domingo, 12 de agosto de 2007

O Futuro Antiutopista de Philip K. Dick: A Scanner Darkly

Ontem, Daniela e eu assistimos ao filme A Scanner Darkly (em português, O Homem Duplo). Adaptação (fiel) de um romance semi-autobiográfico de Philip K. Dick (o autor por trás da inspiração para Blade Runner e Minority Report), o filme de 2006 foi dirigido por Richard Linklater e traz no elenco nomes conhecidos como Keanu Reeves, Winona Ryder, Woody Harrelson, Robert Downey Jr. e Rory Cochrane.

A história se passa em um futuro próximo, nos EUA, onde uma nova droga altamente viciante toma conta das ruas: a Substância D. Agentes policiais a paisana investigam o submundo dos narcóticos e, eventualmente, acabam por se misturar a eles. O personagem principal, Bob Arctor, é um desses policiais. Ele faz parte de um núcleo de consumidores de Substância D e tem como missão identificar seus fornecedores. Ao mesmo tempo, deve lidar com a dependência de Substância D, dificuldades amorosas e o trabalho no Departamento de Polícia, onde os policiais infiltrados utilizam vestes especiais para ocultar suas identidades até mesmo dos colegas.

Evidentemente, o que move o enredo é a paranóia. No caso, a paranóia típica de um policial infiltrado vivendo uma segunda vida é catalizada pela paranóia induzida pelas drogas. O resultado é uma sensação de questionamento da realidade, refletida no estilo de imagens único obtido com a aplicação de uma técnica de animação conhecida como rotoscopia interpolada. As animações trazem vida às ilusões e alucinações dos personagens, focalizando o fato de que nada é como parece e nem tudo deve ser considerado real. Enquanto vigia a si mesmo e seus companheiros de drogas, aumenta o desorientamento de Bob, que começa a questionar também sua identidade. Os conflitos internos do personagem são centrais na obra, conforme ilustrado nas visitas que faz aos médicos do Departamento de Polícia que monitoram os efeitos deletérios da dependência de drogas.

Como mencionei antes, o romance de Philip Dick em que Linklater se baseou para escrever o roteiro é semi-autobiográfico. As referências a problemas sociais que ganhavam importância nos anos 60, como consumo de drogas e intrusão do governo na privacidade dos cidadãos, se misturam a problemas pessoais de Dick, que vivia em uma espécie de comunidade com adolescentes usuários de drogas, foi viciado em anfetaminas e tinha sérias dificuldades em seus relacionamentos amorosos. O resultado é um filme interessante e curioso, com excelentes atuações e um tom noir melodramático que reflete muito bem as temáticas de decadência, desorientação, paranóia extrema e, até mesmo, escapismo.

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