coisa se perde por já estar tecnologicamente ultrapassada. Em 1992, ainda não havia a difusão da Internet. Para Lévy, a última palavra em tecnologias informáticas de inteligência era o hipertexto (o que levou a alguns dos devaneios filosóficos mais hardcore do livro, na minha opinião). Porém, apesar da extensão óbvia do hipertexto para a rede de computadores, me parece que Lévy não conseguiu prever o impacto que a rede teria. Obviamente é fácil criticar agora, com o benefício da perspectiva histórica a me ajudar, mas confesso que me decepcionei um pouco com esse aspecto do livro.
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segunda-feira, 25 de junho de 2007
Museo della Scienza e della Tecnologia Leonardo da Vinci
Ontem Daniela e eu fomos passear em Milano. Visitamos o Museo della Scienza e della Tecnologia Leonardo da Vinci. Queríamos também conhecer a Basílica de Sant'Ambrosio, mas está fechada para restauros até Setembro próximo. De qualquer forma, a visita ao museu já foi de bom tamanho: quase cinco horas de um passeio muito divertido e instrutivo.
Inaugurado em 15 de fevereiro de 1953, o museu ocupa o Monastero di S. Vittore, antigo convento degli Olivetani. A concepção do museu é muito legal: além de muita Ciência e Tecnologia, traz também Arte. A coleção de astronomia, por exemplo, apesar de pequena era bastante rica, e continha globos terrestres e celestes da segunda metade do século XVII e curiosos instrumentos astronômicos do observatório de Brera. Da mesma forma, instrumentos musicais de diversas épocas complementavam a coleção dedicada aos sons, sutilmente alinhando Física e Música.
Gostei também das coleções de transporte, especialmente o pavilhão ferroviário. Ver aquelas locomotivas, navios e aviões faz pensar no esforço que o ser humano tem empreendido, ao longo dos séculos, no aprimoramento da tecnologia. Da mesma forma, as reproduções dos mecanismos projetados por Leonardo da Vinci fazem pensar na inventividade do gênio humano. Inventividade e genialidade que se mostram, também, no Astrario del Dondi, exposto na sessão de orologeria. Daniela certamente falará mais sobre ele no Baile no Céu.
De negativo, o fato de que os laboratórios estavam todos fechados, talvez porque era domingo. Em especial, me interessavam os laboratórios de Telecomunicazioni, Internet e Movimento. Também fiquei muito chateado por não ter conseguido visitar o sottomarino Enrico Toti, talvez a mais interessante atração do museu. Finalmente, fiquei decepcionado com o fato de que duas sessões que prometiam muito estavam fechadas para allestimento: a de Trasporti Aerei (embora houvesse aviões a reação expostos no exterior do pavilhão) e Telecomunicazioni.
Como sempre, fotos no nosso álbum.
Inaugurado em 15 de fevereiro de 1953, o museu ocupa o Monastero di S. Vittore, antigo convento degli Olivetani. A concepção do museu é muito legal: além de muita Ciência e Tecnologia, traz também Arte. A coleção de astronomia, por exemplo, apesar de pequena era bastante rica, e continha globos terrestres e celestes da segunda metade do século XVII e curiosos instrumentos astronômicos do observatório de Brera. Da mesma forma, instrumentos musicais de diversas épocas complementavam a coleção dedicada aos sons, sutilmente alinhando Física e Música.
Gostei também das coleções de transporte, especialmente o pavilhão ferroviário. Ver aquelas locomotivas, navios e aviões faz pensar no esforço que o ser humano tem empreendido, ao longo dos séculos, no aprimoramento da tecnologia. Da mesma forma, as reproduções dos mecanismos projetados por Leonardo da Vinci fazem pensar na inventividade do gênio humano. Inventividade e genialidade que se mostram, também, no Astrario del Dondi, exposto na sessão de orologeria. Daniela certamente falará mais sobre ele no Baile no Céu.
De negativo, o fato de que os laboratórios estavam todos fechados, talvez porque era domingo. Em especial, me interessavam os laboratórios de Telecomunicazioni, Internet e Movimento. Também fiquei muito chateado por não ter conseguido visitar o sottomarino Enrico Toti, talvez a mais interessante atração do museu. Finalmente, fiquei decepcionado com o fato de que duas sessões que prometiam muito estavam fechadas para allestimento: a de Trasporti Aerei (embora houvesse aviões a reação expostos no exterior do pavilhão) e Telecomunicazioni.
Como sempre, fotos no nosso álbum.
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quinta-feira, 31 de maio de 2007
Os artigos do Prof. Lubatkin
Não atualizei o blog nos últimos dias por conta do imenso volume de leitura para as aulas do doutorado. Já li 15 artigos em 4 dias, e ainda tenho mais 4 para amanhã. Estou fazendo um curso de curta duração com o Prof. Michael Lubatkin, da University of Connecticut e EM Lyon. O curso é sobre Business Strategies (diversos temas específicos, de family and privately-held firms a Entrepreneurship, passando por acculturation e mergers & acquisitions), mas o Prof. Lubatkin traz muito da experiência dele com escrita e avaliação de artigos científicos nos seminários. Tem sido muito construtivo, mas também muito trabalhoso.
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