segunda-feira, 9 de julho de 2007

As Tecnologias da Inteligência

Terminei de ler “As Tecnologias da Inteligência”, de Pierre Lévy. Comprado na Feira do Livro do ano passado, foi um dos poucos livros em português que trouxe para a Itália. Achei que seria uma boa leitura técnica para o Ph.D. Me enganei. Não quanto a ser bom ou ruim, mas quanto a ser técnico.

De modo geral, achei que a Lévy faltou objetividade, talvez o requisito mais importante de uma obra técnica. Quando digo falta de objetividade, me refiro aos longos e, a meu ver, desnecessários devaneios filosóficos que permeiam o texto e afastam o leitor da idéia central. Não que a leitura seja ruim, pelo contrário. É até mesmo poética, em certos trechos. O que, porém, mais uma vez vai de encontro ao que estou acostumado quando penso em livros técnicos, com sua linguagem precisa e concisa. Claro, a culpa – se é que existe – é muito mais minha do que do autor, mas o fato é que houve um claro desalinhamento de expectativas da minha parte com relação a esse livro.

Porém, não foi uma perda total. A idéia central, se é que eu entendi bem, é a de que há uma relação de interdependência pervasiva entre a técnica, ou as tecnologias, e o conhecimento. Conhecimento, porém, não é o termo ideal, pois o conceito que Lévy tenta ilustrar vai além da tipologia de conhecimentos que usualmente encontramos na epistemologia. Assim, o autor refere-se a três Pólos do Espírito do Conhecimento: o pólo da oralidade primária, o pólo da escrita e, o que seria a novidade em 1992, o pólo informático-mediático.

Muitas das analogias e inferências que ele propõe são interessantes, como por exemplo a da percepção do tempo em cada um dos pólos. Neste sentido, a figura do tempo no pólo da oralidade seria um círculo, já que a função primordial das tecnologias da inteligência neste pólo é preservar o conhecimento através da repetição. No pólo da escrita, resolve-se o problema da fixação a partir de tecnologias da inteligência externas, estendendo os recursos da memória, e a figura do tempo passa a ser uma linha, representando a continuidade, a história, a acumulação. As formas canônicas do saber em cada um desses pólos, assim, refletem seus conceitos centrais: o mito, para o pólo da oralidade, e a teoria, para o pólo da escrita.

Porém, por mais interessante que seja a discussão do que seria o novo polo informático-mediático e as novas formas de saber dele advindas, muita coisa se perde por já estar tecnologicamente ultrapassada. Em 1992, ainda não havia a difusão da Internet. Para Lévy, a última palavra em tecnologias informáticas de inteligência era o hipertexto (o que levou a alguns dos devaneios filosóficos mais hardcore do livro, na minha opinião). Porém, apesar da extensão óbvia do hipertexto para a rede de computadores, me parece que Lévy não conseguiu prever o impacto que a rede teria. Obviamente é fácil criticar agora, com o benefício da perspectiva histórica a me ajudar, mas confesso que me decepcionei um pouco com esse aspecto do livro.

2 comentários:

Daniela Scheifler disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Daniela Scheifler disse...

Algo me diz que eu vou gostar desse livro...8-))))