sexta-feira, 18 de maio de 2007

Os personagens do hospital

Ontem a Daniela comentou que meu blog está muito sério. Bom, talvez seja porque estou passando por um período de seriedade. Para quebrar com essa seriedade, vou contar alguns "causos" que presenciei no hospital de Novara.

(Para quem chegou agora, fiquei 10 dias internado por conta de uma trombose venosa profunda na perna esquerda. O atendimento foi excelente, os médicos e enfermeiros prestativos e atenciosos, o tratamento top de linha e ainda por cima, gratuito! Agora estou em casa, me recuperando. Nas próximas semanas vou a Milano investigar a fundo a causa dessa trombose.)

Nesses 10 dias, ocupei o leito 17. Eram três leitos por quarto. Acho que o sujeito mais engraçado foi o Sr. P. R., do leito 15. Mesmo sofrendo de pressão alta e insuficiência renal, o Sr. R. fazia questão de encher a comida de sal, fazendo uso de um saleiro que tinha escondido na mesinha de cabeceira. A Daniela deu uma de dedo-duro e chegou a alertar a médica, mas nada do Sr. R. parar com o sal extra. Ele reclamava muito da qualidade da comida: "devono andare in galera quelli che fanno questa pasta!" (algo como "tem que botar na prisão quem fez essa massa"), dizia. Mas devo confessar que não achei nada mal o cardápio. Até bacalhau comi.

O autor do maior número de "causos" sem dúvida foi o Sr. S. L., do leito 16. Internado em 29 de abril depois de uma queda, estava sofrendo de abstinência de álcool. Vale lembrar que aqui na Itália todo mundo é chegado num vinhozinho... Mas o Sr. L., aos 79 anos, exagerou.

Para controlar a agitação dele, os médicos o mantiveram em sedação quase permanente por vários dias. Nos momentos que acordava, seus delírios eram hilários. Certa vez, às três da manhã, aos gritos chamou um de seus empregados para que o ajudasse a se levantar do leito: "Luigi, Luigi!! Aiuto!!!". Ficou uns cinco minutos gritando, acordando todo o hospital. Quando a senhora que cuidava dele respondeu que não havia ninguém ali, decepcionado, o Sr. L. perguntou: "Ma porco zio, Luigi, dove sei?". Na madrugada seguinte, novamente queria a todo custo descer do leito. Diante das negativas das enfermeiras, mandou chamar os carabinieri para que pudesse prestar queixa! Interessante que ele tinha essas crises de querer descer da cama sempre durante a noite, mas de dia dormia que nem um anjo. Menos na quinta-feira, quando passou o dia todo lúcido e acordado. Chegou até passar a mão na bunda da enfermeira. Perguntaram para ele se ele era um homem de vícios, ao que respondeu que seu pior vício era "fazer amor".

Curioso também é como os italianos mesclam bom humor e formalidade. Os médicos, por exemplo, eram profissionais e corteses, mas definitivamente não eram sérios. Durante uma das visitas matinais diárias, ficaram um bom tempo discutindo, bem humorados, o que aconteceria se misturassem um Barbiera no soro do Sr. L. Forse lo farà benne?

Depois do Sr. R., o leito 15 foi ocupado pelo Sr. F. R. Uma figura. Cabelos compridos, bigodão enorme a la Garibaldi. Tanto ele quanto a família pareciam saídos de um pôster do Grateful Dead. Cada um que a gente encontra aqui na Itália...

Em resumo, os dias no hospital foram bem angustiantes, mas também muito divertidos!

3 comentários:

Daniela Scheifler disse...

Podias ate contar mais coisas. A tua estada nos hospital teve varios desses causos hilarios, como aquele em que o Sr do leito 16 sentindo que a sua "cuidante" da noite o tratava muito mal, lançou essa para se defender: "Attenta! Io sono un uomo pericoloso" ( olha que eu sou um homem perigoso). A tal cuidante parecia mais uma bruxa de hsitorias de contos de fadas(sem exageros!) E eu, dando uma de dedo duro mais uma vez , avisei o filho do Sr do leito 16 que a senhora que o cuidava a noite nao era la muito gentil. O trabalho sujo alguem tem que fazer ne?
beijocas

luko disse...

muito interessante os case do hospital eles retratam o que se ve nos filmes de Fellini comedia e tragedia de un povo maravilhoso que é uma mistura de irreverencia e humor tudo regado a muito amor e carinho O CASE DO VELHINHO A SUA FRASE NÃO FOI PORCO ZIO MAS PORCO DIO blasfemia muito usado na Italia pais comandado pela igreja catolica com culpa e medo moldando a personalidade do povo com amor e compreensão tamben

Anônimo disse...

Gostei muito do blog e do texto..escreves muito bem!