sexta-feira, 1 de junho de 2007

Bill Gates ofusca a embaixada sueca... por enquanto

Ontem, escrevi sobre a abertura de uma embaixada da Suécia no Second Life. Achei que aquela era a mais relevante e curiosa notícia da área de TI do dia. Porém, parece que não foi essa a opinião geral. Os refletores estavam todos direcionados para Bill Gates e seu computador touch-screen. Quando cheguei em casa, inclusive, Daniela comentou sobre o novo gadget da Microsoft, que ganhou matéria própria no telejornal.

O fato é que realmente não vi nada de muito revolucionário no lançamento da Microsoft. Trata-se, me parece, de apenas uma melhoria incremental no conceito de touch-screens, incorporando aspectos de comunicação wireless de modo a permitir integração com outros aparelhos eletrônicos - como os exemplos da camêra digital e do celular colocados sobre o computador. Nada que me fizesse pensar "puxa, que gênios!". Hoje, para minha surpresa, li um editorial no The New York Times online que concorda comigo. Um trecho:

"There is nothing inherently strange or groundbreaking about flatness or horizontality or touch as an input device or even the illusion of actuality in the objects that appear on a computer screen. After all, we’ve been dragging and dropping for years, not to mention pretending that files are, well, files. What is a little uncanny is the idea of a two-dimensional screen recognizing three-dimensional objects that come in contact with it, though for the moment these are likely to be cellphones or P.D.A.’s, which seem themselves to be on the verge of becoming sentient. Perhaps only when Surface becomes widespread will it be clear what the keyboard and the mouse are really for: to keep your fingerprints off the screen."


Por outro lado, a embaixada virtual da Suécia me pareceu muito mais ground-breaking. Tenho a impressão de que, em alguns (arrisco a dizer poucos) anos, mundos virtuais serão bastante comuns, coisa do dia-a-dia. Já hoje jogos multi-player como World of Warcraft atraem públicos de centenas de milhares, se não milhões, de usuários, que estabelecem relações sociais de diversos tipos tendo como pano de fundo um cenário virtual imersivo, ainda que não exatamente realista. Realista, em termos, é o que prometem as iniciativas do tipo Second Life. Realista a ponto de trazer para os mundos virtuais não apenas entusiastas de jogos, mas também usuários normais de internet, que já estão acostumados a ver quem "está online" no MSN ou no Skype assim que conectam. Realista por fazer uso de um pano de fundo facilmente associável ao mundo real: prédios, ruas, escritórios, lojas e... embaixadas!

Essa virtualização da realidade deve provocar, em nível individual, mudanças profundas em termos comportamentais e, quem sabe, cognitivas. Talvez até fundamentos para repensarmos o que é realidade. Os avatares e as identidades virtuais permitem exatamente uma Second Life, uma segunda chance, uma nova vida mais de acordo com o que gostaríamos de ser, em oposição ao que somos na vida real. Pode ser um encarado como um refúgio para nerds e desajustados sociais, mas também como uma válvula de escape, uma oportunidade de catarse.

Em nível de sociedade, também vejo impactos: novos mercados serão criados para as empresas e novas regras sociais terão de ser desenvolvidas, para ficar apenas no básico. Organizar a sociedade virtual assume outro senso, mais complexo e mais completo. Neste sentido, um país reconhecer (ainda que informalmente) essa tendência de virtualização a ponto de organizar uma representação diplomática me parece bastante relevante. E, me atrevo a dizer, isso é apenas o início.

Um comentário:

Blandine disse...

Eu li, acho que numa revista, ano passado, que uma em cada 800 pessoas no mundo estava jogando World of Warcraft. Não sei se o Second Life é diferente por se propor, mais ou menos, a simular uma vida real e, por isso, servir como uma segunda chance pra alguém descontente com a vida aqui, de fato. Eu já conheci gente tão ligada a um computador que, em alguns momentos, você deixa de acreditar que trata-se de um ser físico. Esse negócio de MMO é muito, muito sinistro! :P